Educação

Notícia : Educação

Presidente da África do Sul anuncia mudança de gabinete

O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, anunciou nesta terça-feira uma reorganização de seu gabinete, efetuando uma troca de seis ministros. A troca mais notória foi a do ministro de Educação Superior, Blase Nzimande, que foi substituído pelo então ministro de Assuntos Internos, Hlengi Mkhize.Já o vice de Nzimande, Mduduzi Manana, foi substituído pelo ex-vice-ministro de Planejamento e Monitoramento da Presidência, Buti Manamela. [Leia mais...] (webremix.info)


Negros são maioria entre população mais pobre no Brasil (webremix.info)


Prêmio de tecnologia social tem inscrições prorrogadas (webremix.info)


Iniciativas Sustentáveis em São Paulo no SESC Vila Mariana (webremix.info)


Prêmio de tecnologia social seleciona projetos do Brasil, América Latina e Caribe  (webremix.info)


Começa a corrida para a oitava edição do Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza   (webremix.info)


Desemprego e informalidade assolam mulheres da América Latina (webremix.info)


Brasil precisa investir R$ 317 bi em 20 anos para universalizar saneamento (webremix.info)


Portal de indicadores da educação (webremix.info)


Rihanna receberá prêmio humanitário da Universidade de Harvard

RIO — Poucos dias depois de garantir sua 30ª canção na parada da Billboard, Rihanna vai ser premiada por um lado menos conhecido de sua carreira. A cantora, designer e atriz receberá o Prêmio Humanitário do Ano da Universidade de Harvard, na próxima terça-feira.

“Rihanna contruiu um centro de excelência de oncologia e medicina nuclear para diagnosticar e tratar câncer de mama no hospital Rainah Elizabeth, em Bridgetown, Barbados”, disse o diretor da Fundação Harvard, S. Allen Counter, em nota.

Além disso, ahonraria será entregue a Rihanna por seu trabalho na Fundação Clara e Lionel, batizada em homenagem aos avós da cantora. A fundação promove a educação no Caribe e ajuda estudantes locais a fazerem faculdade nos EUA. Rihanna também apoia a Global Partnership for Education e o Global Citizen Project, campanha para garantir acesso a educação a criançar em mais de 60 países.

RECORDE NA BILLBOARD

Além da filantropia, Rihanna também segue bem sucedida em sua carreira musical. A canção "Love on the Brain” se tornou a 30ª em sua carreira a chegar ao Top 100 da Billboard. Com isso ela ultrapassou Michael Jackson, que tem 29 músicas na parada de sucessos, ficando atrás apenas de Madonna (38) e dos Beatles (34).

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Paulinho da Viola não deve desfilar na Portela este ano

RIO - É possível que Paulinho da Viola não desfile na Portela esse ano — mas é bem possível também que, na hora agá, ele se meta em um terno azul e branco, enfie um chapéu na cabeça e vá pra Avenida desfilar. Paulinho ainda não sabe. O compositor de “Foi um rio que passou em minha vida”, uma das inspirações para o enredo da escola em 2017, sabe e não sabe um monte de coisas — e isso, aos 74 anos de idade, é uma virtude e tanto.

Paulinho não sabe se sai ou não sai na sua escola de coração, se a plaina que acabou de montar para sua marcenaria vai funcionar direitinho, se a camisa que escolheu para a foto de capa está mesmo o.k. e, enfim, não sabe ainda quando vai poder dar uma volta no quarteirão dirigindo seu Karmann-Ghia vermelho que, depois de 10 anos de restauração, está tinindo de novo na garagem. Por outro lado, ele sabe muito bem, por exemplo, que o samba da Beija-Flor é o melhor do ano, que o Vasco precisa arrumar um bom lateral esquerdo se não quiser fazer feio no Brasileirão, que as baterias das escolas têm que voltar a respeitar a síncope do samba, que o racismo é uma questão a ser enfrentada com urgência no Brasil e, acima de tudo, que neste domingo, lá pelas cinco da tarde, vai estar suando em cima de um caminhão na Praça Paulo da Portela, em Oswaldo Cruz, no desfile do Timoneiros da Viola. Paulinho vai estar ali para cantar e para ver as meninas.

As meninas, no caso, são Beatriz e Cecília, duas de suas filhas, nascidas do casamento com Lila Rabello — ao todo Paulinho tem sete filhos. Cada uma estará no bloco por um motivo diferente. Beatriz vai mostrar parte do repertório de “Bloco do amor”, seu disco de estreia, misturando sambas e marchinhas de carnaval. Já Cecília é a musa do bloco, e quem já a viu em ação sabe bem o que isso quer dizer. Foi para as filhas — e também a irmã mais velha, Eliana — que Paulinho compôs “Para ver as meninas”, um daqueles sambas de beleza delicada com a marca do compositor. É uma canção de amor entre pai e filhas. Ou, melhor, um samba sobre o infinito.

— Achavam que era sobre qualquer garota, mas não, fiz pras minhas meninas mesmo. Eu sempre gostei de ficar em casa, em silêncio, olhando o movimento delas — diz ele, sentado numa poltrona de sua casa no Itanhangá. — Cada vez mais elas são o meu carnaval.

Carnaval, pelo menos o carnaval na cabeça de Paulinho da Viola, é uma mistura de um monte de coisas, a maior parte delas saída de um ponto distante de seu passado. Não que ele seja um saudosista, mas é que é disso — de uma festa que o capturou ainda menino e deixa marcas em tudo o que fez dali em diante — que é feita boa parte de sua alma. Paulinho conheceu o carnaval em Botafogo, onde viveu na infância. O carnaval para ele tem o som seco dos surdos de marcação, da agitação vermelha e branca que se via na passagem do Bloco da Chuva pela Real Grandeza, dos desfiles assistidos do meio-fio na rua Arnaldo Quintela, das melodias criadas por gente como Zorba Devagar e Mauro Duarte, da risada engraçada e dos óculos fundo de garrafa do parceiro Micau, de sair pelas ruas enfiado em um sarongue colorido, da serpentina que grudava no seu pescoço suado, do barulho (plac-plac) dos tamancos batendo no asfalto. Parte disso, de uma forma ou de outra, está no repertório escolhido por Beatriz para seu disco.

— O título ia ser “Samba, amor e carnaval”, mas depois que meu pai compôs “Bloco do amor” eu vi que isso resumia tudo o que eu queria dizer. É a música que fecha o disco — afirma Beatriz Rabello, que já juntava fãs pelo caminho por conta de seus olhos de mar do Caribe e de suas participações em musicais como “Sassaricando”e “SamBRA”. — Eu escolhi algumas músicas que eram referência para mim e também quis lançar coisas novas, tem muito compositor bom por aí. Mas todo o repertório gira em torno do carnaval, uma festa revolucionária.

Ainda assim, ela não está satisfeita com todas as coisas que envolvem a folia:

— Só vou em bloco onde eu possa ouvir a música, dançar a música. Não aguento aquele povo se arrastando pelas ruas com as latinhas de cerveja na mão. Carnaval não é procissão — diz a cantora, 36 anos, que não se esquiva de dar sua opinião sobre a polêmica das marchinhas. — Há muito tempo eu não canto “O teu cabelo”, essa não desce mesmo. Já “Maria Sapatão” e “Mulata Bossa Nova” eu não acho ofensivas, canto na boa, têm cara de bloco animado. O carnaval cura.

O que é cura para Beatriz é febre para Cecília. Ela começou a trabalhar com música fazendo produção para os shows do pai. Pegou na veia. Dali em diante, ao mesmo tempo em que intensificava as aulas de dança e os cuidados com o corpo, se embrenhou pelo mundo do samba e não teve mais como escapar. A Portela, onde foi musa e diretora de eventos, foi uma escola em muitos sentidos. Dali partiu para produzir seus próprios shows, como a bela homenagem a Candeia, ano passado no Circo Voador, e as apresentações do Samba da Ouvidor. Não para quieta. Quando fica na dúvida entre os caminhos que tem que seguir, recorre ao seu timoneiro particular, o mar que a navega:

— Eu tenho o jeito quieto dele, meu pai é um cara que não consegue ter privilégios — diz Cecília, 37 anos, um “Da Viola” tatuado no pulso esquerdo. — Se a gente deixar, ele passa o dia inteiro na oficina, sozinho, trabalhando em silêncio.

A oficina de marcenaria de Paulinho é um mundo à parte. Apesar da aparente desorganização, ele sempre vai saber onde está cada coisa. A chave alemã que ganhou de um admirador na Rua do Senado. Os tacos de sinuca que ele mesmo desenha. A marchetaria para enfeitar um cavaquinho em que trabalha há meses. A tupia para fazer o entalhe perfeito. Paulinho gosta de comprar máquinas usadas para desmontar e remontar de seu jeito. Ri dele mesmo quando conta isso. No alto da prateleira está um rádio do tipo antigo, invariavelmente sintonizado na Rádio Ministério da Educação (é, Paulinho, que não usa internet nem para enviar e-mail, é do tipo que chama a Rádio MEC de Rádio Ministério da Educação). Foi ali que encontrou uma de suas grandes paixões.

— Eu estava trabalhando aqui mesmo na oficina e de repente entrou uma ária de “Lucia di Lammermoor”, de Donizetti, com a Maria Callas. Não sosseguei até arranjar o disco com a gravação — lembra Paulinho.

