Artes africanas e do Cararibe

Notícia : Artes africanas e do Cararibe

Gramiro de Matos: arqueologia de um autor 'impenetrável'

RIO — O editor e pesquisador Leonardo d'Ávila chegou à obra de Gramiro de Matos graças a um esforço coletivo da Universidade Federal de Santa Catarina para reler autores que poderiam ser identificados como pós-tropicalistas. O autor baiano, que participou tardiamente do movimento junto com Waly Salomão, Torquato Neto e outros, andava completamente esquecido. Nos anos 1970, ele lançou livros elogiados pela crítica, como "Urubu-Rei" e "Os morcegos estão comendo mamãos maduros", que desafiavam a leitura por seu experimentalismo intransigente. Em seguida, foi estudar em Portugal e saiu do radar. O livro do autor que d' Ávila reedita agora, pela Cultura e Barbárie, é uma obra obscura e rara do autor, "A conspiração dos Búzios". Publicada originalmente em 1978, só havia ganho até então uma versão artesanal.

Gramiro, inclusive, andava tão esquecido que nem mesmo seus amigos próximos lembravam dele. O editor só conseguiu contatá-lo após uma busca online — encontrou-o graças a um comentário que havia feito em uma reportagem na internet. A partir daí, veio a ideia de relançar o livro, que acaba de chegar às livrarias. Em entrevista ao GLOBO, Leonardo d'Ávila explica a importância de recuperar a obra de Gramiro de Matos, quase 40 anos após seu lançamento.

Depois da edição original publicada de forma artesanal, o livro nunca mais foi reeditado? Qual foi a repercussão do livro na época?

O livro foi publicado em 1978 apenas em uma edição artesanal e pouquíssimo conhecida, a qual contou com uma capa magistral elaborada por Mário Cravo Neto. Contudo, a raridade da edição não foi a única responsável pela pouquíssima repercussão à época, haja vista que seus outros livros publicados também não tiveram grandes tiragens e, mesmo assim, conseguiram alguma visibilidade no cenário cultural brasileiro, como "Urubu-Rei", de 1972. Possivelmente, mais do que pela raridade do livro, a pouca difusão pode ter ocorrido pelo fato do autor ter se afastado do Brasil e de seus meios artísticos durante seu doutorado entre Portugal e a África de língua portuguesa (1974-1978). No mais, à época da edição artesanal, o regime militar ainda estava em plena vigência e, em momentos como aquele, a recepção de um livro, ainda que não estivesse necessariamente impossibilitada, tornava-se muito imprevisível. De qualquer modo, é interessante destacar como alguns elementos do livro, a exemplo da descolonização e da menção de ideias de negritude, tenham se dado em concomitância com os Cadernos Negros do grupo Quilombhoje, que passou a reivindicar uma literatura afro-brasileira. Ainda que haja infinitas diferenças entre a obra de Gramiro e a desses autores afro-brasileiros, não se pode negar que são diferentes manifestações de uma mesma atmosfera cultural. Portanto, mesmo que não tenha sido conhecido pelo leitor brasileiro nos anos 70, não seria possível dizer que "A Conspiração dos Búzios" foi um trabalho isolado ou fora de contexto.

"Romance histórico" é um termo correto para definir de "A conspiração dos búzios"?

A princípio, não seria possível reconhecê-lo enquanto tal. Isso porque o autor não trata de personagens médios dentro de uma dinâmica social que termina por tornar protagonista. Como retrata com minuciosidade os heróis da Revolução dos Búzios (também conhecida como Revolução dos Alfaiates, Conjuração Baiana, etc), haveria até certa tonalidade épica, a qual se desfaz completamente quando surgem documentos oficiais do século XVIII ao lado de jogos de adivinhações. Além disso, o próprio termo romance já seria impróprio quando o livro apresenta divisões como um roteiro cinematográfico. Ainda assim, o termo romance histórico é importante enquanto um fundamento paródico para essa prosa fragmentária, própria de um contexto de contracultura. Há de se reforçar, assim, o esforço jocoso para jogar com esse gênero literário. Entretanto, ainda que haja paródia e certo formalismo na linguagem, a maior força da literatura de Gramiro de Matos se dá na expressividade da fragmentação na língua, na descrição dolorosa de violências que nunca se ausentaram da história do Brasil e no choque de padrões estéticos mediante experimentação. Todos esses desdobramentos na língua, nas narrativas históricas e nos gêneros literários possuem uma inegável historicidade.

Antes de ir para a África, qual era o lugar de Gramiro no movimento tropicalista?

Gramiro participou do movimento, mas foi um dos mais jovens do grupo no Rio de Janeiro, sendo um autor que começou a publicar quando o tropicalismo já estava em um momento de crise. Nesse aspecto, seu segundo livro, Os morcegos estão comendo os mamãos maduros, de 1973, já manifesta uma linguagem mais marcada pela violência do que pela “curtição”. "Me segura q’eu vou dar um troço", de Wally, em grande parte, também possui essa característica, a qual, aproximada a um trabalho igualmente complexo com a língua, contribuiu para uma aproximação de ambos os autores pela crítica. O trabalho mais significativo nesse sentido foi o de Silviano Santiago, que, em Uma literatura nos trópicos, dedicou um capítulo aos “abutres” Wally e Gramirão, tratando-os com igualdade de importância ou de valor. Ainda assim, Gramiro foi considerado sempre o autor mais impenetrável por boa parte dos próprios poetas marginais. Inclusive em uma rápida conversa que tive com Chacal no ano passado, o poeta afirmou ter muita dificuldade para compreender Gramiro e que não se identificava com tamanho experimentalismo. Por isso, Gramirão, como era conhecido, teve um lugar de destaque no tropicalismo e na literatura marginal, ainda que esse lugar tenha sido o de “autor incompreensível”, o que também pode ter contribuído para a sua menor projeção, não apenas em relação ao público ou à crítica, mas entre seus próprios companheiros. Possivelmente "A Conspiração dos Búzios", escrito em uma prosa um pouco mais convencional, poderá relativizar esse preconceito.

A questão da língua como forma de resistência, e a relação entre colonizadores e colonizados através da língua, são importantes na obra de Gramiro, em especial na "Conspiração dos Búzios". Outros escritores de língua portuguesa foram tão longe quanto ele nesse aspecto?

Em relação à criação artística, pode-se dizer que há outros que se destacam tanto quanto ele. Isso porque as ex-colônias portuguesas foram verdadeiras “Mecas” para a contracultura brasileira tanto quanto a Índia ou o Marrocos o foram para a contracultura de outros países. Um dos maiores autores a produzir na África uma arte dionisíaca – ou melhor, de Exu – foi José Agrippino de Paula, cujas filmagens das danças de Maria Esther Stockler, se não são representações do processo de descolonização, certamente são vestígios da importância da contracultura enquanto um dispositivo de aproximação entre Brasil e África nos anos 60 e 70. Já em relação a estudos acadêmicos, há, sim, uma importância única da parte de Gramiro de Matos. Sua tese doutoral, financiada pela Fundação Caloustre Gulbenkian, investigou os impactos da poesia brasileira modernista dentro das literaturas de países africanos de língua portuguesa e é razoavelmente conhecida por pesquisadores desse ramo de estudo. Certamente os conceitos e métodos da literatura comparada mudaram bastante desde aquela época e existem trabalhos mais detalhados sobre o mesmo tema. Ainda assim, o trabalho de Gramiro é singular e insuperável no fato de haver sido realizado em contato direto com poetas africanos em meio às próprias lutas de descolonização.

Pretende editar outros livros de Gramiro fora de catálogo?

"A Conspiração dos Búzios" era uma lacuna da obra de Gramiro que necessitava passar por um processo de editoração e divulgação para ser finalmente conhecida pelo leitor brasileiro. Há grande interesse no relançamento de "Urubu-Rei" e de "Os morcegos estão comendo mamãos maduros". Tais edições certamente se justificariam pela própria possibilidade da inclusão de textos que não fizeram parte daquelas edições, mas que compunham a coletânea original. Ainda assim, as reedições teriam de respeitar o fato de Gramiro ser um autor vivo, não sendo cabível enquadrar sua obra enquanto material de arquivo ou edição crítica. No mais, o interesse renovado pelo sucesso de vendas de Leminski ou Ana C., e seus laços com Gramiro, tanto ajudam quanto comprometem a promoção de um escritor que ainda pode publicar novos textos.

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No Porto, instituto que preserva memória da escravidão pode fechar

RIO — A primeira vez em que a carioca Merced Guimarães, de 60 anos, esteve na casa da Rua Pedro Ernesto 36, na Gamboa, foi em 1988, ano do centenário da abolição da escravatura no Brasil. Ao bater os olhos no imóvel, uma construção de 1866, com o pé-direito alto, ela e o marido ficaram encantados e acabaram comprando a propriedade dois anos depois. Mal podiam imaginar que, durante a reforma da residência, em 1996, descobririam que estavam vivendo sobre sepulturas de escravos. Era o Cemitério de Pretos Novos, onde, entre 1779 e 1830, eram enterrados os africanos mortos na chegada ou durante a viagem de navio até o Porto do Rio. Por causa de sua importância histórica, o lugar foi transformado no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN).

O roteiro da pequena áfrica

Apesar da riqueza histórica, o instituto corre o risco de fechar as portas. Merced Guimarães contou que, no início do mês, foi comunicada pela direção da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (CDurp), órgão da prefeitura, que o convênio que previa o repasse de cerca de R$ 6 mil mensais para o custeio da casa não será renovado. A companhia informou que “vai reposicionar seus contratos" após análise dos orçamentos de 2017 e 2018.

Segundo o arqueólogo Reinaldo Tavares, que desde 2008 faz pesquisas no Pretos Novos, é difícil estimar quantas pessoas foram enterradas naquele terreno que tinha o tamanho de um campo de futebol. O que restou de um livro de anotações da época mostra que, somente entre 1824 e 1830, aconteceram 6.122 sepultamentos de escravos, de acordo com registros do Arquivo Geral da Cidade do Rio. Não havia lápides, e os corpos eram colocados em covas coletivas.

RELÍQUIAS HISTÓRICAS

Para a historiadora Martha Abreu, além do cemitério, que ajudou a desenterrar a história da Pequena África na década de 1990, a região do Porto tem pelo menos outros 17 endereços que merecem ser visitados. Uma relíquia histórica obrigatória para saber mais sobre esse período é o Cais do Valongo, candidato a Patrimônio da Humanidade. Outro, diz ela, é o Jardim Suspenso do Valongo.

— Além da beleza do jardim, temos ali uma casa do início do século XIX, considerada a única casa de venda de africanos não demolida pelas obras de Pereira Passos. Sem contar que a vista lá de cima é incrível: dá para ver os morros do Livramento e da Providência e o relógio da Central do Brasil — comenta Martha, uma das autoras do projeto “Passados presentes: memória da escravidão no Brasil", que traça um roteiro histórico no estado sobre esse período (http://passadospresentes.com.br).

Na região da Pequena África, o “Passados Presentes” sugere um percurso de cerca de três horas, a partir do Museu de Arte do Rio (MAR), seguindo pelo Largo da Prainha e por ruas da Saúde e da Gamboa. A lista inclui a Pedra do Sal, a Praça dos Estivadores e o prédio da Docas Dom Pedro II, hoje sede da Ação da Cidadania, feito por André Rebouças, um engenheiro negro que proibiu uso de mão de obra escrava nas construções.

— Vale visitar também a Associação Chora Macumba, entidade carnavalesca que funcionou na Rua Barão de São Félix no início do século XX, e o Mercado de Escravos da Prainha, no atual Largo de São Francisco da Prainha — indica Martha Abreu.

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Graveola lança disco com show neste domingo no Rio (webremix.info)


Questões de raça e de identidade guiam a 4ª MITsp

SÃO PAULO — Após contornar uma queda orçamentária de meio milhão de reais, a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) superou o susto e coloca de pé a sua 4ª edição a partir de hoje. A abertura será em grande estilo, com obras criadas por dois grandes expoentes das artes cênicas contemporâneas, o diretor e coreógrafo belga Alan Platel e o diretor e dramaturgo libanês Rabih Mroué. Caberá ao primeiro a abertura oficial da Mostra, no Municipal de São Paulo, que receberá a peça-concerto "Avante, marche!" numa sessão para convidados — a montagem fará mais duas récitas na quarta e na quinta-feira. Já Mroué apresentará no Sesc Vila Mariana, em sessão aberta ao público, a peça "Tão pouco tempo", a primeira das três obras que ele encena na cidade até sábado — além de "Tão pouco tempo", Mroué dirige "Revolução em pixels" (dias 15 e 16/3) e "Cavalgando nuvens" (dias 17, 18 e 19/3).

— Estamos tentando trazer o Rabih desde a primeira edição, e agora decidimos criar uma mostra especial dedicada ao seu repertório — diz o diretor artístico da Mostra, Antônio Araújo. — Em "Tão pouco tempo" ele reflete sobre o que é ser um mártir, sobre parte da cultura muçulmana. Já em "Revolução..." o que se vê é uma palestra-performance que aborda o conflito na Síria, e em "Cavalgando nuvens" temos a história do irmão do Rabih, que está em cena e revela a sua história, as sequelas das guerras do Líbano. Então são peças que conectam histórias pessoais com a história desses países, o macro e o micro, a relação entre a vida das pessoas e as situações políticas de países como a Síria e o Líbano.

No Brasil desde a semana passada, para a realização de um workshop, o encenador libanês diz que as três obras selecionadas para a Mostra refletem sobre "questões ligadas à representação", diz.

— Falo de representação em diferentes níveis, seja a representação teatral propriamente dita, ou também a representação de um cidadão, de cidadania, de um país — diz. — Em "Tão pouco tempo", crio uma história ficcional, que investiga um mártir fictício. É uma peça que investiga a noção de mártir, o significado dessa palavra, assim como os reflexos dos discuros comunitários, patrióticos, tentando compreender seus efeitos em uma comunidade e em seus habitantes, em suas singularidades, em como estes discursos comunitários podem aniquilar as identidades pessoais, individuais.

'ATO DE RESISTÊNCIA'

Diretor artístico da Mostra, Antônio Araújo considera realização da MITsp em 2017 um "ato de resistência" diante do recuo de investidores — alguns deixaram de patrocinar o evento, enquanto outros mantiveram seus apoios, embora com verbas mais enxutas. Com orçamento final de R$ 2,9 milhões — em 2016 a Mostra contou com R$ 3,4 milhões —, a MITsp apresentará até o próximo dia 21 um programa com a mesma estrutura dos anos anteriores, ou seja: além da mostra de espetáculos, com dez criações — em 2016 foram 11 —, haverá um substancial programa de atividades pedagógicas, com seminários, ciclos de debates, workshops e residências artísticas. Para 2017, a MITsp estabeleceu três eixos curatorias: linguagens híbridas, teatro documentário e o protagonismo negro — para cada um desses recortes, o festival trará obras e artistas vindos de países como Alemanha, Chile, Líbano, Bélgica, África do Sul e também do Brasil.

— As questões que envolvem o racismo, o preconceito e a exclusão estão no centro de algumas peças nacionais que farão a sua estreia no festival, assim como serão temas debatidos nas atividades pedagógicas da MIT — diz Araújo. — Nesse sentido, estamos dando sequência a uma investigação iniciada no ano passado, quando abrimos espaço para ações e palestras que refletiam sobre o lugar do negro na cena contemporânea. Naquele ano, o ápice desse processo foi a realização da performance "Em legítima defesa", com um grupo de jovens atores e atrizes negras que tomaram a plateia do Municipal. Depois disso, esses artistas acabaram consolidando um grupo, o Legítima Defesa, e agora eles retornam para apresentar um trabalho inédito, que é a primeira criação desse coletivo.

O Legítima Defesa apresentará “A missão em fragmentos: 12 cenas de descolonização em legítima defesa” (dias 17, 18 e 19/3, no Auditório Ibirapuera), uma criação dirigida por Eugênio Lima e inspirada no texto "A missão — Lembranças de uma revolução", de Heiner Müller. Além dessa obra, a MITsp apresenta “Black Off”(Black Off), da performer sul-africana Ntando Cele (dias 18, 19, 20 e 21/3, no Itaú Cultural), a peça “Branco — O cheiro do lírio e do formol” (dias 17, 18 e 19/3, no CCSP), com dramaturgia de Alexandre Dal Farra, além do seminário “Discursos sobre o não dito: racismo e a descolonização do pensamento", com curadoria de Eugênio Lima e Majoí Gongora, que será dividido em duas mesas: "Negritude e Branquitude: complexificando as discussões sobre raça e as estruturas de privilégio" (dia 20), e "Feminismo Negro: conhecimento e autodeterminação" (dia 21), no Itaú Cultural.

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Unidos de Vila Maria aposta em desfile sem nudez para levar o título

SÃO PAULO - Nem a miss bumbum 2017 Erika Canela teve licença para exibir seu principal atributo no Anhembi, na primeira noite de desfiles das escolas de samba do grupo especial. Passista da Unidos de Vila Maria, que emocionou a avenida com o samba enredo sobre os 300 anos da descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida, Erika foi à passarela do samba de calça. Para se adequar aos preceitos religiosos, a Vila Maria evitou a nudez e aboliu erotismos. Também dispensou a tradicional figura da "rainha de bateria". Para a escola, rainha só a própria Nossa Senhora.

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Logo na abertura do desfile, a ala das baianas enchia os olhos dos foliões, com mulheres cobertas com o manto azul e a coroa dourada da santa. A estratégica paradinha da bateria fez ecoar pela passarela o refrão "ó senhora, ó senhora". Era como se todo o Anhembi estivesse em oração. Como exemplo dos milagres da padroeira do Brasil, a escola trouxe uma passista com perna mecânica para sambar. Ao final da participação, integrantes entregavam rosas ao público. A Vila Maria recebeu a benção da Igreja Católica, historicamente refratária à utilização de seus símbolos pelos carnavalescos e terminou seu desfile, luxuoso e sem falhas, como uma das favoritas a faturar o título de campeã.

Se a Vila Maria se esquivou de polêmicas e da nudez, a Unidos do Tucuruvi instalou o debate na passarela. Com o samba-enredo "Eu sou a arte: meu palco é a rua", a escola homenageou grafiteiros e pichadores da capital paulista. Corpos de mulheres nuas viraram telas para pichações, que também estavam presentes nos carros alegóricos. O tema tornou-se explosivo depois que, recém-empossado, o prefeito João Doria mandou apagar grafites dos muros da cidade e declarou guerra à pixação. O assunto foi escolhido como mote pela escola ainda em 2016, antes que entrasse na agenda política de São Paulo.

- Os grafiteiros eu aplaudo, os pichadores, não! - afirmou Doria, que foi embora do Anhembi antes que a Tucuruvi desfilasse. O prefeito deixou de ver a mistura de samba com arte de rua apresentado pela agremiação. Monociclo, trapezistas, bailarina pendurada pelos cabelos, motociclistas no Globo da Morte eram algumas das atrações da Tucuruvi.

A Tom Maior, vice-campeã do grupo de acesso no ano passado, conseguiu roubar do tradicional bloco Galo da Madrugada, no Recife, a cantora Elba Ramalho. Elba desfilou carregada em um andor enquanto a escola toda sambava em sua homenagem.

- Recife eu tenho há muitos e ainda terei por muitos outros, mas isso é algo único, eu tinha que vir. Estou muito emocionada - disse, ainda na concentração, com dificuldade para conter as lágrimas.

Embora os integrantes da escolas tivessem o samba bem decorado, a apresentação da escola teve ao menos uma falha grave. A cabeça de uma escultura de cavalo, acoplado a um dos carros alegóricos, desmontou e atravessou o Anhembi pendente. A agremiação também pode perder pontos na evolução, já que o segundo carro enguiçou no momento de entrar.

A Mocidade Alegre fez uma homenagem a si mesma, pelos 50 anos da agremiação. O samba enredo, no entanto, não empolgou o público. Os carros Alegóricos e fantasias, porém, tinham acabamento impecável.

Quarta escola a se apresentar, a Acadêmicos do Tatuapé, vice-campeã do ano passado, levantou o público com suas longas paradinhas da bateria. O samba enredo "Mãe África" foi rapidamente assimilado pelas arquibancadas. A fina garoa que começou no fim da passagem da Tatuapé não ofuscou o brilho da escola.

A Gaviões da Fiel pintou de preto e branco as arquibancadas. Antes da entrada da escola, um integrante distribuiu bandeiras à plateia. A Gaviões trouxe carros grandiosos ao desfile, com muitos efeitos especiais, para contar a história dos migrantes que ganharam a vida em São Paulo. No abre-alas, o gavião símbolo da escola abria as asas sobre o Anhembi. A agremiação, no entanto, apresentou uma série de problemas com suas fantasias. Uma passista destaque de solo chegou a arrumar o enfeite de penas das costas em frente aos jurados desse quesito e outra destaque de carro alegórico teve problemas nos calçados e passou parte do desfile sentada no chão da alegoria.

A chuva ameaçou atrapalhar o espetáculo, mas parou uma hora antes da entrada da primeira escola. As arquibancadas demoraram a encher, mas pouco depois da meia-noite já estavam bastante ocupadas. Havia previsão de mais chuva no fim da madrugada, mas amanheceu com sol entre nuvens para iluminar a última escola da noite: a Águia de Ouro.

Ao completar 40 anos, a Águia decidiu homenagear os animais de estimação, reais ou animados. Uma ala inteira vestida de cachorro passou pela avenida rolando. As baianas vieram de Cruella, a vilã de 101 dálmatas. São Francisco foi lembrado como o santo protetor dos pets. O desfile das escolas terminou sem incidentes.

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Refugiados viram professores em curso de idiomas no Rio

RIO - Um jovem sírio escreve no quadro 28 letras incompreensíveis para um ocidental leigo. Explica que em árabe não existe som de "p", e que aquela escrita, feita da direita para a esquerda, é muito antiga. Na sala ao lado, um venezuelano ensina quando usar "usted" (senhor) ou "tú" (tu) para se dirigir a alguém em espanhol. E sugere aulas de arte pré-colombina ou salsa para imergir na cultura latina. São muitas línguas num mesmo ambiente: Hadi Bakkour e Gustavo Martínez são professores num curso de idiomas que cresce no Rio e em São Paulo com aulas dadas exclusivamente por refugiados ou solicitantes de refúgio no Brasil.

As vidas do sírio Hadi e do venezuelano Gustavo, antes separados por 11 mil quilômetros, se cruzaram na ONG Abraço Cultural no Rio. Além deles, há colegas haitianos, congoleses... A aposta é que, além de idioma, haja também troca de experiências culturais. Hadi, de 22 anos, gosta de levar música e referências de teatro - ele estuda Direção Teatral na UFRJ. Gustavo, de 28, comenta sobre comida, literatura latino-americana. Em comum, todos aprenderam a chamar o Brasil de casa.

- Não saí do meu país em busca de riqueza. Vim porque queria trabalhar e ter algo de liberdade - conta Gustavo, há cerca de dois anos no Rio. - O pior foi quando me dei conta de como a política se apropriava da sociedade venezuelana. Inclusive no meu trabalho. Eu dava aulas em escolas e queriam que eu usasse textos que falavam do governo.

Acolher, palavra poliglota: Refugiados viram professores em curso de idiomas no RioGustavo chegou ao Rio com um amigo. Para sair da Venezuela alegou que faria turismo no Brasil, mas não voltou mais a seu país. No Brasil, entrou com um pedido de refúgio. Para trás ficaram mãe, irmãs, amigos.

- Tento sempre me comunicar com eles, e tenho medo do que possa acontecer com a minha família. Existe racionamento de comida, e o governo tem o controle de tudo. Cada vez a porta se fecha mais. Quando cheguei não havia tantos venezuelanos vindo pro Brasil. Hoje são muitos. Por que será? É claro que algo de errado acontece no meu país - diz Gustavo.

Hadi saiu de Aleppo há três anos. Diz que a intensificação da guerra civil, no início afastada da sua cidade, alarmou sua família. Veio com o irmão para o Rio, onde já tinha uma meia irmã, fruto do primeiro casamento do pai.

- Meu irmão e eu estávamos em idade para prestar o serviço militar. A família ficou com medo. Já não dava para frequentar a faculdade, as ruas estavam perigosas - conta. - Meu pai e minha mãe tentaram morar aqui também, mas não se adaptaram. A vida da mulher é mais restrita na Síria. Para minha mãe tudo que ela tem é sua casa, suas memórias. Ela não quis deixar isso.

No Rio, Hadi e Gustavo aprendem, ensinam e se divertem com as diferenças.

- Uma das palavras que mais gosto em português é "cara". E "caraca". A primeira vez que ouvi a gíria falei: 'Mas é a capital do meu país!'. E falo muito 'cara'. Dizem que já sou quase um carioca - brinca Gustavo.

Hadi aprendeu português com amigos, e treina mais no curso de Direção Teatral, uma paixão que descobriu no Brasil.

- Os brasileiros gostam de ensinar e corrigir as palavras, sem serem rudes. A palavra que eu mais gosto em português é 'amor'. Mas não pelo jeito que se fala, e sim pelo que representa. Aprendi a amar mais aqui - explica Hadi.

Os dois pensam em voltar para seus países, mas não fazem planos a curto prazo. Sonhos eles têm.

- Muitos dos problemas da Síria poderiam ver solução no Brasil, que é mais aberto. E muitos problemas do Brasil poderiam ser resolvidos com inspiração na Síria, que é mais fechada. Um dia ainda vou fazer uma peça que una as duas culturas. Acho que ainda vou viajar por muitos países com isso - diz Hadi.

- Quero voltar um dia para a Venezuela, mas na situação atual não vejo como. Se volto de repente iria até pra cadeia, ou não conseguiria desempenhar meu trabalho de professor. O governo sabe que quem sai do país conta as verdades sobre o que acontece lá - diz Gustavo. Mas a História da humanidade mostra que nada é para sempre. Isso um dia vai mudar. Tenho esperança. Existe sempre uma luz no fim do túnel. Falam assim também em português, não é?

Novas turmas em março

As aulas de idiomas com refugiados começaram em São Paulo no meio de 2015, encabeçadas pela ONG Atados, e depois assumido por seu braço nessa empreitada, a ONG Abraço Cultural. A ideia chegou ao Rio em março do ano passado. Começaram com duas salas e oito turmas, com oito professores. Todos os horários encheram.

- Eles carregam a cultura dos países de onde vêm. Então por que não aproveitar a ideia e juntar cultura e língua, em um ambiente de integração para refugiados e alunos? Eles recebem salários, se destacam como professores. E mostram como são seus países, que normalmente não têm tanto destaque em cursos tradicionais - explica Tatiana Rodrigues, coordenadora da Abraço Cultural no Rio.

Hoje são 14 professores. E a previsão é que haja ao menos 25 turmas para o início do novo semestre de aulas, agora em março. O material didático, incluído no valor do curso, ressalta a variedade de culturas. No de francês, por exemplo, a África é destaque.

- A experiência tem sido excelente, tanto dos professores como dos alunos, que avançam nos módulos do curso, e indicam para amigos, parentes. Sem contar que são aulas acessíveis e diferentes - diz Tatiana. - Alguns alunos chegam sem saber o que significa ser um refugiado. A sociedade tem que conhecer que eles vieram fugidos de guerras, de perseguições. Não tiveram opção.

Ficou curioso? Mais informações em http://abracocultural.com.br

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Artistas plásticos e estilistas criam camisas originais para blocos de rua

RIO — Elaboradas por grandes artistas plásticos e estilistas, as camisas dos blocos de rua não são mais as mesmas. Muito mais do que a padronização, os fundadores querem um abadá que reflita a história e a personalidade dos grupos. Parcerias são feitas e a consequência são camisas divertidas, cheias de personalidade e histórias.

Convidado para criar a blusa do Escravos da Mauá, o artista Nicolau Mello quis fugir de ilustrações com foliões, serpentinas e confetes. Mergulhou em um resgate histórico e usou elementos para mostrar a pequena África brasileira e o berço do samba. Por isso, elementos visuais da cultura interagem com a madeira — que também representa a chegada dos navios negreiros à cidade — e com a arquitetura portuguesa das casas do Morro da Conceição.

— Tive liberdade total para criar, respeitando, claro, as cores do bloco. Resolvi fazer uma pesquisa do que foi a Praça Mauá, da sua História. Aqui foi a pequena África, o berço secular do samba. Quis mostrar toda essa herança e fugir do clichê do folião com confete e serpentina — conta Nicolau, que teve a ajuda do designer e calígrafo Flavio Teixeira para a criação da fonte da camisa.

carnaval mats. positivas 16/02

Já o tradicional Simpatia é Quase Amor convidou o artista e ilustrador Mello Menezes, conhecido pelo trabalho em capas de discos de grandes nomes da MPB, como João Bosco, Ivan Lins e Moacyr Luz. Ao mesmo tempo em que Menezes quis mostrar a alegria do bloco, com cores vivas e uma ilustração que mostra foliões passando pela praia de Ipanema, também optou por acrescentar um elemento gráfico presente em grande parte de suas obras: a metade de uma maçã com um neném dentro.

— Fiz uma ilustração viva, gostosa e alegre, representando a passagem do bloco. E dentro dela tem um detalhe que eu sempre uso, que é a metade da maçã com o bebezinho. É uma passagem da minha infância que simboliza o princípio do amor e da dor. Amar é uma entrega que pode causar dor — explica Menezes.

O bloco Mulheres de Chico também entrou no clima e convidou a loja Enjoy para elaborar sua camisa. A coordenadora de estilo da marca Alessandra Brito conta que optou pelo listrado por ser uma tendência do momento. Ela trabalhou a estampa junto com as cores que identificam o bloco e com o seu símbolo, uma flor. O resultado final foi um mix de estampas bem feminino.

— Ficamos muito felizes em fazer a camisa porque o bloco tem tudo a ver com a mulher Enjoy: alegre e que celebra a vida com personalidade. Trabalhamos com a flor, que é símbolo do grupo, em outras formas, e também usamos o listrado em cima desse universo carnavalesco — resume Alessandra.

O artista plástico Paulo Villela assinou o modelo do Carmelitas. O bloco Suvaco de Cristo convidou a artista e professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage Iza Valente para a criação de sua camisa, e o famoso Barbas contou com desenho de ninguém mais ninguém menos que o cartunista Ziraldo.

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Primeiro hotel de luxo de Havana abrirá as portas este ano

RIO - O embargo econômico dos Estados Unidos ainda está de pé, mas o mercado de luxo parece estar se consolidando em Cuba. O primeiro hotel de luxo da capital Havana deve abrir as portas ainda em 2017, administrado pelo grupo suíço Kiempinski.

bv havana

Batizado de Gran Hotel Manzana Kempinski La Habana, o cinco estrelas terá 246 quartos e funcionará em um prédio histórico, no centro antigo da capital cubana. O edifício La Manzana de Gómez começou a ser construído em 1890 e só foi concluído na década de 1910, quando se tornou o primeiro centro comercial do país, com mais de 500 lojas e escritórios espalhados por cinco pavimentos.