Uma biografia de Callas é destaque na mesa de centro na sala. Está ao lado de um álbum com fotografias de Pixinguinha, outra de suas paixões. Pelas paredes da sala de sinuca, fotos emolduradas em que aparece ao lado de gente como Vinicius de Moraes, Cartola, Zé Keti, Elizeth Cardoso, Elton Medeiros. Apesar de reverenciar os mestres dos antigos carnavais, Paulinho é crítico quanto ao politicamente incorreto de algumas marchinhas:

— Com “Seu cabelo” Lamartine foi infeliz. É de um outro tempo, claro, mas hoje não dá pra relativizar. O mundo inteiro está estranho. O racismo anda se revelando de outra forma, mais dura, e aí a coisa muda de figura.

Mesmo discordando de algumas de suas músicas, Lamartine tem lugar na coleção que Paulinho mantém em uma discoteca construída num anexo da sala. Nas prateleiras mais acessíveis, pistas do que ele pode estar ouvindo: Mozart, Bach, Aracy de Almeida, Elza Soares, António Zambujo e um compacto com os sambas das escolas do segundo grupo de 1979. Arranco, Arrastão, Caprichosos, Tupi de Brás de Pina. Resquício do pré-Sambódromo.

— Eu gostava mais antes, sabe? Gostava de entrar na Avenida e ouvir o público cantando bem ali pertinho. Às vezes, quando não gostavam, eles vaiavam também, mas faz parte, né? — comenta o compositor. — O Darcy Ribeiro e o Oscar Niemeyer, que bolaram o Sambódromo, são dois gênios, mas nunca tinham visto um desfile de escola de samba na vida. Botaram o povo lá no alto, distante dos componentes. Isso não ficou legal.

O Sambódromo é apenas mais um item em um rol de implicâncias atuais do compositor. Internet, tamborins acelerados, barulho no trânsito, pessoas viciadas em redes sociais, falta de tempo para se aprofundar nas coisas que realmente interessam.

Por isso, ele tem sentido cada dia mais prazer em simplesmente ficar em casa, olhando a dança dos galhos nas árvores de seu jardim. “Sair pra quê?”, pergunta rindo.

— Vou te dizer, às vezes me dá vontade de sair pela Avenida das Américas fotografando vários prédios desses modernos que construíram por toda a Barra e depois fazer um concurso para eleger o mais feio. Vai ser difícil de escolher, viu?

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Crime custa US$ 91,38 bilhões ao ano para o Brasil

RIO - O custo do crime e da violência no Brasil alcançou US$ 91,38 bilhões em 2014 (cerca de R$ 258,3 bilhões), ou 3,78% do PIB daquele ano, segundo estudo divulgado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Esse valor representa mais da metade (53%) do custo total com crime e violência na América Latina e no Caribe — de US$ 171,78 bilhões, o equivalente a 3,55% do PIB da região — ou duas vezes mais que a média dos países desenvolvidos. O levantamento é o primeiro a avaliar o gasto com a violência em 17 países e tem um capítulo sobre o Brasil.

— Para avançar, é preciso investir em prevenção social ao crime, agregando ações em diversas áreas, como educação, cultura e saúde, além da segurança, e melhorar a eficácia policial. No Brasil, num cenário de recessão e crise fiscal, é mais urgente trabalhar priorizando as áreas de mais altos índices de violência e faixa etária e grupos mais atingidos, como jovens e negros — ponderou Dino Caprirolo, especialista em segurança do BID. — Os países que mais têm despesas com prisões não são necessariamente os com menos violência.

Para calcular o valor, o banco utilizou uma metodologia contábil e outras duas adicionais, considerando custos diretos com segurança pública e privada e alguns indiretos, como o da renda de trabalho não gerada por detentos. Laura Jaitman, coordenadora de pesquisa na área de Segurança Cidadã e Justiça do BID, destaca que é preciso entender a dimensão de um gasto da ordem de 3% do PIB na América Latina e Caribe.

— Isso equivale à mesma fatia do PIB da região dedicada a investimentos em infraestrutura. Se esse custo for reduzido à metade, dá para ampliar em 50% o que se investe no setor — explicou ela, dizendo que o gasto equivale ainda à renda dos 30% mais pobres da região.

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No estudo “Os custos do crime e da violência: novas evidências e constatações na América Latina e Caribe”, a região aparece como a mais violenta do mundo, excluindo zonas de guerra. Embora represente 9% da população global, tem perto de um terço das vítimas de homicídios no planeta. Essas estatísticas se refletem em robustos custos com encarceramento. Entre 2010 e 2014, US$ 6,5 bilhões foram gastos ao ano apenas para manter ou construir prisões na região. O impacto na economia mais do que dobra de valor ao considerar o quanto os presos deixam de gerar em renda: US$ 7,3 bilhões anuais.

— O Brasil é o quarto país do mundo em população encarcerada. Faltam medidas para reduzir esse número e ressocializar presos, resultando na crise do sistema prisional — disse Caprirolo.

BRASIL EM 5º NA REGIÃO

Entre os 17 países avaliados, o Brasil está na quinta posição em fatia do PIB engolida pelos custos do crime, atrás de Honduras (6,51%), El Salvador (6,16%), Bahamas (4,79%) e Jamaica (3,99%). O estudo pode ajudar a melhorar a aplicação de recursos e as políticas preventivas e de controle da criminalidade.

— No Brasil, o custo do crime varia entre as regiões, estados e municípios de forma tão contrastante quanto entre países da América Latina e Caribe. Alguns gastam três vezes mais que outros — afirmou Laura.

Os gastos com vigilância privada, tanto por empresas quanto por famílias, no Brasil chegam a 48% do custo total do crime, o que mostra uma falta de confiança na atuação do governo em segurança.

Outra questão é a alta taxa de homicídios, equivalente a 50% do registrado na América Latina e Caribe. Mas o problema não afeta todos da mesma forma. Pelo IBGE, 53,6% dos brasileiros eram negros e pardos em 2014. No entanto, essas pessoas são 74,58% das vítimas. Já os jovens, 16,3% da população, são 35,7%.

O Sudeste, região mais violenta do país até meados dos anos 2000, vem reduzindo homicídios. Apenas Minas Gerais registrou avanço nas estatísticas entre 2010 e 2014. No Rio, o recuo foi de 32%; em São Paulo, de 67%, e no Espírito Santo, de 12%. Nos dois últimos anos, porém, os números voltaram a subir no Rio.

— As UPPs são exemplo de uma estratégia que surtiu efeitos positivos no controle do crime e da violência. De forma isolada, contudo, não têm sustentabilidade. Precisa haver ações educacionais agregadas — ressaltou Caprirolo.

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Sobrepeso e obesidade em alta no Brasil, diz ONU

RIO - A obesidade e o sobrepeso vêm aumentando no Brasil assim como em toda a América Latina e Caribe, com um impacto maior nas mulheres e uma tendência de crescimento entre as crianças, aponta relatório conjunto da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) divulgado recentemente. De acordo com o levantamento, intitulado “Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe”, mais da metade da população brasileira está com sobrepeso e a obesidade já atinge a 20% das pessoas adultas no país, enquanto 58% da população latino-americana e caribenha estão com sobrepeso, num total de 360 milhões de pessoas, e a obesidade afeta 140 milhões, ou 23% da população regional.

Segundo o documento, elaborado com base em dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o sobrepeso em adultos no Brasil passou de 51,1% em 2010, para 54,1% em 2014. A tendência de aumento também foi registrada na avaliação nacional da obesidade. Em 2010, 17,8% da população era obesa; em 2014, o índice chegou aos 20%, sendo a maior prevalência entre as mulheres, 22,7%. Outro dado do relatório é o aumento do sobrepeso infantil. Estima-se que 7,3% das crianças menores de cinco anos estão acima do peso, sendo as meninas as mais afetadas, com 7,7%.

- O Panorama acende um alerta para toda a sociedade e também para o governo. Ao mesmo tempo em que o Brasil conseguiu superar a fome, alcançando níveis inferiores a 5% desde 2014, quando o país saiu do mapa da fome da ONU, vem aumentando nos últimos anos os índices de sobrepeso e obesidade. Essa situação gera impactos importantes na saúde e deve ser um tema prioritário nas agendas das famílias e das autoridades - afirmou o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, informou que a prevenção é marca da atual gestão da pasta:

- O Brasil vem enfrentando aumento expressivo do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias, e as doenças crônicas são a principal causa de morte entre adultos. O setor da saúde tem importante papel na promoção da alimentação adequada e saudável. Desta forma, o ministério tem reforçado os programas e as iniciativas que buscam mudar o hábito da população e incentivar práticas mais saudáveis.

O crescimento econômico, a urbanização e a mudança nos padrões de consumo são alguns aspectos que explicam o crescente aumento do sobrepeso. O relatório aponta que muitas famílias têm deixado de consumir pratos tradicionais e aumentado a ingestão de alimentos ultra-processados e de baixa qualidade nutricional.

Combater essa realidade implica em adotar sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis que unam agricultura, alimentação, nutrição e saúde. É necessário fomentar a produção sustentável de alimentos frescos, seguros e nutritivos, garantir a oferta, a diversidade e o acesso, principalmente da população mais vulnerável. Isso deve ser complementado com educação nutricional e advertências para os consumidores sobre a composição nutricional dos alimentos ricos em açúcar, gordura e sal.

O relatório, no entanto, também destaca iniciativas adotadas pelo governo brasileiro para promover a alimentação saudável e alertar a população para os riscos da má alimentação. Uma delas é a criação de legislações que regulam a comercialização e a publicidade de alimentos para lactantes e crianças, além de outros alimentos voltados à primeira infância. Também foi citada a campanha “Brasil Saudável e Sustentável”, que tem por objetivo sensibilizar e alertar a população brasileira dos benefícios da alimentação saudável.