A fachada original e diversos aspectos arquitetônicos do prédio foram mantidos, como o pé-direito alto nos quartos e suítes. A decoração das habitações segue uma paleta com tons de branco e cinza, mas também toques com cores mais vibrantes, já que se trata de um hotel no Caribe. A suíte presidencial terá 1.600 metros quadrados.

Na cobertura, um terraço e uma piscina terão vista para La Habana Vieja, o centro histórico e colonial da cidade. Entre os marcos nos arredores estão o Edifício Bacardi, o Museu Nacional de Belas Artes e o bar La Floridita - um dos preferidos de Ernest Hemingway nos tempos pré-revolução e dos turistas na atualidade. O Capitólio, O Grande Teatro de Havana e o Paseo del Prado também ficam por perto.

Por dentro do primeiro hotel de luxo de Havana

O novo hotel também terá um spa, três restaurantes, um bar no lobby, um lounge para fumar charutos e - talvez o maior luxo que se pode encontrar em Cuba - internet gratuita em todos os quartos.

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Crivella nomeia filho como secretário da Casa Civil

RIO - Ao assumir a prefeitura, no dia 1º de janeiro, Marcelo Crivella anunciou um desejo: “Gostaria que hoje estivesse tomando posse nessa equipe meu próprio filho, que esteve comigo nos tantos anos que passei na África e no sertão. E ele me acompanhou nas campanhas políticas, sobretudo nessa última". O herdeiro ainda não estaria pronto para assumir um cargo no executivo municipal porque, segundo o pai declarou na ocasião, “um compromisso de trabalho no exterior o impediu de vir. Mas espero poder contar com seu apoio para breve". Nomeações Crivella - 02/02

O sonho, agora, está prestes a se realizar. Marcelo Hodge Crivella, o Marcelinho, como é chamado pela família, será o novo secretário da Casa Civil, no lugar de Aílton Cardoso da Silva, ex-assessor parlamentar do prefeito no Senado, como confirmou o prefeito ao GLOBO nesta quarta-feira.

A nomeação foi publicada na edição desta quinta-feira do Diário Oficial. O atual secretário, Ailton Cardoso da Silva, foi deslocado para chefia de gabinete do prefeito. Já Margareth Cabral, que ocupava a pasta, virou assessora especial da prefeitura. As nomeações parecem ter pego de surpresa até mesmo a equipe responsável pelo Diário Oficial. Apesar das nomeações constarem da página 3, no expediente da prefeitura, publicado na página 2, não consta o nome do filho do prefeito. No expediente, Ailton Cardoso ainda aparece como responsável pela Casa Civil enquanto Margareth, como chefe de gabinete.

— Eu tenho toda a consciência de que ele está preparado para me ajudar. Uma das coisas mais importantes da política. Uma das coisas mais importantes da política é termos ao nosso redor pessoas em quem possamos confiar e estejam preparadas para assumir grandes desafios. Hoje, o grande desafio da minha gestão é contrariar interesses, porque vivemos num momento de austeridade. ele sabe disso. Essa é a minha missão e será a dele também — afirmou Crivella , dizendo não se importar com eventuais julgamentos pela decisão. — Críticas sempre existirão e serão até bem-vindas.

Enquanto não deixa o cargo, Aíton ajuda a preparar o sucessor. Marcelinho já vinha frequentado o Palácio da Cidade quase diariamente. Aonde o prefeito vai, Marcelinho vai atrás. Nesta quarta-feira, estavam juntos na posse do novo presidente da RioFilme, Marco Aurélio Marcondes. Um dia antes, foram a Santa Cruz entregar apartamentos do programa Minha Casa Minha Vida.

Durante a campanha eleitoral do ano passado, o filho estava sempre ao lado do pai candidato. Nas eleições de 2008, Marcelinho, então com 23 anos, já afirmava que queria seguir os passos de Crivella: "Gostaria de ser professor, mas pode ser que eu trabalhe com política ou ajude a igreja", disse na época, ao GLOBO.

Os dois são parecidos até no jeito de falar, com uma diferença clara de posicionamento — não no discurso, mas no penteado. Crivella joga o topete para a direita; Marcelinho, para a esquerda.

— Não posso dar essa entrevista agora. É um assunto que está sendo discutido com os secretários — disse Marcelinho, esquivou-se Marcelinho ao antender o celular, antes do pai confirmar que o nomearia.

Marcelinho preferiu tratar o assunto como "uma vontade que chegou até o prefeito através dos secretários e de algumas pessoas":

— Se ele achar que é algo que vai ajudar ao governo, estou à disposição.

Consultado sobre o tema pelo GLOBO, o advogado Alberto Luís Mendonça Rollo, especialista em direito administrativo e eleitoral, afirmou que a Súmula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal (STF) permite a nomeação de parentes em cargos de primeiro escalçao do Executivo.

— O STF já fez essa interpretação em outros casos, tanto em estados quanto em municípios, entendendo que, no primeiro escalão, não é caso de nepotismo.

DE OLHO NA CAMPANHA DE 2018

Na última disputa eleitoral, Marcelinho se habituou a aparecer na televisão, pedindo votos para Crivella. Nesse caminho pai e filho enxergam longe, com olhos em 2018. A intenção de ambos é costurar a candidatura de Marcelinho ao Senado, pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB), mas para isso, é preciso convencer o senador Eduardo Lopes, presidente da legenda, que era o primeiro suplente de Crivella e herdou a vaga.

É de esperar, portanto, que um projeto para eleger Marcelinho como senador cause incômodo no PRB. Caso não haja acordo, uma alternativa seria Marcelinho tentar uma vaga na Câmara dos Deputados, impulsionado pela gestão de uma pasta-chave na prefeitura do Rio.

Crivella-filho mora há muitos anos nos Estados Unidos. Tem 31 anos, é casado desde 2011 e formou-se em psicologia cristã pela universidade Biola, instituição cristã na Califórnia. Embrenhou-se no universo de life coaching e, após trabalhar na área de licenciamento de marcas da TV Record, entrou em um novo negócio: a escola de computação gráfica Seven.

Um site pessoal antigo informa que sua comida preferida é pizza de rúcula com tomate seco. De acordo com a página, ele dava palestras até alguns anos sobre “como encontrar um companheiro para a vida toda”. Também oferecia a palestra “A arte da negociação: como sair ganhando sempre”.

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Por um museu sobre a verdade

‘Museus e histórias contestadas: dizendo o indizível em museus” é o tema de trabalho do Conselho Internacional de Museus para 2017, uma escolha nada aleatória. É preciso apurar e confrontar traumas históricos para não repetirmos horrores do passado e denunciarmos traços desses horrores que sobrevivam no presente. A forma de fazê-lo é nomear, reconhecer e debater legados difíceis, promover sua ressignificação e visionar um futuro coletivo sob a ótica da reconciliação.

Como ágoras modernas, museus devem articular questões essenciais e encorajar reflexões críticas sobre os legados que lhe dão forma ou dilaceram. É neste contexto que expressamos o sonho de construir um museu dedicado à história da escravidão no Rio de Janeiro, entendendo que a iniciativa demanda reflexões para não banalizarmos um tema de tamanha complexidade. Cientes de tal responsabilidade, desejamos abrir um intenso e transparente diálogo com a sociedade.

O “Atlas do Comércio Transatlântico de Escravos”, de D. Eltis e D. Richardson, aponta que quase metade dos africanos trazidos como escravos para as Américas veio para o Brasil — cerca de 4,68 milhões. Destes, mais de dois milhões desembarcaram no Rio de Janeiro. Ainda assim, há um acobertamento dessa memória no espaço e no cotidiano urbanos. Embora locais de relevância, como o Cais do Valongo, tenham sido demarcados na Região Portuária, isso não é suficiente para reconhecer os golpes deferidos por quatro séculos de escravidão contra os negros no Brasil, cujas consequências perduram até hoje. Se a escravidão foi abolida há mais de cem anos, seus grilhões permanecem presentes no racismo e na desigualdade social.

Um museu sobre a escravidão não pode esconder em seu nome a dimensão histórica desse tema, mas sim ressignificá-la. Se a história da escravidão toca a violência e a privação de direitos, dá também testemunho da resiliência e indestrutibilidade do espírito humano, dos atos de resistência e rebelião, dos esforços de recriação de identidades e de sentimento comunitário; enfim, da luta e conquista da liberdade. Para além do horror e da dor da escravidão, mas sem esquecê-los, esse espaço público deve celebrar a profunda influência africana na cultura brasileira: nossa musicalidade, artes, festas, religiosidade, culinária, falar, nosso jeito de viver e sentir, heranças de nossos ancestrais. Reverenciar Clementina de Jesus e Lima Barreto, Mestre Didi e Pixinguinha, Mercedes Baptista e Mãe Menininha do Gantois, e tantos, tantos, conhecidos e anônimos construtores do Brasil. Reconhecer que muitos ainda sofrem os legados da escravidão requer um museu como vetor de autoestima, desenvolvimento humano, oportunidades socioeducativas e impactos sociais duradouros.

O futuro Museu da Escravidão buscará ouvir as vozes silenciadas de seus protagonistas através de processos participativos, de baixo para cima, rechaçando abordagens curatoriais autoritárias. Quer contar com o movimento negro e a sociedade como um todo na construção deste bem cultural comum.

Encerro com um provérbio bantu, cultura predominante na África Ocidental: Ubuntu ngumtu ngabanye abantu (Uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas). Não há bem-estar individual sem bem-estar coletivo. O mal que recaiu sobre a comunidade escravizada hoje afeta a sociedade como um todo. Enfrentemos pois nossas “histórias contestadas” para, por fim, nos regenerarmos coletivamente celebrando uma sociedade múltipla, plural e diversa.

Nilcemar Nogueira é secretária municipal de Cultura do Rio

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Livro de Abdias Nascimento que confrontou teoria da democracia racial é relançado

RIO — Em 1977, Abdias Nascimento estava em Lagos, Nigéria, pronto para apresentar, no Colóquio do Segundo Festival Mundial de Arte e Cultura Negras, um ensaio combativo, que buscava desmontar uma teoria amplamente difundida na cultura brasileira e que vinha sendo propagada mundo afora pela ditadura militar da época: a de que a nação vivia em tranquila harmonia racial, e que os negros eram menos excluídos por aqui do que no apartheid da África do Sul ou em certos estados do Sul dos Estados Unidos. Mas o governo brasileiro impediu o dramaturgo e ativista de representar o país no evento, substituindo-o pelo professor Fernando A. A. Mourão, que defendia teorias opostas.

O texto, porém, foi publicado em mimeógrafo pela Universidade de Ife, na Nigéria, onde Nascimento lecionava como professor visitante, e depois distribuído pelo próprio autor aos participantes do colóquio, que foram apresentados a uma visão até então desconhecida do país. A sua tentativa de demonstrar, inclusive com números objetivos, o processo de aniquilação da identidade de homens e mulheres negros por mecanismos socioeconômicos marcou muitos intelectuais africanos. Em 1978, foi publicado em livro no Brasil com o título de “O genocídio do negro brasileiro — Processo de um racismo mascarado”, tornando-se um símbolo da denúncia do racismo — e de seu acobertamento pela sociedade —, inclusive pelo uso sem restrições da palavra “genocídio”, que até hoje gera controvérsia.

Links Prosa

Quarenta anos depois, a obra está sendo relançada pela editora Perspectiva, com prefácios do sociólogo Florestan Fernandes e do Nobel de literatura nigeriano Wole Soyinka (presente no colóquio de 1977), além de um posfácio da viúva de Nascimento, Elisa Larkin. A republicação do texto, acredita ela, traz o registro de um momento decisivo na evolução da luta contra o racismo no Brasil.

— O livro chega agora a um público talvez mais preparado para receber sua mensagem — argumenta Elisa, que dirige o Instituto Ipeafro, fundado por Nascimento. — Já passamos por várias fases de lutas e conquistas em relação a políticas públicas provocadas por questões que o Abdias colocou pela primeira vez. A sociedade se conscientizou o suficiente da existência do racismo para reconhecer o enfrentamento necessário para chegar a essas políticas.

Elisa lembra que, na época, o uso do termo “genocídio” foi visto como “inusitado” e até “agressivo” por alguns. Ao barrar a participação oficial de Nascimento no colóquio, o governo tentou impedir que sua denúncia alcançasse um contexto internacional. Porém, o conteúdo explosivo de seu texto ganhou enorme repercussão, em parte graças à mobilização de intelectuais nigerianos.

— O Brasil usava a imagem da chamada “democracia racial” como apelo para exportar produtos a países africanos — lembra Elisa. — Abdias sublinhava como esse comércio alimentado por uma mentira beneficiava apenas uma elite racista que discriminava os negros em condições de trabalho degradantes.

"O genocídio do negro brasileiro"

Autor: Abdias Nascimento

Editora: Perspectiva

Páginas: 232

Preço: R$ 45,00

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Distopia

RIO — Dizem que 2016 foi um ano tão ruim para o Brasil e para o mundo que não deveria ter existido. Mas existiu e, na semana que resta, inclusive na hora de desejar feliz ano novo à meia-noite do dia 31, a pergunta é: será que 2017 chegará ao fim? Há quem, como o jornalista e escritor Arthur Dapieve, calcule que o calendário vá durar só umas poucas semanas, até uma data-limite (que não vamos adiantar para não dar spoiler das páginas que seguem). Nelas, onze convidados especiais descrevem, em textos exclusivos para a Revista, cenários fictícios sobre o que vai ser de nós no próximo capítulo do calendário.

Numa escala imaginária que vai da utopia (concepção de um futuro ideal, aparentemente irrealizável) à distopia (palavra da moda que descreve um mundo no qual reine a opressão e/ou o caos), as previsões, em forma de pequenas sinopses, tendem fortemente para a constatação de que teremos um 2017 bastante distópico. Nesta linha vão, radicalmente (mas com a devida dose de ironia), além de Dapieve, o roteirista Rafael Dragaud, o cartunista Arnaldo Branco, o humorista Fernando Ceylão, o crítico de música Jamari França e o dramaturgo Luiz Henriques Neto. Mais moderados, a poeta Maria Rezende, o diretor Beto Brown e a atriz Clarice Niskier, em seus textos, vão mais no caminho de sonhar soluções parciais para sobreviver ao bombardeio que vem de todos os lados, afetando a ideia que temos da Civilização.

Poeta e letrista, recém-imortalizado, Geraldo Carneiro optou por compor um díptico ambivalente: uma peça utópica, e uma distopia plena, com o olho na História do país. O artista visual Ricardo Chreem assumiu o modo de fuga ao criar uma alegoria circense para espelhar a dualidade na qual estamos imersos. Estranho ao ramo da escrita, mas conhecido piadista compulsivo em seu estúdio de pilates, o fisioterapeuta Dirlei Carvalho improvisa uma volta à Pangeia, o continente original, para que a globalização “pegue” de uma vez e a gente possa economizar em deslocamento e unificar as ações (e nações), com a ajuda das empreiteiras para guindar e “colar” os blocos como eram há uns 300 milhões de anos.

Celebrado artista gráfico e inventor de objetos, Guto Lacaz preferiu, por motivos óbvios, participar com uma ilustração sem palavras (ao lado, abrindo a reportagem), deixando ao leitor o complemento da obra, de acordo com cada interpretação dos fatos presentes e de suas consequências futuras. Com tantas ideias e tanto talento, quem sabe, dias melhores virão, ou, pelo menos, a coisa não piora.

AGENDA 2017 (COMPLETA), por Arthur Dapieve, jornalista e escritor

Domingo, 1° de janeiro: Ressaca.

Segunda, 2: Cancelar exames médicos.

Terça, 3: Cancelar todos os compromissos.

Quarta, 4: Dizer umas verdades na cara daquele babaca.

Quinta, 5: Dizer o que penso das polícias religiosas das redes sociais.

Sexta, 6: Cancelar todas as contas em redes sociais.

Sábado, 7: Sumir, dar um perdido em todo mundo.

Domingo, 8: Caminhar pela orla do Rio.

Segunda, 9: Devolver livros e discos emprestados.

Terça, 10: Comprar um bote inflável.

Quarta, 11: Escutar o Réquiem de Verdi.

Quinta, 12: Escutar o Réquiem de Mozart.

Sexta, 13: Escutar o LP dos Sex Pistols.

Sábado, 14: Estocar água e cerveja. Beber.

Domingo, 15: Relefonar para os amigos. Beber mais.

Segunda, 16: Comprar víveres. Beber muito.

Terça, 17: Comprar mais víveres. Beber de esquecer.

Quarta, 18: Rasgar dinheiro.

Quinta, 19: Atravessar o Largo da Carioca com o bilau pra fora da braguilha.

Sexta, 20: Posse de Donald Trump.

BRASIL 2017, por Geraldo Carneiro, poeta recém-imortal

I - BRASIL 2017 (distopia)

O Supremo manda prender o presidente da República. O presidente foge para o Rio Grande do Sul. O Rio Grande do Sul recomeça a Revolução Farroupilha. No sertão da Bahia surge um novo líder chamado Antonio Carlos Conselheiro. Indignado com a insurreição baiana, São Paulo faz nova Revolução Constitucionalista e manda bombardear o Rio de Janeiro. O Rio, acostumado com os bombardeios do tráfico e da polícia, nem percebe. Em nome da moralidade pública, estudantes e procuradores proclamam a Revolução Francesa. Ao fundo, vê-se a sombra de Napoleão Bonaparte. Donald Trump aproveita o fuzuê e compra a Amazônia.

II - BRASIL 2017 (utopia)

O Brasil caminha para o caos. A vaca só não vai para o brejo porque não há mais brejo. Eis que chega o carnaval, e Oxalá, Vishnu e Jesus Cristo desfilam num carro alegórico, na Marquês de Sapucaí. Tudo indica que seremos felizes para sempre. Pelo menos, até a quarta-feira.

CHTULU É REI!, por Luiz Henriques Neto, dramaturgo

A verdade é que 2016 foi um ano tão complicado que muita gente jurava que pondo-o para tocar ao contrário na vitrola dava para ouvir “Chthulu é rei” (Chtulu é sinônimo nerd para Satanás, via H.P Lovecraft). Mas felizmente 2017 “foi” um ano que passou tão rápido que ninguém nem percebeu. Apocalipses atômicos ainda na primeira quinzena por motivos idiotas costumam ter este efeito.

Olhando retrospectivamente, Donald Trump talvez não devesse ter dado em cima da namorada do Putin na cerimônia de posse... Mas, no fim, tudo correu de acordo com o que seus eleitores (e simpatizantes no mundo todo) gostariam, dado o quadro geral.

Afinal de contas, a alguns anos-luz de distância daqui, num mundo em que as pessoas ainda acreditavam em teoria da evolução, fósseis e outras invenções do demônio, as nossas explosões atômicas no céu guiaram três sacerdotes feiticeiros até uma estrebaria.

PANGEIA: A VOLTA, por Dirlei Carvalho, fisioterapeuta

Se 2016 fosse uma mão de biriba, seria daquelas em que nada combina com nada, nem trinca, nem par, você recebe as cartas e quer devolver e pedir pra embaralhar de novo, mas não dá. O símbolo maior do ponto a que chegamos é ter gente cobrando cachê para administrar grupo de zapzap.

Nós, homo sapiens, nos desenvolvemos, criamos sistemas sociais e inventamos a globalização, que virou uma girar em círculos: somos zumbis sonâmbulos, rodopiando. Em meio a essas reflexões é que me veio a solução para redimir a globalização, que seria rejuntar os continentes conforme eram antes do afastamento, ou seja, reconstruir a Pangeia.

Aí a gente não precisa de voos, embarcações, daria para fazer tudo a pé, ou de trem. Seria uma globalização real, concreta.A Odebrecht podia cuidar da logística, usando o excedente de guindastes e cola de cimento.

GRUPOS DE EXCELÊNCIA, por Fernando Ceylão, humorista

Na tentativa de conter engarrafamentos de cinco cinco dias, escassez de água e comida e um eterno clima de aniversário do supermercado Guanabara nas ruas, a ONU decidiu diminuir a população. Drasticamente. Depois de uma engarrafada reunião, sentenciaram: cada país escolheria um “grupo da excelência”. O número de participantes teria relação com a densidade populacional. No Brasil, cem mil pessoas. Cada uma teria o direito de escolher mais três. Os não escolhidos seriam exterminados. E a vida seria, então, calma, pacata, farta e espaçosa. Mas... e os critérios? Pensaram.

Tirando o Luciano Huck, ninguém tinha certeza se constaria da lista dos excelentes. Logo começaram as polêmicas. Haveria cotistas? E a idade? E o fator salarial? E os talentos? Nepotismo? Mal o debate começou e já saiu uma lista. Logo verificou-se que era só de pessoas denunciadas por corrupção, na desesperada tentativa de se salvar. Foram todos presos. Na linha evolutiva do preso-classe-média-pra-cima, o sujeito raspa a cabeça, coloca o uniforme e faz delações. E mais gente acabou presa. Delação é tipo pirâmide da Herbalife, cada preso leva mais três. E esses três mais três...

O governo entendeu rapidamente que era preciso construir mais presídios. Enfim... Lembro de ter lido no Le Monde a matéria mais completa sobre os rumos do “grupo da excelência” no Brasil. Aconteceu uma inversão proporcional e, de repente, o número de pessoas encarceradas era muito maior que o de pessoas livres. Não foi preciso exterminar ninguém e o problema prisional foi resolvido. Sobraram, sei lá, umas 80 mil pessoas que hoje vão do Humaitá à Barra em coisa de 20 minutos.

A 386ª FASE, por Arnaldo Branco, cartunista e roteirista

2017, era pós-atômica. Donald Trump queimou a largada e conseguiu começar a Terceira Guerra Mundial no primeiro dia do mandato, antes mesmo de aprovar a emenda constitucional com que pretendia inaugurar sua titularidade, obrigando todos os norte-americanos a seguir o seu twitter. Só sobraram as criaturas e objetos de estrutura muito resistente, como as baratas, as tampas de alumínio nas embalagens de mate e o núcleo duro do PMDB.

Agora o mundo é um deserto onde pessoas deformadas pela radiação — ou consertadas por ela, como o membro da lista da Odebrecht e novo galã terrestre Inaldo Leitão, ex-Todo Feio — perambulam atrás de itens básicos de sobrevivência, como fones de ouvido, lubrificante e Trakinas de morango.

O Brasil ainda existe, apesar das seguidas explosões terem bagunçado um pouco os marcos fronteiriços. Exploradores definem as novas linhas divisórias na região do Prata toda vez que surgem locais dizendo em castelhano que Maradona é maior do que Pelé, ocasião em que têm ordens de atirar para matar.

Com o que sobrou do nosso Judiciário (os corpos fundidos pela radiação de Sérgio Moro e Gilmar Mendes), a Lava Jato acaba de entrar na sua 386ª fase.

EMPATIA NA CARNE, por Maria Rezende, poeta

Imagino um mundo em que o ditado popular “que deus te dê em dobro” seja realidade. Que cada ação de cada pessoa ecoe na sua própria vida de forma imediata e concreta. Uma mão estendida se transformando em dois braços pra dividir os pesos e levantar das quedas. Milhões desviados fazendo sumir da sua mesa a próxima refeição. Atitudes homofóbicas, machistas, racistas, voltando como um soco no espelho: sangue & sete anos de azar. Empatia na carne. Talvez só isso pudesse nos curar.

O MUNDO DO CROWDSOURCING, por Rafael Dragaud, roteirista

Estamos em pleno Apocalipse Zumbi da representatividade. Não há político, partido ou sindicato capaz de representar interesses de grupo, classe ou povo. Nem ser humano capaz de falar para além de si. Lá em casa, quando eu tento, tomo logo uma bordoada da minha mulher ou do meu filho de 3 anos. E eles estão certos!

O mundo feminino e o infantil têm que romper de vez a inércia de privilégios macho-cêntricos. Heteros grisalhos acima do peso, go home! Tchau, queridos! Tchau, eu! A solução é entregar tudo às mulheres! Elas são mais sofisticadas, têm a coragem da escuta, o senso de prioridades, o afeto.

Mas como garantir que mulheres não virem homens-em-corpo-de-mulher? Dizem que isso já aconteceu. Pronto, sobrou para as crianças. Não podem mais ser adiadas em toda sua potência. Façamos presente o futuro! Mas peraí, o Cabral já foi apenas filho... Só nos resta recorrer ao CROWDSOURCING, a inteligência das multidões, essa coisa DE TODOS que cria e produz com rapidez os MEMES e GIFS que nos mantém vivos.

O humor da internet nos salvará! Nosso novo líder será fruto dos algoritmos e impresso em 3D. Antevejo algo com a espontaneidade de um Whindersson Nunes, o papo reto da Gretchen, a ousadia do Papa Francisco, e principalmente, a imprevisibilidade do Negão da Piroca.

ADMIRÁVEL MUNDO VELHO, por Jamari França, crítico musical

José da Silva estranhou o dia cinza chumbo ao acordar. Eram oito da manhã, mas parecia noite ainda. Ligou a TV para ver o telejornal. Na tela nada de cores, tudo cinza chumbo, um locutor de terno (adivinhem) anunciava: “Em instantes, um pronunciamento do Grande Irmão.” Bateram na porta, um cara soturno lhe estendeu um embrulho: “suas pílulas”, deu meia volta e se foi. Começou a abrir o pacote quando na tela apareceu o grande líder. “Bem-vindos ao Admirável Brasil Novo.” José despencou no sofá perplexo. Não pode ser verdade, isso é o pior de todos os pesadelos. Não, não. Fechou os olhos, esfregou-os incrédulo. Não é possível: Renan Calheiros!!!!

PALHAÇOCRACIA, por Ricardo Chreem, artista visual

Uma boa solução para 2017 seria baixar um decreto que obrigue os políticos a trocar o paletó pelo figurino de palhaço. Hoje, quem se sente palhaço somos nós, o que é injusto para quem exerce a profissão. Os que defendem a arte da palhaçaria se sentem ultrajados. Ao assumir essa figura, os políticos entenderiam de uma vez que o palhaço é aquele que assume o papel do bobo, do falível, do finito, do vulnerável, do que erra, para mostrar como somos todos ridículos e idiotas. Isso seria mais nobre do que a pose com cara de paisagem dos espertalhões que passam a perna na gente e só na hora em que são pegos é que se fazem de bobos. Uma vez em vigor o decreto, nós aplaudiríamos de pé o grande circo, vendo o palhaço em cena e nos identificando, democraticamente, com os idiotas que nos fazem de idiotas.

IMPÉRIO DOS BEBEDOUROS, por Beto Brown, músico e diretor

Acordei leve no primeiro dia de janeiro de 2017. Aniversário da minha irmã. Parecia docudrama futurista positivo. Bebedouros de água limpa de três em três quarteirões pela cidade toda, inclusive as zonas Norte e Oeste, Centro e Baixada. Na Avenida Brasil havia cartazes da campanha de conscientização pós-descriminalização das drogas e do aborto. Os traficantes haviam feito um curso de produção orgânica não só de cannabis mas de tudo quanto é hortaliça comestível e planta medicinal. Havia hortas urbanas em todo canto para cassar o mito da falta de comida. Sempre querem nos enganar! Passagens a R$ 1,80 pululavam em todos os trechos da cidade. Restaurantes populares com comida orgânica jorravam como cascatas das esquinas.

LÂMPADAS FLUTUANTES, por Clarice Niskier, atriz

Para embarcarmos em 2017 com esse mau tempo, proponho a construção de um pequeno e eficiente barco a remo, como o de Amyr Klink, que remou da Namíbia (África) até o Brasil sem perder o rumo, o prumo, o remo, a rima, a poesia. Vamos seguir sua tática: “Remar de costas, olhando para trás, pensando para frente.” Porque se olharmos a distância que falta agora para o continente, podemos desesperar. Seguir olhando para a História, para o tanto que já avançamos, apesar dos pesares, o futuro na cabeça. Sejamos milhões de “lâmpadas flutuantes”, como joão-teimosos, nas ondas violentas, em direção à terra firme, em meio à tempestade que parece interminável. Sigamos remando a nós mesmos. Nação encharcada de raiva, tristeza, angústia, agonia. Tanques de água doce hão de equilibrar o barco na travessia. Vislumbro a chegada, a ética nas relações, eleições diretas, nosso continente.

LAVA-TUDO, por Gerald Thomas, dramaturgo

Trump não foi a pior coisa que aconteceu em 2016. Foi a pior coisa que aconteceu desde 1933 com a ascensão do Reich. Em 2017 constataremos que todos os passos que demos para frente foram retrocedidos com folga. Bush foi um progressista. A grande distopia já está aí, ao vivo e em cores. Por outro lado, o Brasil de repente se transforma num oceano de transparência. É o ano em que se abrirão todas as lavanderias. O lava-tudo é a verdadeira utopia!

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'A Odisseia do Cinema Brasileiro' traz outro olhar sobre produções nacionais (webremix.info)


Cy Twombly ganha em Paris maior retrospectiva de sua obra

PARIS — Morto aos 83 anos em 2011, Cy Twombly viveu o bastante para ter o gostinho de ver sua obra celebrada pela mesma crítica que, em muitos momentos, teceu duras considerações sobre ele, questionou se merecia estar entre os grandes do século passado, ou simplesmente o ignorou. Mas o pintor, escultor e fotógrafo americano não só provou estar na vanguarda, subvertendo escolas como o expressionismo abstrato ou antecipando noções do conceitualismo, como se transformou num dos mais valorizados artistas de sua geração, responsável por um legado que pode ser conferido a partir de hoje, no Centro Georges Pompidou, em Paris. Em cartaz até 24 de abril, a mostra é a mais completa retrospectiva do artista, reunindo pela primeira vez 140 pinturas, esculturas, desenhos e fotografias — entre elas polaroides inéditas dos anos 2000.

— Provavelmente nunca mais será possível juntar tantas peças de tantos períodos. Os custos para isso são altíssimos — diz o curador Jonas Storsve, ao apresentar a mostra ao GLOBO.

Há três anos, o dinamarquês promove uma caça ao tesouro em instituições e coleções particulares para compor o que considera os ciclos mais importantes da criação de Twombly, pontuados por séries de 1963 (“Nove discursos sobre Commodus”), 1978 (“Cinquenta dias em Iliam”) e 2000 (“Coroação de Sesostris”).

— Esses ciclos apresentam algumas das obras mais excepcionais do fim do século XX. É como se estivéssemos reunindo os grandes mestres da pintura dos séculos XVII e XVIII — afirma Storsve. — Com “Nove discursos sobre Commodus”, por exemplo, Twombly pega um evento histórico, que é o reino de Commodus, e o compara ao que se passava na época. Diz: “Não devemos sucumbir à violência”. Não conheço outro artista de sua geração que tenha sido capaz de fazer isso. Batizado com o nome do imperador romano Aurelius Commodus, o conjunto é formado por nove telas sobre as quais Twombly recria à sua maneira o momento em que o presidente John F. Kennedy é assassinado com um tiro na cabeça em Dallas, em 1963. As cores vibrantes em tons escarlate referem-se à imagem de Jacqueline Kennedy coberta pelo sangue do marido.