Outro avanço é o Plano Nacional de Redução de Sódio em Alimentos Processados, que já retirou 14.893 toneladas de sódio dos produtos alimentícios. O Brasil também contribuiu ativamente para a aprovação da Década de Ação pela Nutrição (2016–2025) – estabelecida na última Assembleia Mundial da Saúde, em maio de 2016 – para promover o fortalecimento das ações na área de nutrição, com foco na Agenda 2030 das Nações Unidas.

Realidade Regional

Ainda de acordo com o relatório, com exceção de Haiti (38,5%), Paraguai (48,5%) e Nicarágua (49,4%), o sobrepeso afeta mais da metade da população de todos os países da América Latina e Caribe, sendo Chile (63%), México (64%) e Bahamas (69%) os que registram as taxas mais altas. Já com relação à obesidade, as maiores prevalências são observadas em países do Caribe: Bahamas (36,2%) Barbados (31,3%), Trinidad e Tobago (31,1%) e Antígua e Barbuda (30,9%). A obesidade também impacta mais as mulheres: em mais de 20 países de toda região, a taxa de obesidade feminina é 10% maior que a dos homens.

- As taxas alarmantes de sobrepeso e obesidade na América Latina e Caribe devem chamar a atenção dos governos da região para criar políticas que abordem todas as formas de fome e má nutrição, vinculando segurança alimentar, sustentabilidade, agricultura, nutrição e saúde - diz Eve Crowley, representante regional da FAO.

Carissa F. Etienne, diretora da Opas, por sua vez, explicou que a região enfrenta “uma dupla carga da má nutrição que deve ser combatida com uma alimentação balanceada que inclua alimentos frescos, saudáveis, nutritivos e produzidos de forma sustentável, além de abordar os principais fatores sociais que determinam a má nutrição”, dando como exemplos a falta de acesso a alimentos saudáveis, à água e saneamento, serviços de educação e saúde e programas de proteção social, entre outros.

Desnutrição infantil cai, mas ainda afeta os mais pobres

De acordo com o Panorama, a região conseguiu reduzir consideravelmente a fome e hoje apenas 5,5% da população está subalimentada, sendo o Caribe a sub-região com maior prevalência (19,8%), devido ao fato de o Haiti ter a prevalência de subalimentação mais alta do planeta: 53,4%.

A desnutrição crônica infantil (altura e peso baixos para a idade) na América Latina e Caribe também registrou uma evolução positiva: caiu de 24,5% em 1990 para 11,3% em 2015, uma redução de 7,8 milhões de crianças.

Apesar desse importante avanço, atualmente 6,1 milhões de crianças ainda sofrem de desnutrição crônica na região: 3,3 milhões na América do Sul, 2,6 milhões na América Central e 200 mil no Caribe. Destas, 700 mil crianças sofrem com desnutrição aguda, sendo 1,3% menores de cinco anos.

Praticamente todos os países conseguiram melhorar a nutrição das crianças, mas cabe destacar que a desnutrição afeta mais a população mais pobre e de áreas rurais.

- São nesses locais que os governos devem concentrar os esforços - salienta Eve Crowley.

As prevalências mais altas de desnutrição crônica infantil na região são registradas na Guatemala (2014-2015), e Equador (2012-2013), já o Chile e Santa Lúcía têm as menores taxas. A desnutrição crônica apresenta níveis superiores em áreas rurais de todos os países analisados.

Aumenta o sobrepeso infantil

No outro lado da questão, o relatório aponta também que na América Latina e Caribe 7,2% das crianças menores de cinco anos estão com sobrepeso, o que representa um total de 3,9 milhões, sendo que 2,5 milhões moram na América do Sul, 1,1 milhão na América Central e 200 mil no Caribe.

As taxas mais elevadas de sobrepeso infantil entre 1990 e 2015 foram registradas – em números totais – na América Central (onde a taxa cresceu de 5,1% para 7%). O maior aumento na prevalência foi registrado no Caribe (cuja taxa aumentou de 4,3% a 6,8%). Já na América Sul – a sub-região mais afetada pelo sobrepeso infantil – houve uma leve diminuição de 7,5% para 7,4%.

Melhorar a sustentabilidade da agricultura

Outra preocupação levantada no relatório é melhorar a sustentabilidade da agricultura na região. Segundo o levantamento, a trajetória atual de crescimento da produção agrícola é insustentável devido, entre outros fatores, às graves consequências impostas aos ecossistemas e recursos naturais da região.

- A sustentabilidade da oferta alimentar e sua diversidade futura estão sob ameaça, a menos que mudemos a forma como estamos fazendo as coisas - alerta Eve Crowley, destacando que 127 milhões de toneladas de alimentos se perdem ou são desperdiçados anualmente na América Latina e Caribe.

Segundo a FAO e a OPAS, é necessário tornar mais eficiente e sustentável o uso da terra e dos recursos naturais, melhorar as técnicas de produção, armazenamento e transformação e processamento dos alimentos, e reduzir as perdas e os desperdícios de alimentos para assegurar o acesso equitativo dos mesmos.

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Brasil está em 30º em ranking de desenvolvimento inclusivo

DAVOS - O desenvolvimento de uma economia não pode ser medido apenas distribuição de renda entre sua população. Ele também precisa considerar outros aspectos como o acesso das pessoas a educação, serviços, emprego, intermediação financeira, proteção social e patrimônio. Com base nessa premissa, o Fórum Econômico Mundial (WEF) de Davos, na Suíça, divulgou, nesta terça-feira, o novo “Relatório sobre Desenvolvimento e Crescimento Inclusivos”. O documento traz um ranking de 109 países com base nesses indicadores e também nos efeitos que problemas como a corrução trazem para a qualidade de vida dos cidadãos.

DAVOSO Brasil aparece em 30º na lista dos 79 países em desenvolvimento observados, atrás de outras economias como Argentina (11º lugar), Venezuela (26º lugar) e México (29º) . Isso porque embora tenha uma renda per capita mais elevada, a desigualdade faz o país perder posições. “Alguns países têm um ranking de Desenvolvimento maior que sua renda per capita, o que sugere que eles fizeram um bom trabalho em tornar seu processo de crescimento inclusivo. Isso inclui, por exemplo, Camboja, República Tcheca, Nova Zelândia, Coreia do Sul e Vietnã. Em contraste, outros têm um índice significativamente mais baixo que sua renda per capita, indicando o contrário. Isso inclui Brasil, Irlanda, Japão, México, Nigéria, África do Sul e Estados Unidos” diz o documento.

No caso brasileiro, se o critério de avaliação fosse apenas o crescimento econômico, ele ocuparia a 9ª posição. No entanto, quando se observa apenas o critério da desigualdade, o país despenca para a 42ª colocação. Entre os emergentes, os três líderes no ranking são Lituânia, Azerbaijão e Hungria. Já os desenvolvidos têm no topo Noruega, Luxemburgo e Suíça.

De acordo com o documento, 51% dos países analisados viram seu índice de Desenvolvimento Inclusivo cair nos últimos cinco anos, o que comprova que os governantes têm dificuldades em fazer com que o crescimento econômico se transforme em progresso social.

— Existe um consenso global de que o crescimento inclusivo foi muito mais teórico do que prático. Para responder de maneira mais eficiente a problemas sociais, a política econômica precisa de reformas estruturais e também que ministros de finanças priorizem a inclusão tanto quanto a política macroeconômica tradicional — afirmou Richard Samans, um dos autores do documento.

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Criação de filhos pelo mundo é filão editorial e objeto antropológico

RIO - O livro “Crianças dinamarquesas”, que acaba de chegar às prateleiras no Brasil, tem um antecessor de peso no mercado editorial, também do selo Fontanar, da Companhia das Letras: “Crianças francesas não fazem manha”, da jornalista americana Pamela Druckerman. Lançado no Brasil em 2013, o título figurou por várias semanas nas listas dos mais vendidos no país — e, segundo dados da Nielsen, já é considerado um “long seller”, devido ao grande volume de vendas por um longo período. O livro teve uma média mensal de 1.700 exemplares vendidos nos últimos três anos. links filhos

Pamela apresenta um limite conhecido como “cadre”, em que a crianças francesas têm autonomia e liberdade até um certo limite — além dele, permanece a autoridade dos pais. A ideia de um balanço possível entre necessidades dos pais e da criança pareceu encantar o mundo, e deu fôlego para que a jornalista publicasse mais dois livros sobre o assunto.

Além dos livros sobre a criação de filhos na França e na Dinamarca, há também, no exterior, títulos sobre as “crianças mais felizes do mundo”, que seriam as holandesas, segundo “The happiest kids in the world”, de Rina Mae Acosta e Michele Hutchison; e até aqueles que trazem aspectos globais da educação, como “Parenting without borders”, de Christine Gross-Loh. Na Amazon, livros na categoria “Pais e relacionamentos” somam mais de 220 mil.

Formas de educar pelo mundo têm sido o objeto de pesquisa, desde a década de 1970, para a antropóloga americana Sara Harkness, da Universidade de Connecticut. Junto com o marido, também pesquisador da universidade, Sara morou por anos em países como Holanda e Quênia — onde nasceu, inclusive, a primeira dos quatro filhos do casal— em busca de diferentes modelos culturais para a criação de crianças. A eles, o casal deu o nome de “etnoteorias parentais”.