Esses quadros foram exibidos pela primeira vez em 1964 na Castelli Gallery, do galerista Leo Castelli, em Nova York, numa mostra considerada um desastre. Nada foi vendido, e os jornais pontuaram a desconexão de Twombly com o cenário artístico em que reinava a pop art.

— A imprensa achou tudo muito europeu — conta Storsve, em referência a um comentário que seria constante sobre o pintor em seu país natal. — Ele demorou a ser reconhecido porque deixou os EUA. Acredito que foi um pouco punido por isso. Para os críticos, Cy era um desertor. Um esnobe que vivia uma bela vida na Europa. Não era a imagem que eles queriam ter de um artista americano.

Juntas, as telas de “Commodus” representam o auge de um período que começa em 1950, quando o jovem nascido em Lexington vai estudar artes na Carolina do Norte, onde conhece Robert Rauschenberg — de quem se torna amigo e com quem viaja pela primeira vez à Europa e à África, aos 24 anos.

— Poucos assimilaram tão bem as culturas europeia, americana e de países da África e do Oriente — diz Storsve.

O percurso que leva a “Commodus” apresenta desde retratos do artista feitos por Rauschenberg às suas primeiras criações, nas quais aparecem inscrições que seriam comparadas ao grafite, e telas totalmente pintadas de branco. Entre as curiosidades, há uma sequência realizada no tempo em que ele esteve no Exército.

— Twombly desenhava no escuro. Provavelmente deitado, com o papel apoiado sobre o peito — descreve o curador.

A fase seguinte, inaugurada com “Cinquenta dias em Iliam”, em 1977, revela a influência que os clássicos tiveram sobre o artista. Após casar-se com a aristocrata italiana Luisa Tatiana Franchetti — mãe de seu único filho, Cyrus Alessandro Twombly —, o americano se fixa em Roma. E cria pinturas com inscrições nas quais se leem Apolo, Venus e outros personagens mitológicos, mas também faz menções a mestres como Leonardo da Vinci e Rafael. O trabalho que batiza o circuito é formado por dez telas inspiradas em Ilium, antigo nome de Troia.

TEMPERAMENTO EXPLOSIVO

As criações mais emblemáticas, grandes telas coloridas nas quais destacam-se “Coroação de Sesostris” (2000), marcam o momento em que seu trabalho deixa de ser puramente abstrato, passando a ter elementos narrativos como imagens dedicadas a Ra, o deus egípcio do Sol.

Seguem-se os últimos registros de Twombly e telas de grandes dimensões, cobertas por tons luminosos em cores vibrantes, que se tornaram frequentes no imaginário da cultura pop (como as peônias gigantes pintadas de vermelho).

— Sua criatividade seguiu num crescente até seus últimos anos de vida — diz Storsve. — Essas pinturas mostram uma explosão e uma força excepcionais. Acho que só é compará-lo a um dos grandes da Renascença, Ticiano, um dos primeiros a trabalhar com a pintura à macchia (a partir de manchas), exatamente como Twombly fez.

Sobre o temperamento explosivo do artista, que concedeu pouquíssimas entrevistas — principalmente após ter se tornado alvo da crítica —, o curador contemporiza:

— Tinha gênio difícil, mas, depois que nos tornamos amigos, mostrou-se muito caloroso.

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Para que as bombas não acabem com a arte

Durante a Batalha de Madri (Guerra Civil Espanhola, 1936-39) a maior parte das pinturas do Museu do Prado encontrou abrigo em Genebra, na Sociedade das Nações (precursora da Organização das Nações Unidas). Porém, mais recentemente, obras-primas do Museu Nacional do Afeganistão, do Museu de Palmira (Síria) e manuscritos centenários de Timbuktu (Mali) não tiveram a sorte de encontrar um local seguro para escapar da destruição e do fanatismo do Estado Islâmico e de outros grupos terroristas. Algumas dessas obras foram completamente destruídas, enquanto outras vêm sendo contrabandeadas para traficantes em troca de armas. Tais obras não são meros objetos exóticos oriundos de lugares distantes. Elas pertencem ao patrimônio mundial da Unesco. Logo, são parte da nossa herança cultural comum.

Nós não podemos ficar parados. A comunidade internacional precisa agir imediatamente.

A França e os Emirados Árabes Unidos, em estreita parceria com a Unesco, vão nesse sentido sediar em Abu Dhabi, dias 2 e 3 de dezembro, a Conferência Internacional para a Proteção do Patrimônio Cultural Ameaçado em Zonas de Conflito. São dois os propósitos.

Em primeiro lugar, criar um fundo internacional para apoiar medidas preventivas de proteção, evacuação de emergência de obras de arte e restauração das que tiverem sido danificadas. As contribuições serão voluntárias tanto para instituições públicas quanto privadas. A ideia é arrecadar US$ 100 milhões.

Em segundo lugar, criar uma rede de países em condições de oferecer lugares seguros para os países que desejem abrigar por tempo determinado seus tesouros ameaçados. Os países recebedores deverão seguir as normas da Convenção de 1954 da Unesco para a proteção do patrimônio cultural em caso de conflitos armados, ou seja, respeitar os critérios de conservação, integridade e restituição das valiosas peças. A França já planeja abrigar obras ameaçadas em galpões do Museu do Louvre, que estão sendo construídos no norte do país.

Durante a conferência, o sheik Mohammed Bin Zayed e o presidente François Hollande receberão representantes de alto nível de mais de 40 países convidados — entre os quais o Brasil — bem como profissionais ligados ao tema, ONGs, fundações privadas e diretores de museus. A parceria entre Paris e Abu Dhabi nesse esforço urgente baseia-se em uma longa e duradoura cooperação no âmbito da cultura (a França vem ajudando os Emirados Árabes na criação do primeiro museu universal de arte no mundo árabe, o Louvre Abu Dhabi), da construção da paz e da luta contra o terrorismo no Iraque e na Síria.

Para oferecer um futuro à herança cultural dos povos da África e do Oriente Médio, precisamos de cada um de vocês, pois trata-se da nossa herança comum, que devemos preservar. Esperamos que nós, e especialmente eles, possamos contar com o apoio do Brasil.

Laurent Bili é embaixador da França no Brasil e Khalid Khalifa Al-Mualla é embaixador dos Emirados Árabes Unidos no Brasil

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Crítica: Breno Ruiz estreia em disco histórico que traduz o Brasil

Links Breno RuizRIO — O primeiro disco de Breno Ruiz nasce como nova tradução do Brasil (no sentido do ato fundado por Villa-Lobos, de “ouvir” o som do país em todos os seus grotões e sintetizá-lo). Como grande compositor e instrumentista (seu piano clássico pousa no popular como um pássaro), Ruiz (que canta, altivo, a maior parte das faixas) consegue, musicalmente, ressoar melodias e harmonias típicas como se fossem inéditas em desvios tão discretos quanto imprevistos, como fizeram os compositores nacionais europeus em suas fases neoclássicas. Para contextualizar em versos a aventura, o maior artesão-letrista do Brasil, Paulo César Pinheiro, completa a arquitetura das 12 canções em seis módulos temáticos.

As duas primeiras, em levada épica, iniciam a navegação com o homem brasileiro que se descobre português (“Tenho uma vontade insana/ desejo de navegar/ herança enfim lusitana/ sou marinheiro do mar”) e, depois, ao atracar, vê a África, no solo, nas aldeias, do Brasil. O segundo módulo vem de choro à Chiquinha Gonzaga, e fala de música, de trovadores e donzelas. Letra e som se entrelaçam num caminho fechado, um novelo. “O som pra mim/ se ele for chinfrim/ não passa no filó...” A mucama protagoniza o terceiro núcleo pelos cantos de ninar da ama de leite na formação do menino. Depois, festeiro, o homem deseja a mucama: “Prenda minha/sem vergonha/inda quebro esse tabu”. Então, dois temas em torno de caçada de onça, de encanto e morte ante a natureza. Na segunda faixa deste “ato”, uma obra-prima pontua o drama com arpejos pentatônicos à Ravel.

O penúltimo módulo abre com uma “Modinha triste” que ecoa a “Melodia sentimental” de Villa. Fala de amor, de luares, de sertão e de mar. O CD fecha com duas odes à redenção, através da arte, do amor perdido (“Na viola eu carrego o mar do meu bem-querer”). Os versos finais comparam o sofrimento do poeta que está só à desventura dos pássaros. Neste grande, histórico, disco, o violão ágil de Pedro Alterio, os baixos de Neymar Dias e Igor Pimenta, a bateria de Gabriel Alterio, os vocais, percussão e flautas de Renato Braz e a presença de Mônica Salmaso trazem compreensão profunda das raízes da tradição e das asas da modernidade, num disco à parte.

Cotação: ótimo.

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Gerald Thomas aborda depressão, romances e brigas em autobiografia

RIO — Vivendo entre Nova York e os Alpes, na Suíça, o diretor e dramaturgo Gerald Thomas tem se mantido longe dos palcos e do Brasil. Ao aterrissar no Galeão, na sexta passada, ele não pisava no país há dois anos. Nesse tempo, viveu a ressaca de “Entredentes” (2014) — “Um fracasso”, diz —, tentou suicídio, voltou a se cuidar e escreveu um romance (ainda inédito) e a autobiografia “Gerald Thomas — Entre duas fileiras” (Record), que será lançada nesta segunda, às 19h, na Livraria da Travessa do Leblon.

O que o fez escrever essa autobiografia?

Comecei a escrever sobre a minha vida há 11 anos. Eram anotações, suicide notes, mas não pensava em autobiografia. Estava nos Alpes, deprimido como sempre, e comecei. Era a época dos disquetes e todo dia eu imprimia toneladas de papel. Em 2011, recebi um contrato, e há pouco tempo a coisa se concretizou. Eu olhava para o Word, e tinha 40 mil páginas! Se fosse impresso não seria um livro, mas uma mala com rodinhas.

No livro, você narra brigas com personagens históricos, casos sexuais, traumas familiares, fala de depressão e de tentativas de suicídio. A intensidade foi o critério para pinçar as histórias?

Não sei bem. Escrevi o livro e não o li de novo...

Por exemplo, há um trecho em que você fala do Sérgio Britto. Diz que foi o responsável por fazê-lo trabalhar no Brasil, em 1985, com “Quatro vezes Beckett”, mas não dá detalhes. Diz que foi “muito importante”, mas que a história do primeiro encontro entre vocês foi “tediosa. Não é sexy, não é sexual”.

Bom, não tenho o livro na cabeça. Lembro que o Sérgio me deu uns apertões, dava em cima, mas não trepamos, não. Se bem que eu trepei com tanta gente que não sei. Mas ele foi importante. Ele me convidou para trabalhar no Brasil, e lembro coisas interessantes. Ele dormia a peça toda e, então, na hora dele, estava pronto, sabia tudo.

Sobre a intensidade de encontros, você destaca a convivência com o Hélio (Oiticica).

Aí, sim, intenso e importante em todos os sentidos. Um ídolo intelectual. Até hoje uma referência, um criador internacional, um transgressor. Assim como foram importantes meus encontros com Beckett e com o Haroldo de Campos. Hélio era muito possessivo e colérico. Tinha acessos de raiva terríveis, quebrava coisas, um descontrole que não se vê muito no artista brasileiro.

Uma fúria que também identifica em você?

Não, eu sou um doce...

No livro, você fala da importância do embate, de criar o caos, de conflitos como o travado entre você e o (compositor) Luciano Berio.

Mas é porque teatro é conflito, nasce disso. Sem antagonista não tem conflito. É isso.

Mas isso não fica apenas na sua obra, vaza para fora da cena...

Mas eu sou isso. Eu sou o teatro. Vivo disso. Na chamada vida real, eu não sou ninguém. Aqui em Nova York, fico em casa, não tenho vida pública. Ninguém me vê. Estou com 62 anos, acabei de escrever esse livro e o meu primeiro romance, e estou exausto, cansado. Voltei a tomar antidepressivos, porque sem eles não levanto da cama. Quando estou nos Alpes, faço esportes na natureza, uma rotina prazerosa. Em NY, malho, mas tudo no prédio.

Donald Trump acabou de ser eleito. Eis um motivo para deixar Nova York ou ficar mais tempo nos Alpes?

O inverno nos Alpes é duro. Aqui, a vida é mais fácil, prática, fora que toda a minha biblioteca está aqui. Mas, sim, vou me mudar aos poucos. Com o Trump eleito, não quero viver aqui.

A eleição de Trump é mais um capítulo na escalada de forças políticas de caráter protecionista, xenófobo e intolerantes à imigração. Como você observa essa tendência, principalmente na Europa?

Já vi esse filme com a British National Front, em Londres, com paquistaneses sendo espancados por hooligans e skinheads. Ciclos. Quem viveu por mais tempo sabe que eles acontecem. Lembro-me de Enoch Powell, um inglês com carinha de Hitler que, nos anos 1960, falava do inimigo de dentro, um discurso parecido com esse que gerou o Brexit. Já fui da Anistia Internacional, cuidei de casos brasileiros na ditadura, depois viajei e me inteirei sobre o que ocorria no Marrocos, no Sudão, no Congo, na Costa do Marfim. Então o que acho é que a gente fala muito da Europa branca, mas a Europa branca que se foda. Que se fodam os brancos. Ninguém nunca presta atenção nos negros. As guerras na Líbia e na Síria, por exemplo, já duram mais que a Segunda Guerra Mundial. Iranianos e sauditas vão disputar para sempre, e se a gente continuar a meter o bedelho não vai dar certo. Saddam Hussein, apoiado para conter o Aiatolá Khomeini, é culpa nossa. Tenho de olhar para trás para falar disso. Em 1947, um cara lá na Inglaterra vai no mapa, traça uma linha no meio da Índia e diz: “A partir de agora a parte islâmica se chama Paquistão, ok?”. E aí dois milhões de pessoas morrem num só dia fazendo a travessia. Olho o mundo de uma forma caótica, histórica e trágica. A gente fala da Europa branca, do medo que sentem pela guinada à direita, mas agora existem guerras na África, há anos. Mas o jornais brasileiros não estão nem aí, assim como a CNN. Milhares de pessoas trucidadas.

Um dia após a eleição do Trump você fez um texto contra o espírito de “fim dos tempos” que contaminou as pessoas, elencando outros “fins de mundo” aos quais sobrevivemos.

Já sobrevivemos a muitos “fins do mundo”. Trump não é o fim, mas um retrocesso, assessorado por Steve Bannon, um nazista e racista horroroso. Naquele dia eu reagi à eleição, mas, desde então, todo dia surge uma nova notícia horrível.

No texto, você confiava aos artistas uma capacidade histórica de liderar os movimentos de contraponto a tais retrocessos. E lembrou que “os maiores pulos culturais da História não vieram do conforto”. Mas nos últimos anos, você também falou sobre a perda de influência dos artistas, sugerindo que os CEOs ocuparam esse lugar de relevância. Crê que a arte ou os artistas ainda podem mudar algo?

A pergunta é dolorosa. Quero acreditar, ou quero poder ver ainda um movimento artístico que derrube tudo isso, que crie uma nova utopia. Quando falo dos artistas, da geração beat, falo com o romantismo de quem teve meio pé naquela época. Dirigi o Julian Beck, que era amigo do Allen Ginsberg. Tive contato com Beck, com Beckett, sou uma ponte entre gerações, mas ninguém sabe o que vai acontecer. Assisti a uma palestra que me fez ver que estamos nos primeiros 20 anos da internet... E o que foram os primeiros anos da eletricidade, do avião? Estamos na infância disso. E já estamos nos desesperando com bombardeio de informações? Imagina como vai ser daqui a dez anos?

Em 2009, você escreveu um manifesto de adeus ao teatro, mas retornou. “Entredentes” (2014) o animou a continuar ou desanimou?

Desanimou. Foi uma das piores coisas que já fiz. E a culpa é só minha. Odiei o resultado. Não tem nada a ver com os atores (Ney Latorraca, Edi Botelho e Maria de Lima). Nunca dediquei tanto tempo a uma peça, mas foi um desastre. Nos ensaios eu confiava. Mas quando foi para o palco, e eu vi aquele cenário, aqueles panos, um Muro das Lamentações horroroso...

E agora, ainda pensa em criar uma peça?

Não volto ao teatro. Se surgir um convite interessante eu penso, mas ninguém me convida, então deixa quieto... Olha, tentei suicídio em janeiro de 2015, mas não deu certo. Penso todo dia em suicídio. Não estou parafraseando Beckett. Não consigo continuar. Escrevi essa biografia e o romance “The lost case of a brief case”. Estou exausto.

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O acervo milionário do banqueiro falido Edemar Cid Ferreira

SÃO PAULO - Com peças cujo lance mínimo pode chegar a R$ 1,1 milhão — caso da escultura “Vestal Reclinada com Pássaro” em granito, de Victor Brecheret — uma parte importante do acervo particular de Edemar Cid Ferreira, ex-dono do Banco Santos, que faliu em 2005, será leiloada na terça-feira, no Hotel Unique, em São Paulo. Entre os 214 lotes que serão ofertados — além de obras de arte, há também itens de mobiliário —, destacam-se ainda peças como “Anunciação”, fundição póstuma de escultura em bronze da artista Maria Martins, avaliada inicialmente em R$ 500 mil, e obras de grandes dimensões, como a instalação em ferro “Tríade Trindade”, de Tunga, morto recentemente, cujo preço inicial é de R$ 400 mil.

Há ainda as curvas inconfundíveis da cadeira reclinada de repouso “Rio”, assinada pelo arquiteto Oscar Niemayer, que está sendo oferecida com lance mínimo de R$ 35 mil.

Outros 500 itens, como fotografias, móveis e peças de decoração de autoria não definida, também da coleção do ex-banqueiro, poderão ser arrematadas eletronicamente até o dia 29, com lances feitos diretamente no site do leiloeiro Aloisio Cravo (aloisiocravo.com.br). Ao todo, a administração da massa falida do Banco Santos pretende vender 719 peças, avaliadas em R$ 10 milhões.

Segundo Cravo, a coleção de Cid Ferreira reúne um “conjunto eclético”:

— Toda coleção tem uma magia. E o colecionador, neste caso, era muito bem assessorado. Ele sabia o que queria e contava com bons conselheiros para adquirir as obras.

O conjunto tem raridades, como o óleo sobre tela “Menina no sofá” (1950), obra seminal de Djanira, que tem lance inicial de R$ 40 mil, e no início da semana passada já havia recebido ofertas de até R$ 56 mil. Ou “Negra”, tela da fase figurativa de Iberê Camargo, com preço inicial de R$ 75 mil.

Fazem parte da coleção que será apregoada na terça-feira trabalhos de Aldo Bonadei, Amilcar de Castro, Daniel Senise, Jorge Guinle, Nelson Leiner, Oscar Niemeyer e Rubens Gerchman, entre outros artistas. Das peças de mobiliário, destacam-se a luminária “Golden Ribbon”, de Ingo Maurer, originária da Alemanha, e antiguidades como o “Torso Romano Imperial”, do século II ou III D.C., e peças étnicas, como a “Máscara Ibibio”, da cultura Ekoi, na África.

Paralelamente aos leilões no Brasil, Vanio Aguiar, administrador da massa falida do Banco Santos, informa que outra parte da coleção de obras de arte de Cid Ferreira também está sendo ofertada em pregões no exterior. No início de outubro, a Sotheby’s, de Londres, vendeu a tela “Hannibal”, do americano Jean-Michel Basquiat, por cerca de R$ 40 milhões.

Veja as obras pertencentes a Edemar Cid Ferreira que serão leiloadas

O trabalho de Basquiat foi recuperado no exterior por meio de acordo com a Justiça dos Estados Unidos. Uma tela do pintor uruguaio Torres Garcia e outra do americano Roy Lichtenstein também foram recuperadas lá fora e repatriadas, mas enviadas de volta ao exterior para serem leiloadas.

— São obras mais caras, que não encontram compradores aqui, só têm mercado lá fora. Por isso, várias obras que recuperamos no exterior nem foram trazidas para cá — explica Aguiar, informando que cerca de 70 obras do ex-banqueiro já foram vendidas em países estrangeiros, num total de R$ 70 milhões.

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Airbnb agora oferece passeios guiados e dicas de moradores

RIO - Mais que hospedagem, o Airbnb passa a vender agora experiências de viagens. A partir desta quinta-feira, é possível contratar pelo site e pelo aplicativo passeios exclusivos, receber dicas de moradores locais e contactar outros viajantes. Além do já existente serviço de aluguel de imóveis por temporada.

BV Airbnb

O serviço por enquanto está presente em 12 cidades ao redor do mundo: Detroit, Londres, Paris, Nairóbi (Quênia), Havana, São Francisco, Cidade do Cabo, Florença, Miami, Seul, Tóquio e Los Angeles. Até o fim de 2017, mais 50 cidades entrarão neste catálogo, entre elas Rio e São Paulo.

A plataforma Trips é dividida em três áreas. "Experiences", "Places" e "Home". Na primeira estão as experiências, passeios exclusivos com pessoas que vivem em um local ou se destacam em uma área. Essas experiências serão divididas por temas, como arte, gastronomia, música, história etc.

Entre os exemplos apresentados nesta quinta pelo CEO da empresa, Brian Chesky, em um teatro de Los Angeles, está o de Jack Swart, ex-carcereiro, que leva visitantes à prisão de Robben Island, na África do Sul, para conhecer mais a história de Nelson Mandela.

Uma artesã de Seul, que ensina o ofício passado de geração em geração, uma "antropóloga gastronômica" que oferece um tour pelo mercado mexicano de Los Angeles e uma caça a trufas na Toscana são outros exemplos de passeios que poderão ser contratados via Airbnb, alguns de mais até dois ou três dias, outros de algumas horas de duração. Esses passeios são pagos e os preços variam. O pagamento é feito direto na plataforma do Airbnb, como na locação de quartos e casas.

Na categoria "Places", o serviço mais inovador é o chamado "Meet up", que mostra, em um mapa, outros hóspedes do Airbnb na região e permite que esses viajantes se encontrem.

Também há o espaço "Guidebooks", onde moradores ou anfitriões que se destacam em alguma área (um músico, uma arquiteta, um atleta...) dão dicas de programas ou lugares, de preferência fora do roteiro turístico convencional. No primeiro momento há cem guias, para seis cidades: Los Angeles, São Francisco, Havana, Nairóbi, Detroit e Seoul.

Neste mesmo campo também há audioguias, chamados "Audio walks", que ajudam o visitante a se guiar por determinadas áreas de, por enquanto, apenas Los Angeles. A previsão é de que São Francisco, Paris, Londres, Tóquio e Seul ganhem seus audioguias até o segundo trimestre de 2017.

A nova plataforma também permite que o usuário organize em um mesmo aplicativo todos os serviços contratados para e durante a viagem, como hospedagem, guias e experiências, juntando tudo em um único roteiro.

Durante a apresentação, Chesky afirmou que a expansão do Airbnb não para aí. Deixou entender que a empresa pretende atuar em áreas mais amplas, como passagens aéreas, aluguel de veículos, reserva de restaurantes e outros serviços turísticos.

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'Todos me copiam', diz a cantora e modelo jamaicana Grace Jones (webremix.info)


Lojas que oferecem reparos feitos por voluntários se espalham

BERLIM - Uma ideia surgida há sete anos na Holanda, o movimento do repair café (café de consertos), se espalhou rapidamente pelo mundo. Nesses 1.150 cafés, presentes em 29 países, mecânicos aposentados ou amadores dedicam parte do tempo a consertar de graça itens que vão da cafeteira à luminária com o objetivo de evitar o esbanjamento. upcycling

Durante a “Semana Internacional”, realizada recentemente em Berlim para celebrar o aniversário de sete anos, a jornalista holandesa Martine Postma, que abriu o primeiro Repair Café em Amsterdã, no dia 18 de outubro de 2009, afirmou que a política de “menos lixo e mais contato pessoal” é uma contribuição importante para a sustentabilidade. A ideia de consertar, em vez de pôr no lixo, já começa a ser descoberta pelos políticos como um mecanismo importante da política de meio ambiente.

Segundo Harald Marpe, da associação dos moradores no núcleo da Praça Clausener, o repair café reforça a ideia contra a sociedade de consumo.

— Na Europa, ninguém manda mais consertar os aparelhos que quebram porque muitas vezes os custos do conserto superam o da aquisição do produto novo — lembra Marpe, de 60 anos.

EMPURRÃOZINHO TRIBUTÁRIO

Na Praça Clausener, perto do Castelo de Charlottenburg, em Berlim, o repair café reforça a ideia de núcleo comunitário, embora o aspecto mais importante sejam as montanhas de lixo provocadas pelos aparelhos “descartáveis”. O que não era consertado acabava aumentando o lixo poluidor do meio ambiente ou era exportado para a África, como pneus velhos, o que contribui para elevar os problemas ecológicos desses países.

A reação ao repair café de Amsterdã foi explosiva. Em pouco tempo, cidades de Bélgica, Estados Unidos e Alemanha endossaram a ideia de que “consertar é criativo e sobrevive à moda”. Na Alemanha, o primeiro repair café foi aberto em 2012, em Colônia. Hoje, já existem unidades em países como Turquia e Gana.

Sinal de que a cultura do combate ao desperdício se espalha pela Europa foi a decisão do governo da Suécia de tentar estimular o conserto de objetos como sapatos e eletrodomésticos. O país planeja oferecer incentivos fiscais para o reparo de calçados, roupas, artigos de couro, têxteis e bicicletas. O imposto para o conserto destes itens deve ser reduzido de 25% para 12%, de acordo com um plano apresentado em setembro ao Parlamento.

A proposta é ainda mais abrangente. O governo sugere que os contribuintes possam ser restituídos por metade dos custos de mão de obra com o reparo de produtos como máquinas de lavar, geladeiras e fogões. A estimativa é que a mudança custe ao governo US$ 86,4 milhões. A interpretação do governo é que a população está disposta a consumir de forma mais sustentável e que o incentivo é bem-vindo.

Em práticas colaborativas, como o repair café, nada funciona comercialmente. O imóvel usado para o encontro de mecânicos e proprietários de aparelhos quebrados em busca de ajuda é emprestado por instituições municipais. Também a xícara de café tomada durante o encontro e as peças usadas nos reparos vêm de doações.

Segundo o engenheiro Birger Prüter, encarregado de técnica do meio ambiente e energia renovável da repartição distrital de Charlottenburg-Wilmersdorf, bairro central na antiga Berlim Ocidental, as prefeituras apoiaram imediatamente a ideia.

— Nada pode ser melhor para o meio ambiente do que o conserto e reaproveitamento de aparelhos — diz Prüter.

As reuniões em Charlottenburg-Wilmersdorf ocorrem na primeira quinta-feira de cada mês no salão de uma escola de alemão para estrangeiros, quase todos refugiados. Igor, um aposentado que sempre teve talento para consertar tudo, frequenta as reuniões regularmente. Em troca do contato social e da sensação de se sentir útil, ele dedica quatro horas por mês ao conserto dos aparelhos quebrados dos habitantes do distrito.

Gisela M., que vive num prédio vizinho, aproveitou para trazer a luminária que herdou da mãe e que havia deixado de funcionar.

— Confesso que não teria coragem de pôr essa peça de valor real e afetivo no lixo, mas as oficinas tradicionais de consertos, como ainda existem no caso dos sapateiros, desapareceram porque os custos quase sempre superavam o valor da aquisição — diz Gisela, feliz em ver que depois de apenas 20 minutos de ação, Igor fez a luminária voltar a funcionar.

Na fila de espera, vizinhos aguardam com aparelhos de toda sorte, desde cafeteiras a rádios, CD-players e até vitrolas antigas que já não são mais encontradas no comércio.

Na entrada da sala, Prüter registra todos os visitantes com nomes, endereços e objetos trazidos para o conserto. Quase todos são moradores do mesmo bairro, mas qualquer um pode levar algo para consertar.

LUXO DO LIXO

De acordo com Marpe, a febre do repair café não é um fenômeno isolado, porque faz parte de um processo antiglobalização, no qual as pessoas cultivam pequenos núcleos comunitários, onde se sentem mais protegidas do que no anonimato das grandes cidades.

Mesmo com seus 3,7 milhões de habitantes, parte dos moradores de Berlim ainda restringe seus hábitos a regiões menores. Alguns deles vivem, se divertem, fazem compras ou vão ao médico nos seus próprios bairros.

O conserto de produtos não é a única forma de consumo sustentável a ganhar espaço. A reutilização de sobras, resíduos ou produtos inutilizados para criar novas peças de maior valor, o chamado upcycling, também conquista novas fãs. A butique de “luxo do lixo”, de Eric Pieper, adota a prática e vende cintos feitos de pneus velhos. Segundo Pieper, o consumidor leva, junto com o produto, a história do material.

O upcycling é usado não somente na moda. Esculturas e outras obras de arte expressam também a ideia de que nada se perde, tudo se transforma, mesmo que com aparência e funções diferentes.

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Egberto Gismonti abre Festival Villa-Lobos com orquestra só de mulheres

RIO - Egberto Gismonti compôs, há cerca de dez anos, “Sertões veredas — Tributo à miscigenação”, uma suíte de 70 minutos de duração inspirada no universo de Guimarães Rosa. Quando quis gravar o diálogo entre referências que vão de Stravinski e Beethoven aos gêneros sertanejos, passando obviamente por Villa-Lobos, o compositor pensou que deveria fazer isso no Brasil. Ele conta que não conseguiu (“Faltava ou técnica ou a percepção do que era aquela música”, lembra). Fora do país diz ter encontrado o mesmo problema:

— Até que meu amigo Leo Brouwer (compositor cubano) me disse: “A melhor orquestra de música brasileira está em Cuba”. Ele falava da Camerata Romeu (orquestra cubana formada apenas por mulheres, criada e regida pela maestrina Zenaida Romeu). E tinha toda razão, o que percebi na primeira leitura delas de “Sertões veredas” (lançada em 2009, num dos discos do álbum duplo “Saudações”). Havia num momento uma expressão muito usada por Villa-Lobos, passada a ele por Mário de Andrade. E elas leram aquilo com enorme brasilidade. Elas têm toda a informação europeia profunda vinda da relação com a antiga União Soviética, e ao mesmo tempo têm uma munheca que conhece as cadências, os ritmos da América Latina.

Gismonti e a Camerata se reencontram nesta sexta-feira, às 20h, na Sala Cecília Meireles, para a abertura do Festival Villa-Lobos, no qual ele é o grande homenageado (veja outros destaques abaixo; a programação completa, que se espalha pela cidade, está no site festivalvillalobos.com.br). A apresentação de hoje terá ainda a participação da violinista Ana de Oliveira e do clarinetista José Batista Júnior. Juntos, eles mostram, além de quatro movimentos de “Sertões veredas”, outras músicas do repertório do compositor de 68 anos, como “Forrobodó” e “7 anéis”. O concerto se repetirá em Santos (dia 8) e em São Paulo (dia 10).