— São exemplos em que um grupo compartilha ideias sobre o lugar dos pais, dos filhos, da família, do desenvolvimento... E muitas delas são implícitas, mas estão em situações como: quando o bebê chora à noite, você o pega no colo logo? Ou volta a dormir, deixando-o chorar? — exemplifica Sara, ressaltando, porém, que seu trabalho não busca generalizar características de países. — Existe um contraste muito grande entre culturas em questões por exemplo como segurar bebês no colo. Há, na Coreia e na África, por exemplo, uma forte ideia de que bebês devem ser segurados no colo bastante, estar fisicamente próximos. Outro ponto que traz bastante diferenças culturais é o planejamento do sono: alguns grupos acreditam que as crianças devem dormir perto da mãe, mas em países como nos Estados Unidos, outros defendem que os bebês devem ficar em camas e quartos separados.

Nuances como estas, e outras até mais surpreendentes, estão no documentário francês “Bebês”, do diretor Thomas Balmès, que acompanhou a vida de quatro bebês, por um ano, na Mongólia, Namíbia, Estados Unidos e Japão.

Para Sara, o interesse de pais por produtos que retratam as diferentes formas de educar pelo mundo correspondem ao intenso processo de globalização:

— Em época de rápidas transformações sociais, as pessoas estão confiando menos no que elas aprenderam durante seu próprio crescimento.

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Copa Africana começa em país em turbulência política e com estrelas do futebol europeu

Não será no mesmo clima de euforia e união em apoio ao time que o Gabão voltará a organizar uma Copa Africana de Nações. Cinco anos depois da grande festa que ajudou a empurrar o time da casa até as quartas de final, o país abre neste sábado a 31ª edição do torneio com problemas dentro e fora de campo. O jogo contra a estreante Guiné-Bissau será às 14h (de Brasília), no estádio L'Amitié, em Libreville.

ÁFRICA 13-01

O Gabão da estrela Aubameyang estreia na competição com um técnico que tem pouco mais de um mês de trabalho. O espanhol José Antônio Camacho, ex-treinador de Real Madrid e Benfica, assumiu o comando do time no lugar do demitido Jorge Costa, mas já foi ameaçado de demissão depois que reclamou da formação de sua comissão técnica. A princípio, porém, o contrato é de dois anos e com dois objetivos: tentar fazer a seleção conquistar o seu primeiro título africano e classificá-la para a Copa do Mundo de 2018. O vencedor da Copa Africana, aliás, terá a sua primeira experiência nos gramados russos na Copa das Confederações de junho.

- Fiz a escolha certa em escolher a África (ao invés da França) e mal posso imaginar como será se vencermos a Copa Africana em casa - disse o artilheiro do Borussia Dortmund, nascido em Laval, e que chegou a defender a seleção francesa sub-21 antes de decidir jogar pela equipe que seu pai, Pierre Aubameyang, foi capitão na Copa Africana de 1994.

Mas é fora do campo que o Gabão vive seu momento mais turbulento. Depois da controversa reeleição do presidente Ali Bongo em agosto do ano passado, o país mergulhou em violentos protestos e confrontos com a polícia que chegou a causar a morte de três pessoas, segundo o governo. Mas a oposição diz que mais de 50 pessoas teriam morrido.

Tudo começou depois que Bongo, que comanda o país desde 2009, foi reeleito com uma diferença de apenas 5.594 votos. A oposição comandada por Jean Ping alegou que houve fraude e corrupção na eleição e não aceitou o resultado. Os protestos começaram e levaram o governo a prender centenas de manifestantes, vetar o acesso às redes sociais e suspender o visto de jornalistas estrangeiros. Diante dos problemas, a Confederação Africana de Futebol (CAF, na sigla em inglês) cogitou mudar a sede do torneio para o Marrocos, que receberia a competição em 2015, mas desistiu por conta do medo do ebola.

No fim, a sede foi mantida e o clima parece controlado, embora haja o temor de que Port-Gentil, uma das quatro sedes do torneio, possa ser usada como uma plataforma da oposição. O Gabão, porém, só jogaria lá em uma eventual disputa de terceiro lugar. Mas é impossível prever qual será a reação da população se Ali Bongo aparecer em algum estádio. Desde que conquistou sua independência da França na década de 60 do século passado, o Gabão teve apenas três presidentes. E Ali só está no comando atualmente porque o seu pai, Omar Bongo, faleceu em 2009 depois de quase 42 anos no poder.

SEM JOGAR

Dentro de campo, porém, Aubameyang e cia não querem saber de política. Cabeça de chave do grupo A, o time também conta com o meia Lemina, da Juventus. O primeiro desafio é a seleção estreante do torneio. Ex-colônia portuguesa até a década de 70, Guiné-Bissau sonha em repetir o feito da seleção de Cristiano Ronaldo na Euro e surpreender numa chave que ainda conta com Camarões e Burkina Faso. As duas equipes também se enfrentam neste sábado, às 17h, em Libreville, num jogo em que Camarões mais uma vez estará desfalcado. Na eterna guerra de seus atletas com o comando do futebol local, sete jogadores desistiram de disputar a competição. Entre eles, Matip, do Liverpool, e Choupo-Moting, do Schalke 04.

Treze dos 23 jogadores de Guiné-Bissau atuam no futebol português, mas somente em times de menor expressão. Nenhum deles tem o talento de um Ronaldo. Mas há na seleção um candidato a Éder, português nascido em Bissau que fez o gol do título da Euro. Trata-se do meia Zezinho, do Levadiakos, da Grécia. Ele será o responsável por liderar em campo a equipe do técnico Baciro Candé. O time, contudo, vem de um período de inatividade. Desde a classificação para o torneio, Guiné-Bissau não conseguiu fazer sequer um amistoso. Já são quatro meses sem jogar.

DIFERENÇAS COM A EUROPA

Se a Eurocopa é marcada pela organização, estádios com o torcedor próximo do campo e seus gramados perfeitos, o cenário da Copa Africana é bem diferente. Quase sempre se vê estádios com alambrados, piso de cimento e sem cadeiras, aquele clima de alçapão e gramados esburacados que fazem a bola quicar como se estivesse viva. O que não muda é a paixão do seu torcedor, sempre dançando e cantando nas arquibancadas. Além das já folclóricas imagens de “feitiçaria”.

As diferenças no futebol só refletem as dificuldades vividas pelo continente africano. Dos 16 países que participam do torneio, apenas dois tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado alto: Argélia e Tunísia, respectivamente, 83ª e 96ª no ranking do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento da ONU. O IDH é calculado a partir de dados de riqueza, alfabetização, educação, esperança de vida e natalidade dos países. Dez deles têm um desenvolvimento humano baixo. Em 110º lugar no ranking de 188 países, o Gabão é considerado um país de desenvolvimento humano médio. O país tem na exploração de petróleo a sua principal fonte de riqueza, mas a população permanece majoritariamente pobre. Os 20% mais ricos ganham 90% do dinheiro que circula no país. Um terço dos quase 1,5 milhão de habitantes vive na pobreza.

Outro dado que explica a dificuldade africana é o Índice Ibrahim de Governança Africana, divulgado anualmente pela Fundação Mo Ibrahim e que avalia os progressos no continente nos campos político, econômico e social. Numa escala que vai até 100, a nação de maior nota entre as que estão na competição é Gana (63,9). O Gabão tem uma nota 48,8, menor do que a avaliação do ano anterior.

Este cenário de dificuldades é conhecido por 109 dos 368 jogadores do torneio que ainda atuam no continente africano. Mas as grandes estrelas são mesmo os europeus. Entre os 238 atletas que atuam no continente (64,6% dos jogadores da Copa Africana), há nomes como o argelino Mahrez, eleito o melhor jogador africano do ano passado, o senegalês Sadio Mané, um dos destaques do Liverpool, e o egipcio Salah, da Roma. A Inglaterra, aliás, perdeu 37 jogadores para a competição. Número só inferior à França, que cedeu 57 atletas. Vários podem ficar até 23 dias longe de seus clubes.

Pior para o Leicester City. Em 15º lugar na Premier League, o atual campeão inglês perdeu três jogadores em um momento que está brigando contra o rebaixamento. Além de Mahrez, o centroavante Slimani defenderá a Argélia, enquanto Amartey jogará por Gana. Hull City, Stoke City, Watford, Sunderland, Norwich, Arsenal, Bournemouth, Manchester United, Everton, West Ham e Crystal Palace também terão que conviver com desfalques de maior ou menor importância.

Do Crystal Palace virá a maior esperança dos atuais campeões. Depois das despedidas de Drogba e Yayá Touré e com a lesão de Gervinho, a esperança de gols recai sobre Wilfried Zaha. Caberá a ele e Kalou, do Hertha Berlin, tentarem conduzir a seleção ao inédito bicampeonato em um torneio com as importantes ausências da Nigéria e da África do Sul.

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Papa condena ataques radicais islâmicos: ‘Loucura homicida’

CIDADE DO VATICANO — O Papa Francisco classificou a violência militante islâmica como “loucura homicida” nesta segunda-feira, e disse que líderes mundiais devem melhorar as condições sociais precárias que estimulam o fundamentalismo e a radicalização.

Diante de diplomatas de mais de 180 países, o Papa também reiterou um pedido pela proibição de armas nucleares, dizendo que experimentos conduzidos pela Coreia do Norte para construir mísseis de longo alcance arriscam desencadear uma nova corrida armamentista nuclear.

Francisco, em seu discurso anual sobre “o estado do mundo”, também falou da necessidade de defesa da unificação europeia, assim como maior unidade na luta contra as mudanças climáticas.

O Pontífice argentino, de 80 anos, reservou suas palavras mais duras para condenar a onda de “terrorismo inspirado por fundamentalismo” em 2016, listando ataques de militantes islâmicos na Europa, na África, na Ásia e nos Estados Unidos.

— Tristemente, temos consciência que até mesmo hoje em dia, a experiência religiosa, em vez de fomentar uma abertura em relação aos outros, pode às vezes ser usada como pretexto para rejeição, marginalização e violência — disse ele na Sala Régia do Vaticano. — Estamos lidando com uma loucura homicida que utiliza o nome de Deus em vão para disseminar morte, em busca de dominação e poder. Então eu peço para que todas as autoridades religiosas se unam a mim em reafirmar um pedido inequívoco de que ninguém pode matar em nome de Deus.

Francisco disse que a violência inspirada pela religião é fruto de uma pobreza espiritual profunda, e frequentemente está ligada a significante pobreza social.

— Isso pode ser derrotado totalmente apenas com a contribuição conjunta de líderes religiosos e políticos — advertiu.

O Papa pediu a líderes de governos “políticas sociais adequadas de combate à pobreza” e investimento em educação e cultura.

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Especialistas explicam como lidar com as contas de início de ano

SÃO PAULO E RIO - Em janeiro, tão certa quanto a onda de calor é a chegada de um monte de contas extras para pagar. Além dos impostos referentes a imóveis e veículos (IPTU e IPVA), é hora de comprar o material escolar e já pensar na renovação do seguro do automóvel. Passar por esse período sem ferir a saúde financeira requer planejamento detalhado, sobretudo em um momento de recessão. Alguns cuidados, no entanto, podem garantir um começo de ano sem novas dívidas e com a tranquilidade de uma conta corrente tão azul quanto o mar do Caribe.

A situação é mais confortável para quem consegue guardar parte do 13º salário para fazer frente a esses gastos. Se o seu caso não é esse, é preciso evitar a qualquer custo duas situações: deixar de pagar alguma conta, como o cartão de crédito, para pagar à vista os tributos e aproveitar o desconto dado por prefeituras e estados; ou tomar um empréstimo para aproveitar o desconto.

— O ideal é já ter reservado o dinheiro para essas despesas, já que, em geral, o orçamento mensal não comporta esses gastos extras — diz Ricardo Figueiredo, analista do fundo de pensão Funcesp.

finanças-pessoais09-01Mesmo para quem tem dinheiro para pagar à vista, fazer as contas também é necessário: o desconto tem de ser maior do que deixar esse dinheiro aplicado. Figueiredo afirma que, em média, o desconto tem de ser superior a 0,7% ao mês para compensar. Ou seja, para um imposto que pode ser parcelado em dez vezes, o desconto deve ser em torno de 7%. Se for menor que isso, é melhor aplicar os recursos e ir sacando mensalmente o valor da prestação.

— Em relação aos tributos, o ideal é pagá-los à vista, pois sempre são oferecidos bons descontos. No entanto, via de regra, o parcelamento de tributos possui baixas taxas de juros, o que pode aliviar uma situação em que há outros compromissos. É preciso sentar e fazer as contas — afirma o educador financeiro Rafael Seabra, do site Quero Ficar Rico.

Para quem não tem os recursos, a sugestão é cortar outras despesas, como reduzir o plano de TV paga ou celular. Tudo para que esses tributos caibam no orçamento e não seja necessário pegar um empréstimo. Além do custo elevado de um crédito pessoal, cuja taxa está em torno de 4% ao mês, o consumidor ficará com o orçamento ainda mais apertado e com risco de não honrar todos os compromissos.

No caso dos gastos com material escolar e seguro de veículo, a dica é pesquisar, para encontrar o menor preço, e reciclar o que for possível. Vale aproveitar as feiras de troca de livros oferecidas por algumas escolas, usar a mesma mochila do ano passado ou até formar grupo de compras com outros pais de alunos: comprando em maior quantidade, é possível negociar descontos.

— A economia pode ser tão boa na compra desses materiais que já vai ser equivalente a uma boa aplicação financeira — garante Carlos Eduardo Eichhorn, superintendente de gestão de recursos da Mapfre Investimentos.

Rodrigo Bussab, consultor financeiro e sócio do site Up My Money, concorda com Eichhorn. E faz uma recomendação extra para pais que criarem grupos em redes sociais:

— Eles precisam eleger alguns dos pais para decidir quem vai fazer pesquisas nas papelarias. Nas lojas mais baratas, eles devem chegar dizendo que representam um número expressivo de país e pedir desconto pela compra coletiva.

LIVROS DIDÁTICOS: TROCA EM VEZ DE COMPRA

Hebe Veiga, de 43 anos, pretende economizar 50% este ano nas despesas de material escolar do seu filho João, de 13 anos. Ela vai participar de uma espécie de feirão de troca de livros didáticos que o colégio Mopi vai promover nos próximos dias. Para cada livro usado que doar, Hebe poderá levar para casa outro, desta vez da nova série de João, o nono ano do ensino fundamental.

— Estamos em um momento em que a economia colaborativa é um caminho inteligente que deve ser incentivado. Antes, eu não fazia nada para economizar. No máximo, uma pesquisa de preços, mas os dos livros didáticos costumam ser tabelados — conta Hebe, que calcula gastar cerca de R$ 2 mil com material escolar e uniforme no começo de cada ano. — Os livros que eu não conseguir trocar no feirão, vou procurar na Estante Virtual (portal de sebos online). Comprar livros novos será minha última opção.

Hebe já adotou outros hábitos para reduzir as despesas nos primeiros meses do ano:

— Eu não tenho mais carro, uso a carona solidária. Logo, não pago mais IPVA. Para compensar a conta de luz, que em janeiro e fevereiro duplica por causa do calor, diminuí os planos do celular e da TV por assinatura, e reduzi as visitas da diarista.

Rafael Seabra observa que a matrícula escolar também pode ser negociada e, nessa hora, a crise é aliada do consumidor:

— Sempre vale apostar no diálogo, mostrar dados sobre inflação. As escolas particulares perderam muitos alunos por causa da crise, é mais interessante para elas manter o aluno, mesmo que tenham de dar desconto, do que perdê-lo.

Carlos Eduardo Costa, consultor do site de Educação Financeira, do banco Mercantil, afirma que é preciso colocar tudo na ponta do lápis para saber se será possível arcar com as despesas.

— Se não pode pagar à vista, é preciso encaixar no orçamento do mês. Empréstimo é a pior opção, porque corre-se o risco de a dívida avançar para o ano seguinte — avalia.

Quem conseguir se organizar para passar por essa enxurrada de gastos de início de ano, os especialistas aconselham a iniciar uma poupança, caso ainda não se tenha uma. O ideal, para quem não tem nada, é começar por investimentos de elevada liquidez, em que o resgate pode ser feito a qualquer momento, e de baixo risco. Os títulos do Tesouro atrelados à Selic e os CDBs de grandes bancos são os mais indicados.

Figueiredo, do Funcesp, lembra que, embora os CDBs de bancos de menor porte paguem um rendimento maior, é preciso considerar que essas instituições podem enfrentar algum problema. Nesse caso, investimentos até R$ 250 mil estão cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). No entanto, o processo de intervenção e pagamento não é imediato, e o investidor pode ficar sem seus recursos caso precise deles para uma emergência.

— É importante desmistificar a ideia de que investimento é coisa para quem tem muito dinheiro. Qualquer pessoa com CPF e conta corrente pode comprar títulos do Tesouro a partir de R$ 30 — lembra Seabra.

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‘Nós vamos acabar com as mordomias’, diz Crivella

RIO - Cuidando dos últimos detalhes para a cerimônia de posse, neste domingo, na Câmara dos Vereadores, após oito anos de governo de Eduardo Paes, o prefeito eleito Marcelo Crivella revisa seu discurso, de cinco páginas, em que deixa clara sua preocupação com as finanças da cidade. Seu maior temor é que a crise do estado, com atrasos nos salários e nos pagamentos aos fornecedores, chegue ao governo da capital. Por isso, entre os 70 decretos que publicará hoje, seu primeiro dia de gestão, numa edição extraordinária do Diário Oficial, um cria uma comissão especial para rastrear os donos dos salários mais altos da administração carioca. Segundo Crivella, “não são poucos” os que recebem uma remuneração acima do limite máximo, que ele chama de “os fura-teto”, somando, além dos vencimentos da prefeitura, os de outras instituições públicas às quais são vinculados. Mas é o município que paga todos. linsgestãocrivella

— Há muitos salários acima de R$ 70 mil. Levei um susto com o número de servidores nessa situação de “fura-teto”. São funcionários que acumularam uma série de vantagens e que ocupam também cargos em conselhos, fundações ou empresas. O salário pode estar abaixo do teto, mas, com as vantagens, a remuneração dobra. O decreto vai prever a proibição de tal situação. Vamos acabar com as mordomias, a parte mais execrável do abuso de poder no país — afirmou.

Segundo ele, as medidas previstas nos 70 decretos serão de ajuste da máquina pública, para reduzir seu tamanho ao máximo.