No ensaio para o encontro, num estúdio do Cosme Velho cercado de vegetação da Mata Atlântica, o entendimento entre Gismonti, a maestrina Zenaida e as 16 instrumentistas da Camerata Romeu é evidente. O compositor interrompe poucas vezes, com observações específicas sobre acentuações e cadências, e tem resposta imediata da orquestra. As peças, complexas, seguem com uma fluidez que leva Gismonti a brincar (“Essas músicas são coisa de criança”) e a se dedicar a explicar à orquestra, antes de tocarem “Forrobodó”, a possível origem da palavra “forró” (os bailes “for all” promovidos por militares americanos instalados no Nordeste na época da Segunda Guerra).

— O forrobodó é quando o sujeito vai ao forró e fica meio “borracho” (bêbado, em espanhol) — diz, para o riso das instrumentistas, que sinalizam que estão ansiosas pelas caipirinhas brasileiras. — Ah, essa é a Camerata de que eu gosto. Vamos tomar umas talagadas antes de tocar essa, senão não fica “Forrobodó”.

Fora do ensaio, Gismonti diz que se sente muito à vontade no diálogo com a Camerata Romeu — e explica o porquê:

— Conheço Cuba muito bem. Visitei o país pela literatura, por sua arte naïf, por sua música, além de ter rodado as cidades. Então falo com elas com muita proximidade, como quando disse no ensaio, para explicar um ritmo: “Vocês se lembram dos tambores de Matanzas? É aquilo”. E elas entendem de cara. E podemos brincar muito porque a Camerata tem técnica e segurança para isso. No palco, elas não usam partitura para nada. Acho isso fantástico, porque, quando você decora algo, aquilo passa a ser seu.

“REPERTÓRIO DE SEGUNDA CLASSE”

Criada em 1993 como a primeira orquestra de cordas feminina da América Latina, a Camerata Romeu se afirmou — mais do que pelo ineditismo da formação feminina — pela atenção ao repertório latino-americano, sobretudo cubano.

— Quando começamos, sofremos muito preconceito por sermos uma orquestra voltada para a música latina, considerada um repertório de segunda classe — conta Zenaida. — Tocamos compositores europeus, norte-americanos, mas nossos pressupostos eram conhecer e nos aprofundar nos valores da cultura latino-americana.

A relação de Zenaida com a música de Gismonti é bem anterior a “Sertões veredas”, lembra a maestrina:

— Em Cuba, todos os músicos de vanguarda conhecem Gismonti, as ideias que ele provoca. Minha aproximação com ele se deu por “Homenaje a Gismonti”, composta por Arturo Márquez. É uma peça que usa os procedimentos de Gismonti, seu pensamento, mas numa música mexicana. Quando eu o conheci, a Camerata a tocava. Eu o presenteei com a partitura que usava. No dia seguinte, ele já tinha estudado a partitura e deu seu aval à composição, como que dizendo que Arturo tinha entendido sua música.

No encerramento do Festival Villa-Lobos, no dia 15, Gismonti volta à Sala Cecília Meireles ao lado do Duo a Zero (de seu filho, Alexandre Gismonti, e Jean Charnaux), de Daniel Murray e da Orquestra Corações Futuristas. Afeito ao encontro, o compositor chama a atenção para o fato de sua música carregar essa abertura em si. Como exemplo, lembra que sua “Bodas de prata” foi gravada em contextos diversos, por intérpretes como Sarah Vaughan, Wayne Shorter, Yo-Yo Ma e Martha Argerich.

— E de 90% dessas gravações eu participei, tocando praticamente do mesmo jeito — diz, antes de comentar a afinidade com a Camerata Romeu. — Elas têm uma facilidade de compreensão muito ampla do pensamento rítmico brasileiro.

Zenaida nota o “tronco comum”, a presença do negro. Gismonti rebate que há, unido a isso, um desejo de olhar para dentro da própria cultura:

— É difícil encontrar isso na África, que está cheia de franceses e alemães que valorizam a linguagem europeia. Nós nos entendemos, apoiados sobretudo na melhor definição que existe para a música: ela tem que dar a quem ouve a esperança de que a vida vale a pena.

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Livro organizado por Crivella sustenta que mulher seja submissa ao marido (webremix.info)


Oscar anuncia lista com os 84 concorrentes de 'Pequeno segredo'

RIO — A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela organização do Oscar, anunciou nesta terça-feira a lista com os filmes inscritos na categoria de melhor filme estrangeiro de 2017. Entre os 84 candidatos que vão concorrer com o brasileiro "Pequeno segredo", de David Schurmann, estão "Elle", de Paul Verhoeven e "Afterimage", último filme do polonês Andrzej Wajda, morto no domingo.

No Brasil, a escolha de "Pequeno segredo" foi cercada por polêmicas. Além de o longa ser desconhecido quando a indicação foi feita, cineastas criticaram a escolha por acreditarem que "Aquarius", de Kleber Mendonça Filho, seria o candidato natural. Houve acusações de manipulação política, já que Mendonça chamou o impeachment de "golpe" quando apresentou seu filme em Cannes.

Os 85 concorrentes de todo o mundo serão reduzidos a uma lista de apenas cinco indicados, que serão conhecidos no dia 24 de janeiro do ano que vem.

Confira a lista completa:

África do Sul, “Call Me Thief”, de Daryne Joshua;

Albânia, Chromium", de Bujar Alimani;

Alemanha, “Toni Erdmann”, de Maren Ade;

Arábia Saudita, “Barakah Meets Barakah”, de Mahmoud Sabbagh;

Argélia, "The Well", de Lotfi Bouchouchi;

Argentina, "The Distinguished Citizen" de Mariano Cohn e Gastón Duprat;

Austrália, "Tanna", de Bentley Dean e Martin Butler;

Áustria, "Stefan Zweig: Farewell to Europe", de Maria Schrader;

Bangladesh, "The Unnamed", de Tauquir Ahmed;

Bélgica, “The Ardennes”, de Robin Pront;

Bolívia, “Sealed Cargo”, de Julia Vargas Weise;

Bósnia e Herzegovina, “Death in Sarajevo”, de Danis Tanovic;

Brasil, “Pequeno segredo”, de David Schurmann;

Bulgária, “Losers”, de Ivaylo Hristov;

Camboja, “Before the Fall,” de Ian White;

Canadá, “It’s Only the End of the World”, de Xavier Dolan;

Cazaquistão, “Amanat”, de Satybaldy Narymbetov;

Chile, “Neruda”, de Pablo Larraín;

China, “Xuan Zang”, de Huo Jianqi;

Colômbia, “Alias Maria”, de José Luis Rugeles;

Coreia do Sul, “The Age of Shadows”, de Kim Jee-woon;

Costa Rica, “About Us”, de Hernán Jiménez;

Croácia, “On the Other Side” de Zrinko Ogresta;

Cuba, “The Companion”, de Pavel Giroud;

República Tcheca, “Lost in Munich”, de Petr Zelenka;

Dinamarca, “Land of Mine”, de Martin Zandvliet;

Equador, “Such Is Life in the Tropics”, de Sebastián Cordero;

Egito, “Clash”, de Mohamed Diab;

Eslováquia, “Eva Nová”, de Marko Skop;

Eslovênia, “Houston, We Have a Problem!”, de Žiga Virc;

Espanha, “Julieta”, de Pedro Almodóvar;

Estônia, “Mother”, de Kadri Kõusaar;

Filipinas, “Ma’ Rosa”, de Brillante Ma Mendoza;

Finlândia, “The Happiest Day in the Life of Olli Mäki”, de Juho Kuosmanen;

França, “Elle”, de Paul Verhoeven;

Geórgia, “House of Others”, de Rusudan Glurjidze;

Grécia, “Chevalier”, de Athina Rachel Tsangari;

Holanda, “Tonio”, de Paula van der Oest;

Hong Kong, “Port of Call”, de Philip Yung;

Hungria, “Kills on Wheels”, de Attila Till;

Iêmen, “I Am Nojoom, Age 10 and Divorced", de Khadija Al-Salami;

Islândia, “Sparrows”, de Rúnar Rúnarsson;

Índia, “Interrogation”, de Vetri Maaran;

Indonésia, “Letters from Prague”, de Angga Dwimas Sasongko;

Irã, “The Salesman”, de Asghar Farhadi;

Iraque, “El Clásico”, de Halkawt Mustafa;

Israel, “Sand Storm”, de Elite Zexer;

Itália, “Fire at Sea”, de Gianfranco Rosi;

Japão, “Nagasaki: Memories of My Son”, de Yoji Yamada;

Jordânia, “3000 Nights”, de Mai Masri;

Kosovo, “Home Sweet Home”, de Faton Bajraktari;

Letônia, “Dawn”, de Laila Pakalnina;

Líbano, “Very Big Shot”, de Mir-Jean Bou Chaaya;

Lituânia, “Seneca’s Day”, de Kristijonas Vildziunas;

Luxemburgo, “Voices from Chernobyl”, de Pol Cruchten;

Macedônia, “The Liberation of Skopje”, de Rade Å erbedžija e Danilo Å erbedžija;

Malásia, “Beautiful Pain”, de Tunku Mona Riza;

México, “Desierto”, de Jonás Cuarón;

Montenegro, “The Black Pin”, de Ivan Marinović;

Marrocos, “A Mile in My Shoes”, de Said Khallaf;

Nepal, “The Black Hen”, de Min Bahadur Bham;

Nova Zelândia, “A Flickering Truth”, de Pietra Brettkelly;

Noruega, “The King’s Choice”, de Erik Poppe;

Paquistão, “Mah-e-Mir”, de Anjum Shahzad;

Palestina, “The Idol”, de Hany Abu-Assad;

Panamá, “Salsipuedes”, de Ricardo Aguilar Navarro e Manolito Rodríguez;

Peru, “Videophilia (and Other Viral Syndromes)”, de Juan Daniel F. Molero;

Polônia, “Afterimage”, de Andrzej Wajda;

Portugal, “Letters from War”, de Ivo M. Ferreira;

Quirguistão, “A Father’s Will”, de Bakyt Mukul e Dastan Zhapar Uulu;

Reino Unido, “Under the Shadow”, de Babak Anvari;

República Dominicana, “Sugar Fields”, de Fernando Báez;

Romênia, “Sieranevada”, de Cristi Puiu;

Rússia, “Paradise”, de Andrei Konchalovsky;

Sérvia, “Train Driver’s Diary”, de Milos Radovic;

Singapura, “Apprentice”, de Boo Junfeng;

Suécia, “A Man Called Ove”, de Hannes Holm;

Suíça, “My Life as a Zucchini”, de Claude Barras;

Taiwan, “Hang in There, Kids!”, de Laha Mebow;

Tailândia, “Karma”, de Kanittha Kwunyoo;

Turquia, “Cold of Kalandar”, de Mustafa Kara;

Ucrânia, “Ukrainian Sheriffs”, de Roman Bondarchuk;

Uruguai, “Breadcrumbs”, de Manane Rodríguez;

Venezuela, “From Afar”, de Lorenzo Vigas;

Vietnã, “Yellow Flowers on the Green Grass”, de Victor Vu.

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Jack Sparrow é procurado em nova arte de 'Piratas do Caribe'

Joachim Ronning ficou muito feliz com a repercussão positiva do trailer de  Piratas do Caribe: A ... (webremix.info)


Festival do Rio: Denis Villeneuve faz sua estreia na ficção científica em ‘A chegada’ (webremix.info)


Jô Soares dedica programa a Domingos Montagner nesta terça

RIO - Domingos Montagner será homenageado no "Programa do Jô" desta terça-feira, dia 20. O ator, morto na última quinta-feira, dia 15, será citado pelo apresentador logo na abertura do programa. “Eu sou a vida incessante que corre nas águas do rio”. Com esse verso, Jô Soares acrescenta às palavras de Mary Elizabeth Frye, no poema “Não chore à beira do meu túmulo”, a sua homenagem ao ator que interpretou o Santo de "Velho Chico". Links Montagner sexta 1

Pela primeira vez na atração, a atriz Selma Egrei, colega de elenco de ‘Velho Chico’, comenta como está o clima após a fatalidade. “É muito difícil de entender e de aceitar. Foi muito repentino e absurdo”, lamenta.

O apresentador também destaca que estava à procura de uma brecha na agenda de Domingos para convidá-lo a participar do talk show. “Esse trabalho me chamou muito a atenção. Quando vi uma cena dele na novela, ele me lembrou muito o Juca de Oliveira mais novo”, conta Jô.

Além de abordar a morte repentina de Domingos, a conversa com Selma também passa por sua personagem em ‘Velho Chico’, Dona Encarnação, que completou 100 anos na trama. Selma revela curiosidades da caracterização, como o truque da aplicação de látex na pele, para delimitar e criar novas rugas. A atriz também relembra a carreira, que inclui diversos trabalhos no cinema e, principalmente, no teatro. Entre os grandes amigos e inspirações, o diretor Antônio Abujamra é responsável pelo retorno de Selma às artes cênicas após 10 anos afastada para estudar terapia ocupacional: “Abu foi meu mestre no teatro. Tive o privilégio de conviver com ele e disse que só voltaria a atuar quando ele voltasse a dirigir no teatro”.

Assim, um dia, Selma conta que recebeu uma ligação do amigo e o convite de retornar aos palcos. “Não sou de projetos, aguardo o que a vida vai trazer”, compartilha.

O segundo entrevistado da noite é o médico otorrinolaringologista Rodrigo Oliveira Santos. Especialista em cirurgia de cabeça e pescoço, o professor da Escola Paulista de Medicina realizou em abril uma viagem ao Benin, na África, para realizar operações em adultos e crianças que moram no país, e conta como foi a experiência. Acompanhado de uma equipe de 20 profissionais, o grupo custeou a viagem e o material cirúrgico com a venda de rifas. Uma das dificuldades para o médico foi, além da infraestrutura precária no local, a comunicação com os pacientes. Por isso, tradutores auxiliaram os profissionais durante os procedimentos cirúrgicos.

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Brasil leva capoeira da paz a congoleses (webremix.info)


Cia. dos Mysterios mescla teatro de revista e história africana do Rio

RIO — As luzes se apagam, e no meio da plateia surge um ator que começa a se contorcer e a cantar músicas que remetem a línguas de matrizes africanas. Os sons de atabaques ao vivo, tocados avidamente por um dos integrantes da companhia, mergulham o espectador na atmosfera de referências do candomblé. Como um “cavalo”, incorpora um espírito, e ao começar a falar, a esquete chega ao seu clímax: o personagem só recita versos de Gilberto Gil (“Num adianta suncê me abandonar/ Mistério sempre há de pintar por aí....”). A plateia vem abaixo. A referência carinhosa é uma das muitas cenas do espetáculo “Cabaret Mystico”, que a Cia. de Mysterios e Novidades encena em sua sede, num galpão na Gamboa, até a próxima semana, depois de quase dois meses com fila na porta todas as sextas-feiras.

Há outras passagens memoráveis: em texto de criação coletiva, o grupo usa a tessitura das culturas indígena e africana que conta a origem da região portuária do Rio, para montar esquetes que usam a linguagem dos antigos cabarés. Há cenas com ventríloquos, bailarinas de can-can, mágicos, pernas-de-pau, pierrôs, colombinas, há até um King Kong a irromper do quintal, tal qual um circo dos tempos de antanho. E há música: acompanhando os atores, uma banda formada por instrumentistas da região anima cada esquete burlesca com cordas, sopros, metais e atabaques.

— É um cabaré carioca. Em todos os nossos trabalhos fazemos referências à cultura brasileira, à história da Pequena África, região onde fica a nossa sede já há quase dez anos, este lugar precioso nesta cidade. Neste espetáculo, que fizemos para comemorar os 35 anos da companhia, não seria diferente — comenta Lígia Veiga, diretora do espetáculo e uma das fundadoras da Companhia, que nasceu em São Paulo, em 1981. — A ideia de usar as referências ao teatro de feira, teatro de revista, teatro de vanguarda russo, cabarés e circos remonta à própria história do grupo, é uma grande costura de outros trabalhos que já tínhamos feito.