FILAS NA REDE DE SAÚDE

No setor de saúde, a meta do prefeito eleito é reduzir as filas do Sistema de Regulação (Sisreg) a níveis aceitáveis. Segundo Crivella, há cem mil pacientes esperando atendimento, sendo que cerca de 30 mil aguardam cirurgias de baixa complexidade, justamente as que deveriam ser feitas pela rede municipal. Ele dá como exemplo operações de catarata, vesícula e hérnia inguinal, as mais comuns da fila. A estratégia de seu governo será a implantação do terceiro turno nos hospitais, tanto na rede pública, quanto na conveniada. Outra ideia é firmar acordos com o presidente Michel Temer e o governador Luiz Fernando Pezão, com o intuito de fazer um grande mutirão de cirurgias. Como gargalo no sistema que faz com que a espera seja longa, ele aponta o atendimento nas clínicas da família, que, embora prestem um bom serviço à população, encaminham muitos pacientes para o Sisreg que dependem de exames como, por exemplo, tomografias. Crivella prometeu ainda uma triagem mais rigorosa nas unidades de saúde, para que os casos mais graves sejam atendidos com maior rapidez. Por três vezes, o prefeito eleito citou seu lema de campanha:

— O Rio terá o governo que exigiu nas urnas, que vai cuidar das pessoas.

MAIS VAGAS NA EDUCAÇÃO

Crivella assegurou que vai criar mais vagas em creches e escolas do pré-escolar. Ele citou um levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social, divulgado em 16 de dezembro, que reforçou o motivo para estar preocupado com essa faixa etária. Segundo o estudo, 118.753 crianças de até 6 anos na cidade do Rio vivem abaixo da linha de extrema pobreza (com renda per capita de até R$ 85). O prefeito eleito pretende implantar mais creches e escolas por meio de parcerias público-privadas e lembrou o governo de Belo Horizonte, que fez o mesmo.

CRISE FINANCEIRA

Em época de crise e de orçamento curto, ele disse que vai dar o exemplo e cortar custos, para ter legitimidade ao exigir o mesmo das demais pessoas. Crivella citou a redução do número de secretarias (de 28 atualmente para 12) e da quantidade de cargos (pela metade). Além disso, informou que vem fazendo um apelo a fornecedores, prestadores de serviço e empresários responsáveis pelas obras da prefeitura, para que cortem custos. Para o prefeito eleito, essa é uma maneira de cada um contribuir um pouco sem que isso provoque uma queda na qualidade dos serviços.

— Neste momento, é preciso cortar no lucro e não na folha de pagamentos. Tem que cortar o lucro para vencer a crise. Nós estamos dando o exemplo, cortando secretarias. O Eduardo (Paes) sempre trabalhou com 35. Nos últimos tempos, baixou para 28, e nós teremos 12. Isso exige que cada um faça muito mais com menos. O povo do Rio me chamou na hora da crise. Depois de viver três anos na África e dois anos no sertão, no meio da pobreza, talvez isso seja mais útil agora do que na época da Olimpíada — afirmou Crivella, alfinetando sutilmente seu antecessor, o prefeito Eduardo Paes.

CONTENÇÃO DE GASTOS

Em conversas com seus futuros secretários, Crivella disse ter exigido um levantamento dos gastos de cada pasta e o compromisso de não se criar mais despesas.

— A ordem é não gastar. Não quero que o município do Rio acabe da mesma forma que o estado, com salários atrasados e falta de pagamento a fornecedores. O décimo terceiro do servidor virou uma miragem. Será um desafio que enfrentaremos com fé e sem medo —, disse o prefeito eleito, prometendo que vai ser responsável “ao extremo” para não cometer os mesmos erros.

Segundo ele, o Rio está numa fase diferente da vivida pelo prefeito Eduardo Paes. Crivella ressaltou que a sua principal preocupação é com as despesas da prefeitura. De acordo com suas contas, a folha de pagamento do município é de R$ 16 bilhões e a receita corrente líquida está em torno de R$ 25 bilhões. O prefeito eleito disse que as obras realizadas na cidade — BRTs, túneis, ciclovias e o Porto Maravilha — beneficiaram a população, mas ainda têm restos a pagar.

— Tudo isso foi feito, e o povo se orgulha. Agora, este ano (2016), o tesouro já colocou R$ 400 milhões para pagar aos aposentados. A previsão da Fazenda é que, em 2017, se coloquem R$ 700 milhões. Ainda temos uma queda nas receitas do município, que dizem estar em torno de R$ 2 bilhões. São novos compromissos que chegam. Isso preocupa muito. Por isso, precisamos de austeridade e combater as despesas. Temos que cortar todas as gorduras. Não esperem novas construções pela cidade. Não fui o candidato das promessas e nem serei o prefeito das ilusões — afirmou.

SEGURANÇA NAS RUAS

Crivella destacou que, com a crise, aumenta a insegurança nas ruas. Ele disse que, para combater o problema, pretende adotar a tecnologia de países como Israel, para onde costuma viajar.

— Nas áreas mais próximas do Centro da cidade, pretendemos instalar mais câmeras e fazer com que comerciantes façam o mesmo, para aumentar a proteção ao cidadão. Os pequenos assaltos, como quebrar o vidro de um carro para roubar o que tem dentro, poderão ser captados por esse circuito de segurança. Não haverá a possibilidade de, nesses locais, um caso desses não ser registrado, para depois ser comunicado pela Guarda Municipal à polícia estadual. A ideia é que a gente tenha tudo conectado. Temos que desestimular a criminalidade. Queremos buscar câmeras mais potentes para registrar placas de carros e fisionomias de malfeitores — disse o prefeito eleito.

CORRUPÇÃO

Para ele, há uma relação direta entre os maus exemplos dados pelos políticos e o aumento da criminalidade.

— Não tenho dúvida de que a desorganização da vida política, a corrupção, alavanca a criminalidade. O povo achava que a corrupção era uma cervejinha e não tinha a noção que era de milhões. O mau exemplo vem de cima. Se na cúpula não houver idealismo, espírito público, renúncia, capacidade de sacrifício, nós não vamos progredir de maneira alguma.

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Delator da Odebrecht cita R$ 7 milhões para Cunha (webremix.info)


Famílias brasileiras poderão convidar refugiados para a ceia de Natal

RIO - O Brasil tem de mais de oito mil refugiados reconhecidos e outros 28 mil que ainda estão aguardando reconhecimento. Uma das principais dificuldades que estes estrangeiros enfrentam é a de integração na sociedade. Quem vem de longe se esforça para conseguir um lugar no mercado de trabalho e tenta driblar a saudade de casa buscando acolhimento entre os brasileiros.

- Trabalhava com educação na Colômbia, como professor de assistência social. Ainda tenho muita dificuldade com a língua, mas estou aprendendo o português para poder trabalhar aqui no Brasil. Sinto falta de informações, orientações sobre o que fazer na cidade. Aos poucos, fui conhecendo outras pessoas e sentindo o acolhimento e apoio dos brasileiros - contou Luis Ramirez Escalante, que se mudou de Medellin para o Rio há 1 ano por razões de segurança.

O marroquino Mohammed El Jazouli veio para o Brasil há quatro meses, sem conhecer ninguém. Acolhido por uma igreja de Botafogo, acredita que aqui poderá ter um futuro melhor do que na África. Em busca de um emprego para ajudar a família, que ficou do outro lado do oceano, ele garante que já se sente parte do país.

- Os brasileiros têm um coração muito grande. A gente não se sente como estrangeiro. As pessoas são diferentes, muito legais - disse.

O africano do Gambia Abdou Karim Secka chegou no Brasil há nove meses. Na África, estudava matemática e jogava em um clube da terceira divisão. Assim como Luis e Mohammed, ele quer estruturar a vida no país. Seu sonho é fazer um teste para jogar futebol no Flamengo.

- Não queria ter saído do meu país. Estava estudando, tentando seguir meu sonho de jogar futebol. Meu sonho agora é continuar os estudos e quem sabe virar um jogador aqui no Brasil - afirmou.

Neste Natal, Luis, Abdou e Mohammed vão poder sentir um pouco mais a hospitalidade dos brasileiros e trocar figurinhas sobre as culturas brasileira e dos seus países de origem. Os três foram convidados para participar do projeto "Meu Amigo Refugiado", promovido pelo Migraflix, que promove a integração de refugiados e imigrantes, baseada em workshops culturais e atividades ministradas por eles para brasileiros. A ideia do projeto é mostrar os rostos e as histórias dos refugiados que estão no Brasil. Através de um site, famílias brasileiras poderão convidar um refugiado para participar do Natal na sua casa.

- A ideia de mostrar quem são essas pessoas é gerar empatia. Quando um brasileiro conhece a história de um refugiado de perto, percebe que o refugiado é uma pessoa igual a ele, que tem uma profissão, uma família e muitos talentos. E é isso que quebra o preconceito e abre muitas portas para eles - explica Jonatan Berezovsky, Fundador do Migraflix.

Para promover ainda mais a troca de culturas e experiências, cada refugiado vai levar um prato típico do seu país para a ceia. Luis e Mohammed já sabem como contribuir. O colombiano diz que poderia levar "Hojuelas", doce tradicional servido na celebração natalina do país, enquanto o africano pode preparar uma salada marroquina, prato típico do Marrocos.

Refugiados que quiserem conhecer mais sobre o Migraflix e se inscrever no projeto pode acessar o site http://meuamigorefugiado.com.br/ ou o página no Facebook: https://www.facebook.com/meuamigorefugiado.