O sucesso deste espetáculo chamou a atenção de Lígia: apesar de ter público cativo na região, desde que começaram a apresentar o “Cabaret Mystico” há filas de espectadores na porta do galpão, à espera de vagas para sessões lotadas — em que moradores do bairro entram gratuitamente (alguns, depois de oficinas da companhia, passaram a integrar o grupo, como é o caso do ator Fabio Costa, que interpreta a entidade que só fala versos de Gilberto Gil).

— Estreamos no dia da abertura da Olimpíada (o espetáculo foi um dos selecionados no edital Fomento Olímpico da prefeitura) e achávamos que não vinha ninguém. Vieram 60 pessoas. Desde então, é lotado todo dia, por isso faremos sessões extras. É a nossa forma de resistência, mas infelizmente o dinheiro era pouco e se acabou — desabafa a diretora, lembrando que todo o trabalho de arte pública da companhia fora das peças não tem qualquer financiamento.

SERVIÇO:

“Cabaret Místico”

Onde: Rua Pedro Ernesto 21 e 23, Gamboa (22524103). Quando: Hoje, amanhã e dia 25, às 21h; dom., às 18h. Quanto: Hoje e dia 25, R$ 10. Sab. e dom., R$ 30. classificação: Livre.

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Os Jogos e a economia criativa

O legado da Rio 2016 certamente será objeto de muitos estudos e textos de especialistas, sob diversos pontos de vista: da economia, da cidadania, da mobilidade, do urbanismo, entre outros. Mas há uma conquista que se evidencia na maneira com que os moradores ocuparam a cidade, com a revitalização do Centro e da Zona Portuária: o Rio se reencontra com a sua história, com a sua cultura e com o jeito de ser carioca. E é muito importante entender o significado deste resgate na hora de construir um projeto para o Rio depois da Olimpíada. A cultura é um valor econômico.

Já há algum tempo, a ONU entende que as novas tecnologias e a organização da sociedade do conhecimento em rede geram oportunidades para atividades derivadas da cultura, como produção audiovisual, música, artes, gastronomia, moda, design, games e softwares. É a chamada economia criativa, baseada na inovação e na criação de valor, tendo cultura e criatividade como matéria-prima. O setor, segundo a Firjan, já representa 2,6 % do PIB nacional e gera empregos num ritmo acima da média da economia tradicional.

Nesse sentido, as obras na região nos deram muito mais que a Orla Conde, o VLT , o Boulervard Olímpico e museus. Reviraram pedras e entulhos que escondiam uma parte importante da formação do Rio. Resgataram elementos culturais que podem trazer mais valor para a cidade. Não são apenas marcos históricos, monumentos recuperados. Mas a expressão da nossa cultura, das nossas origens. Talvez por isso tenham sido tão rapidamente incorporados à vida da cidade. O samba voltou com força à Pedra do Sal, a feijoada é celebrada nos bares da região, o lugar ganhou cores da África.

Por que parece tão importante destacar estas manifestações, entre tantas atrações que a cidade oferece? O Rio se tornou uma cidade internacional e muitas de suas características foram sendo desfiguradas por uma estética e costumes padronizados. Sumiram muitos restaurantes portugueses, edifícios espelhados ocuparam o lugar de prédios históricos, e a música internacional dominou muitas de nossas casas de espetáculos. Nada contra. Mas os turistas, nestes tempos de mundo globalizado, visitam cidades em busca de conexões vivas com a arte, a música, a gastronomia, a história do lugar. Desejam trocar experiências reais com o povo e a cultura da cidade.

Neste ponto, é importante ressaltar que a cultura ajuda o turismo, e o turismo é um forte indutor para o crescimento da economia do Rio. O turismo vai além dos nossos cartões postais: Corcovado, Pão de Açúcar, praias lindas e Maracanã. A cidade apresenta a opção de um turismo mais qualificado, de maior permanência e envolvimento, o turismo de convivência. E isto nem toda cidade pode oferecer: a roda de samba, a celebração do pôr do sol no Arpoador, a dança do passinho, a comida de botequim, o altinho na praia. Esse cardápio da diversidade cultural foi ampliado com a redescoberta da área portuária. E crescerá com a requalificação de espaços urbanos e a recuperação de prédios públicos históricos.

Na sociedade em rede, em que se estabelecem novas conexões na forma de abordar questões antigas, o Rio se apresenta como lugar propício ao desenvolvimento desta nova economia, que se vale da cultura e do conhecimento para conectar o local com o global. Para transformar cultura em valor. Bairros recriados, VLT ligando passado e futuro, coletivos, escritórios compartilhados, hostels, ciclovias, eventos financiados por crowdfunding... Sem dúvida, a economia criativa é um caminho para o novo Rio, que renasceu com a Olimpíada. Um Rio melhor. Aqui e agora.

Sandra Sanches é jornalista e integra o Núcleo de Economia Criativa da Escola Superior de Propaganda e Marketing

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Guia mapeia atrações e novidades da Chapada Diamantina

RIO - Há trilhas na Chapada Diamantina que levam a cavernas e cachoeiras de águas azuis cristalinas, num cenário com espécies de flores e fauna abundantes pouco explorado, desconhecido de muitos. Não à toa, tanto há a percorrer: o Parque Nacional da Chapada Diamantina, que fica a cerca de 430 quilômetros de Salvador, ocupa um território de 1,5 mil quilômetros quadrados do noroeste baiano, abriga 24 municípios, mais de 300 cachoeiras e 150 grutas.

BV-Bahia

Quem vai até lá garante que a experiência é única. Pois agora, ficou mais fácil chegar. Foi lançado este ano o “Guia completo da Chapada Diamantina”, publicação que contém informações não só sobre trilhas e locais mais famosos, como o Vale do Pati e o Poço Encantado, como cataloga caminhos que antes não eram mapeados — e que levam a cachoeiras desertas, como a da Encantada, ainda pouco visitada por turistas. São 21 novas atrações, que vão desde atividades de aventura criadas agora até rotas recentemente reveladas para passeios já conhecidos.

Guia em formato digital

O guia foi elaborado em parceria com os agentes de turismo da região. Ele está disponível em formatos de revista impressa, ao preço de R$ 49; de aplicativo, gratuito, para os sistemas operacionais IOS e Android; e também no site oficial da publicação.

Além dos passeios pela natureza, o mapeamento inclui todas as pousadas, hotéis e albergues das cidades, além dos locais, no parque e fora dele, onde é possível acampar. Os municípios da chapada ainda oferecem atrativos gastronômicos, históricos e culturais. Os principais pontos de partida para quem vai entrar pelo parque é a cidade de Lençóis, mas outros municípios como Andaraí e Palmeiras também oferecem boas opções de acomodação.

Para Branca Pires, uma das responsáveis pelo guia, conhecer toda a área requer tempo e organização:

— É preciso ficar no mínimo cinco dias na chapada, para conseguir conhecê-la devidamente. Os atrativos estão longe uns dos outros, e um dos benefícios do guia é que ele está dividido por regiões, facilitando muito a localização das informações.

Em cada bloco, continua Louise, o leitor encontra um descritivo geral das cidades, seus principais atrativos, serviços turísticos e mapa. Desta forma, o turista pode se localizar no município e saber, por exemplo, onde está a sua pousada, sua agência ou alguma loja que deseje ir.

Algumas atividades de aventura chegaram há pouco tempo à região. Profissionais e empresas capacitados já oferecem voos livre e de paramotor, além de stand-up paddle em algumas áreas. Outros passeios tradicionais da chapada foram reeditados. É o caso dos quatro novos roteiros do Vale do Pati, o belo e mais conhecido da região, mas que também só pode ser feito com guia.

Já entre os caminhos pouco visitados e que estão mapeados, há as cachoeiras do município de Itaetê, um dos segredos mais bem guardados da região. As quedas d’água de Herculano, Encantada e Bom Jardim são acessíveis via caminhadas de níveis que variam entre fácil e intermediário, pela mata baixa, típica do semiárido. No caminho, répteis, aves e mamíferos — entre eles o rato-de-espinho e o morceguinho-do-cerrado — podem ser avistados.

Aliás, a Diamantina é ponto importante para a observação de pássaros. Estão ali espécies endêmicas, como o beija-flor-de-gravata-verde, a gralha do cerrado e a rolinha-do-planalto. Outras usam o local como parada em suas rotas de viagens pelo planeta. Mais de 300 espécies de aves circulam por ali. O semiárido é um dos ecossistemas mais ricos do mundo, com uma das maiores diversidades em espécies de flores. Na chapada, é possível observar orquídeas, bromélias e sempre-vivas endêmicas, que florescem todo o ano.

Na visita à região, a ida ao Morro do Pai Inácio, cartão-postal, e o mergulho no Poço Azul não podem ficar de fora. Alguns passeios podem ser feitos a pé, mas na maioria, melhor usar o carro, já que as distâncias são grandes. E, lembre-se, sempre acompanhado de profissionais.

Arte rupestre, turismo rural e comunitário

Para os turistas que vão à Chapada Diamantina, o contato com a natureza virgem é o ponto alto. Mas não só de fauna e flora vive a região. Sua arte rupestre é uma das mais ricas do país: muitas obras já estão mapeadas e merecem ser visitadas.

A principal delas fica no município de Morro do Chapéu, na área que é conhecida como a Chapada Norte. São mais de 200 sítios arqueológicos, todos integrantes do “Programa de pesquisa e manejo de sítios de arte rupestre e circuitos arqueológicos da Chapada Diamantina”, desenvolvido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Com território diferenciado e único, o Morro do Chapéu apresenta um verdadeiro mosaico de pinturas, com formas geométricas e abstratas. Em Jacobina, conhecida como a “Cidade do ouro”, também é possível viajar por esta arte milenar.

Rural e comunitária

Há ainda opções de turismo rural, que consegue aliar o que há de melhor na região com atividades como cavalgadas e degustação de alimentos locais. A produção de cachaça artesanal, que já é um clássico pelo interior do Brasil, é um dos exemplos. Na Fazenda Pousada Vaccaro, localizada na cidade de Rio das Contas, é possível não apenas degustar a mais nacional das bebidas, como participar do processo de produção. Assim como praticar tirolesa e rapel.

No guia, também estão listadas atividades de turismo comunitário. Uma delas é promovida pela Associação Grãos de Luz, sediada em Lençóis, que desenvolve um projeto pedagógico de educação informal nas comunidades da região. A inspiração vem do Griô, um personagem mítico que percorria os sertões da África, contando as histórias do seu povo.

Através das trilhas griôs, podem ser seguidos vários roteiros turísticos, combinando hospedagem em comunidades quilombolas e assentamentos, com banho de rios e cachoeiras, oficinas para fabricação de produtos artesanais, rodas de conversa e apresentações culturais. A agência Trilhas Griô, formada por jovens nativos, realiza estes passeios, feitos ao som de canções regionais.

HISTÓRIA DO GARIMPO

Conhecer o Rancho do Garimpeiro, na cidade de Lençóis, é uma outra forma de entrar na vida dos moradores. O espaço é dedicado à preservação da memória do garimpo de serra, atividade que foi muito difundida na região. Ali, há ferramentas, roupas e ranchos de taipa e barro onde esses trabalhadores se abrigavam. Além da réplica dos locais em que eles buscavam as pedras.

Festivais, arte e gastronomia

Os 24 municípios integrados à Chapada Diamantina têm brilho próprio: contam com atrações culturais, como festivais, e outros eventos que acontecem ao longo de todo o ano. É possível se hospedar em qualquer um deles, mas Lençóis costuma ser o principal ponto de partida para atividades turísticas. Por lá, opções culinárias não faltam. A cidade oferece opções que vão desde a cozinha contemporânea, em restaurantes como o Azul e o Cozinha Aberta, até outras voltadas para a gastronomia local, como o Fazenda e Cia.

Outro destaque no município são os tours pelos ateliês da cidade. Na Rua das Pedras, fica o de dona Edite, onde estão expostas as peças que ela confecciona desde pequena, em palha de coco e barro, como cestos e panelas. Ana Barros é outra com ateliê na mesma via, que já virou ponto turístico da região. Há mais de 20 anos, a artista cria bonecos que retratam a vida das mulheres quilombolas e nordestinas, através de materiais como papel machê e tecido.

Mais um ponto de visitação que tem feito sucesso na cidade: o Lavanda da Chapada, projeto que surgiu em 2015 e abarca 30 pessoas de uma mesma família, que cultivam a flor conhecida como lavanda-do-mar, de longa durabilidade após a colheita. Na visita, é possível acompanhar todo o processo de cultivo e o cuidado com a planta que, como diz o nome, é nativa da região. Os buquês colhidos estão expostos permanentemente no aeroporto de Lençóis.

Em Igatu, distrito de Andaraí — um dos principais municípios da região, localizado a cerca de 100km de Lençóis — está a Galeria Arte & Memória, um museu a céu aberto, montado entre ruínas de antigas habitações, evidenciando a presença garimpeira por ali durante o século XIX e exaltando os vestígios dessa ocupação.

O espaço está incorporado a um conjunto de habitações garimpeiras, totalmente em ruínas, remanescente da época áurea da mineração de diamantes na Bahia. O local agrega um acervo de arte contemporânea e promove exposições de diferentes vertentes artísticas. No local, também estão expostos utensílios usados naquela ocasião.

É possível conhecer de perto uma antiga mina, reaberta por ex-garimpeiros do distrito para receber turistas. Durante a visita, eles próprios apresentam um pouco da história do ofício na região, incluindo ferramentas específicas e uma curiosa instalação artística: no salão principal, estão expostas esculturas representando os homens que trabalhavam no local. A obra foi produzida pelos empreendedores sob a direção do artista plástico Marcos Zacaríades. Na entrada da mina, ainda há um poço para banho, e a taxa de visitação sai a R$ 5.

A arte local da chapada é, de longe, o principal atrativo das cidades, e conhecer as formas de produção são programas que não faltam pela região. No município de Morro do Chapéu, a cerca de 160km de Lençóis, é possível visitar a Associação de Bordadeiras e Artesãos Morrenses, de graça, mas com visitação agendada. O grupo elabora produtos que contam o cotidiano da população baiana do semi árido. Em pinturas e peças de madeira e cerâmica. A entidade oferece cursos, e os trabalhos produzidos estão no Mercado Cultural de Morro do Chapéu.

A alta temporada na região vai de abril a novembro, mas há programação o ano inteiro, com diversos festivais e eventos turísticos. Entre eles estão o Ressonar, a Mostra de Dança e o Festival de Lençóis (todos em Lençóis) e o Escalada de Igatu Boulder (em Igatu, distrito de Andaraí).

Dicas para explorar a região

Melhor época. A alta temporada vai de abril a novembro, sendo que muitas trilhas e passeios têm o número de frequentadores controlado. O ideal é reservar com antecedência.

Apoio. É fundamental contratar guias: há trilhas longas e cenários desertos.

Preservação. Obedeça às regras já conhecidas: não deixe rastros, leve seu lixo embora, não interaja com os animais. Fazer fogueira é proibido.

O que levar? Tênis para caminhada, roupa leve, protetor solar, chapéu, óculos escuros e repelente.

(webremix.info)


Links : Artes africanas e do Cararibe

carlapeairo-chCarla Peairo

Pinturas da Artista Plastica angolana Carla Peairo residente na Suíça.
Aquarelas, acrilicos, tecnica mista, mais de 50 obras expostas que traduzem o amor da vida, a solidariedade humana, a coesão.



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