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Abertura econômica desproporcional cria diferença de classes em Cuba

HAVANA, HOUGIN E LA ITALIANA — A cubana Melba Olivera, de 73 anos tem um sonho: quer, antes de morrer, conseguir ligar um ventilador para afastar o calor e os mosquitos em sua casa. Hoje ela não pode fazer isso pois onde vive, na comunidade rural de La Italiana, na província de Hougin, em Cuba, não tem energia elétrica. Contraste com o recente crescimento econômico da ilha caribenha, ela é uma das pessoas alijadas desta retomada, que agora amplia a diferença financeira entre os cubanos. Cuba

— Sou revolucionária, viva Fidel! Mas a revolução não chegou até aqui — contou Melba. — Já escrevi quatro vezes para o conselho de Estado em Havana, mas eles sempre respondem que não têm orçamento para puxar a energia até aqui. São poucos metros que precisamos. A única coisa que fizeram foi uma sala de TV comunitária, que funciona com energia solar, mas dizem que não há como colocar este sistema nas nossas casas.

A 600 quilômetros dali, na capital cubana, Carlos, que pediu para não dar seu sobrenome, vive uma vida de relativo luxo. Frequenta cafés, come lagosta e peixe de vez em quando — algo que grande parte dos cubanos não pode fazer — e desfruta de uma vida confortável, com o dinheiro que ganha graças aos seus negócios de turismo. Ele e a mulher alugam quartos em sua casa e são donos de um pequeno restaurante em Havana Velha. O casal também recebe ajuda financeira de parte da família que vive em Miami.

— Já viajei para alguns países e hoje digo que não sinto falta de quase nada aqui em Havana — afirma ele, que tem cerca de 40 anos. — Não gosto de revelar a minha idade, sou vaidoso.

A maior parte dos cubanos comemora a ainda lenta melhoria de vida com as reformas econômicas feitas pelo presidente Raúl Castro. O aumento do turismo — que neste ano está 12% maior que em 2015 —, a permissão para os pequenos negócios e, principalmente, o incipiente descongelamento das relações com os Estados Unidos geram uma crescente movimentação de dinheiro no país que está ajudando a aplacar a pobreza e as graves carências que afetam a imensa maioria dos 11 milhões de habitantes do país. Mas, como em todas as sociedades capitalistas, as oportunidades não são para todos. Uma das razões por trás da Revolução Cubana de 1959, a desigualdade volta a crescer na ilha de Fidel Castro.

VIOLÊNCIA E ROUBO DE CELULAR

Por muitas décadas, o sistema criado por Fidel Castro — cujo funeral de nove dias se encerra neste domingo pela manhã, em Santiago de Cuba — conseguiu enfrentar a forte diferença de classes que havia no governo de Fulgêncio Batista. O problema é que, com a derrocada da União Soviética, a situação da ilha piorou muito e a pobreza acabou dominante entre os cubanos, apesar de a população ter acesso a serviços de saúde e educação universais, gratuitos e com qualidade acima da média das outras nações do Caribe ou da América Latina.

Na fase inicial do regime apenas os principais dirigentes do Partido Comunista tinham melhores condições que a imensa maioria. Depois, com o aumento do êxodo de cubanos pelo mundo, os familiares dos migrantes passaram a ter mais recursos — que recebiam de fora. Mas, nessa fase, ainda não havia quase como usufruir desta situação mais confortável. Agora, este grupo e uma nova parcela da população com acesso ao dinheiro do turismo e do exterior conseguem ter uma vida consumista que começa a se assemelhar com a de outras nações.

Os bons restaurantes e paladares — empreendimentos particulares que têm esse nome por inspiração no restaurante que a personagem de Regina Duarte interpretava na novela “Vale Tudo” — , antes restritos a estrangeiros, agora são cada vez mais frequentados por cubanos. Os nativos da ilha também têm mais acesso a cafés e confeitarias que em nada ficam devendo a países capitalistas. Carros de luxo, como Mercedes, Audi e grandes utilitários esportivos, bem como a internet em casas (ainda ilegal) se tornaram mais comuns. Produtos estrangeiros são comprados de forma mais fácil, principalmente para a nova camada da população que agora sai e volta livremente da ilha.

— Agora já temos uma vida de elite, de socialites — afirmou um argentino que mora em Havana há oito anos e que viveu em diversos países pelo mundo. — E a novidade é que agora os cubanos começam a fazer parte deste grupo, não é mais algo apenas para diplomatas e estrangeiros.

A luta de classes parece voltar por conta disso. A violência motivada pela combinação de falta de oportunidades com a ostentação de bens materiais, tão comum no restante da América Latina, agora está crescendo em Cuba:

— Eles me acertaram com uma pedra e roubaram o meu celular e minha carteira com todo o dinheiro — contou José Falcón Favero, trabalhador por contra própria de 27 anos, em Havana. — A gente não ouvia falar disso no passado, mas no último mês soube de três pessoas que foram vítimas de roubos. Moro em um bairro afastado de Havana. Lá, a diferença entre quem tem contato com estrangeiros e quem vive de seu trabalho é maior.

O dinheiro da retomada, que é visível em Havana, não chega à parte oriental do país, mais rural e pobre. Na capital muitos casarões antigos estão sendo reformados à espera dos aumento de turistas americanos e suas gordas gorjetas em CUC — o peso convertível que é equiparado ao dólar — que devem aumentar ainda mais depois que os primeiros voos diretos entre o país e Havana passaram a ser regulares. Mas no interior a vida segue ao ritmo dos pesos cubanos, moeda oficial, que vale 25 vezes menos.

Trina Fe Dominguéz, de 73 anos, vive no mundo longe dos CUCs. Aposentada, ganha 200 pesos cubanos por mês, o equivalente a 8 CUCs (R$ 28). Ela depende da ajuda do filho para viver e da chuva — na região rural onde mora, a comunidade de Casa Zinc, em Banes, ela precisa da agricultura para complementar a alimentação. Embora se mostre feliz com a revolução, sente a falta de energia elétrica de qualidade. Fez um “gato” junto com os vizinhos, que depois acabou sendo legalizado, mas continua com baixa voltagem e, a todo momento, há apagões. Vive sem água encanada (o caminhão-pipa passa a cada 15 dias) e esgoto.

— A vida está bem, só precisávamos resolver estas coisas e melhorar um pouco a aposentadoria. Se a chuva não vem e não consigo colher aqui, tenho que comprar na cidade, onde é caríssimo — lembrou ela, que tem uma TV em preto e branco em casa e uma geladeira antiga, presentes de amigos da cidade de Holguin, mais turística.

FALTA DE TRANSPORTE ESCOLAR

Sua comunidade também sente a falta de transporte escolar: as crianças do local dependem de carona ou então têm de percorrer de caminhão seis quilômetros por dia para estudar. Mesmo na localidade, a diferença social fica nítida: a única das 13 pessoas do local com um celular é Yaima Saint-Estebán, de 29 anos, que ganhou o aparelho de presente de seu namorado, que vive há oito anos em Miami:

— A sorte é que ele foi legal, conseguiu o visto por questão de unificação familiar, e vem me visitar duas, três vezes por ano. Ele queria morar aqui, o problema é como — afirmou ela.

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Estudantes estrangeiros investem em especializações no Brasil

Mba RIO - Estrangeiros têm cruzado o Atlântico em busca de conhecimento nas instituições fixadas no Rio. E não são poucos. No Coppead/UFRJ, por exemplo, 30% de alunos são estrangeiros inscritos em mestrado (full-time MBA). Circulam pelo campus alunos de Estados Unidos, França, Itália, Alemanha, China, Holanda e África do Sul.

— O mestrado do Coppead chama a atenção dos estrangeiros por ser de um dos raros mestrados gratuitos que rotineiramente figuram nos rankings internacionais de melhores mestrados do mundo — afirma o professor Carlos Heitor Campani.

Na instituição, as aulas são ministradas em inglês e as turmas são mistas, fato que acaba beneficiando os colegas locais.

— Para o nosso aluno brasileiro, isso se torna um atrativo adicional, pois ele tem a oportunidade de usufruir de um ambiente de sala de aula muito mais diversificado. Isto acaba por construir um profissional ainda mais capacitado para o mercado de trabalho, mais apto a lidar com visões e opiniões completamente diferentes das suas — crê Campani.

Essa também é a opinião do professor Antonio Freitas, pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Pós-Graduação da FGV. Ele acredita que o convívio com estudantes de outros países faz com que se compreendam as diferentes culturas, colaborando assim para uma comunidade global estável e sustentável.

— A educação de qualidade, compartilhada entre os povos, implicará em maior produtividade, tornando as empresas e os países mais competitivos e diminuindo a diferença existente entre as diversas populações — afirma.

Neste sentido, ele acredita que, dependendo do comportamento do presidente americano eleito, Donald Trump, a demanda por estudar em escolas brasileiras deverá aumentar.

— A ascensão de Trump poderá ter reflexos nacionalistas, não só nos Estados Unidos, mas também na Europa, Ásia e no Leste Europeu. Apesar das dificuldades da América do Sul, elas são conhecidas e contornáveis, tornando este continente, por ora, um paraíso de tranquilidade, quando comparado com outros continentes — prevê Freitas

A Fundação Getulio Vargas recebe alunos estrangeiros na graduação e nas diversas modalidades dos cursos de pós e mestrado. Só na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV/EBAPE), há 100 estudantes estrangeiros de 28 nacionalidades. Vêm de China, Estados Unidos, Alemanha, Canadá, França, Noruega e Portugal, entre outros países.

Raphael Zündt mora em Lisboa, é alemão e vai terminar o mestrado internacional de Ciência em Gestão em abril da FGV do Rio. Ele participa do programa Double Degree, uma parceria entre a Ebape e a universidade Católica Lisbon.

— A universidade tem uma boa reputação internacional, mas também queria viver uma cultura diferente, fora da Europa. Tinha a opção de ir para Noruega ou Itália, mas optei pelo Brasil por ser um país subdesenvolvido e com algumas dificuldades. Queria viver isso — confessa.

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Artigo: Meu amigo Fidel, que gostava de cosmologia e de boa conversa

Perco um grande amigo. Nosso último encontro foi a 3 de agosto, quando completou 90 anos. Recebeu-me em sua casa, em Havana, e, à tarde, fomos ao Teatro Karl Marx, onde um espetáculo musical o homenageou. Embora tivesse o organismo debilitado, caminhou sem apoio da entrada do teatro à sua poltrona.

Com Fidel, desaparece o último grande líder político do século XX, o único que logrou sobreviver mais de 50 anos à própria obra: a Revolução Cubana. Graças a ela, a pequena ilha deixou de ser o prostíbulo do Caribe, explorado pela máfia, para se tornar uma nação respeitada, soberana e solidária, que mantém profissionais da saúde e da educação em mais de cem países, inclusive o Brasil.

Conheci Fidel em 1980, em Manágua. O que primeiro chamava atenção era sua imponência. Parecia maior do que era, e a farda lhe revestia de um simbolismo que transmitia autoridade e decisão. A impressão era de que qualquer poltrona era demasiadamente estreita para o seu corpanzil. Quando ingressava num recinto era como se todo o espaço fosse ocupado por sua aura. Todos ficavam esperando que ele tomasse a iniciativa, escolhesse o tema da conversa, fizesse uma proposta ou lançasse uma ideia, enquanto ele persistia na ilusão de que sua presença era uma a mais e que o tratariam sem cerimônias e reverências. Como na canção de Cole Porter, ele devia se perguntar se não seria mais feliz sendo um simples homem do campo, sem a fama que o revestia. Certa ocasião, o escritor Gabriel García Márquez, de quem era grande amigo, perguntou se ele sentia falta de algo. Fidel respondeu: “De ficar parado, anônimo, numa esquina.”

Outro detalhe que surpreendia em Fidel era o seu timbre de voz. O tom em falsete contrastava com a corpulência. Às vezes soava tão baixo que seus interlocutores tinham de apurar os ouvidos. E quando falava, não gostava de ser interrompido. Porém, não monopolizava a palavra. Jamais conheci alguém que gostasse tanto de conversar como ele. Desde que não fossem encontros protocolares, nos quais as mentiras diplomáticas ressoam como verdades definitivas, Fidel não sabia receber uma pessoa por 10 ou 20 minutos.

A convite de Fidel e dos bispos de seu país, atuei no resgate da liberdade religiosa em Cuba, facilitado pela entrevista contida no livro “Fidel e a religião” (Fontanar), na qual o líder comunista aprecia positivamente o fenômeno religioso.

Não saberia dizer quantas conversas privadas tive com Fidel. Uma curiosidade é que este homem, capaz de entreter a multidão por três ou quatro horas, detestava, como eu, falar ao telefone. Nas poucas vezes que o vi ao aparelho sempre foi sucinto.

Minhas frequentes viagens a Havana estreitaram nossos laços de amizade. No prefácio que generosamente escreveu para a minha biografia, lançada esta semana pela Civilização Brasileira, Fidel ressalta que defendo Cuba “sem deixar de sustentar pontos discrepantes ou diferentes dos nossos”. Na década de 1980, quando expressei críticas à Revolução, o Comandante frisou: “É seu direito. E mais: o seu dever”.

Todas as vezes que eu o visitava em sua casa, depois que deixou o governo, levava-lhe chocolates amargos, seu preferido, castanhas e livros em espanhol sobre cosmologia e astrofísica. Conversávamos sobre a conjuntura política mundial, a sua admiração pelo Papa Francisco e, em especial, sobre cosmologia. Contei-lhe que ao visitar Oscar Niemeyer, pouco antes de sua morte, este me disse, animado, que toda semana reunia em seu escritório um grupo de amigos para receber aulas de cosmologia. O fato de dois eminentes comunistas se interessarem tanto pelo tema, comentei com Fidel, me fez recordar uma cena do filme “A teoria de tudo”, no qual o intérprete do físico inglês Stephen Hawking, ainda estudante, pergunta à jovem com quem iniciava o namoro: “O que você estuda?” “História”, ela responde, e devolve a curiosidade. Ele informa: “Estudo cosmologia". “O que é isso?”, indaga ela. E ele frisa: “uma religião para ateus inteligentes.”

Tenho para mim que Fidel, aluno interno de colégios religiosos ao longo de dez anos , abandonou a fé cristã ao abraçar o marxismo. De alguns anos para cá deixou-me a nítida impressão de que se tornara agnóstico. Várias vezes me pediu, ao nos despedirmos: “Ore por nós.” Tenho certeza de que Fidel transvivenciou feliz com a sua coerência de vida.

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O fim do passado

Anunciada pelo irmão Raúl na TV estatal, a morte de Fidel Castro, aos 90 anos, ocorrida na madrugada de ontem, é o ponto final na biografia de um dos mais longevos ditadores, e que já havia entrado para a História faz tempo.

Afinal, ficou no poder por mais de 50 anos, transformando Cuba num parque temático a céu aberto de um tipo de regime anacrônico que desaparecera do mapa no final do século passado com o fim da União Soviética, a reunificação da Alemanha, a debacle dos regimes comunistas na Europa Oriental e a adoção de uma espécie de socialismo de mercado na China.

O tempo que passou para todos parecia não passar para Fidel. Verdade que sua capacidade de manter o regime comunista intacto foi ajudada por outro fator: o embargo econômico aplicado pelos Estados Unidos. O isolamento deu ao ditador a oportunidade histórica de aparecer aos olhos da esquerda como um titã capaz de resistir à superpotência, conservando-o — ao lado do lendário companheiro Ernesto Che Guevara — como um ícone mundial. Altares de radicais no Brasil também os veneram.

Embora de forma tardia, os Estados Unidos, por meio de Obama, deram o passo certo da reaproximação com Havana, cidade a que o presidente visitou em março, sendo recepcionado por Raúl, a quem Fidel passou parte do poder, em 2006, devido a problemas de saúde. Mas ficou como eminência parda. A alma autoritária dos ditadores é mais forte que tudo. Roga-se que o novo presidente americano, Donald Trump, não ajude os comunistas reacionários que ainda resistem em Cuba, voltando atrás no que fez Obama. Ao contrário, siga em frente e estimule o novo Congresso, sob controle republicano, a suspender o embargo comercial, o tiro de misericórdia neste stalinismo tropical.

Como ponta de lança da União Soviética no quintal dos Estados Unidos, o regime castrista recebeu bastante do ‘‘ouro de Moscou’’ para conseguir avanços em setores como assistência social, medicina e educação. Também a exemplo dos países comunistas europeus, o esporte teve forte apoio de Havana e se destacou no cenário latino-americano, como vitrine de uma sociedade supostamente superior.

Porém, como era característico nos regimes comunistas, o sistema cubano pode ter acabado com a miséria, mas apenas distribuiu por igual a pobreza, preservando, é claro, uma casta de burocratas e militares bem de vida.

O fim da URSS selou o declínio da ‘‘Revolução Cubana’’, à frente de um país que quase só tinha como produtos de exportação o açúcar — cuja importação era regiamente paga na época soviética —, os famosos charutos e o rum. A ascensão do caudilho Hugo Chávez garantiu a sobrevida do castrismo. A Venezuela passou a fornecer petróleo a preços subsidiados, pagos por Havana com a cessão de médicos, dentistas, assistentes sociais e outros profissionais sem trabalho em Cuba, para atuarem nas missões de cunho assistencialista de Chávez. Também vieram para o Brasil lulopetista. Mas o regime chavista, já sem o seu líder, mergulhou em parafuso, como previsto.

Filho de família abastada, Fidel adotou o marxismo-leninismo na juventude e, aos 32 anos, comandou a vitoriosa revolução que apeou do poder, em 1959, Fulgencio Batista, presidente eleito de 1940 a 1944 e ditador, apoiado pelos EUA, de 1952 a 1959. Em seguida, alinhou firmemente Cuba à órbita da União Soviética, e, com isso, levou o país a se tornar campo de batalha da Guerra Fria. Em abril de 1961, os Estados Unidos buscaram derrubá-lo e falharam. Um exército recrutado entre exilados cubanos e treinado pela CIA tentou invadir a ilha pela Praia de Girón, na Baía dos Porcos, mas foi repelido pelas forças cubanas. Um dia antes, com a invasão iminente, Fidel anunciara, pela primeira vez, o caráter socialista da revolução.

Um ano depois, Fidel aceitou que a URSS instalasse em Cuba, a 100 quilômetros dos EUA, mísseis capazes de transportar ogivas atômicas. A Crise dos Mísseis pôs o mundo à beira da guerra nuclear, só evitada devido a uma certeira cartada diplomática do presidente John F. Kennedy, com reciprocidade do líder soviético Nikita Khrushchev, derrotado no confronto.

A Cuba de Fidel Castro teve papel destacado em tentativas de exportar a revolução, inclusive para o Brasil. Che Guevara, que conhecera Fidel e o irmão Raúl no México, foi quem liderou essas iniciativas. Ele deixou Cuba em 1965 com destino ao Congo-Kinshasa, onde não teve sucesso. Mais tarde se dirigiu à Bolívia com o mesmo objetivo, mas acabou capturado por forças bolivianas, assistidas pela CIA, e terminou sumariamente executado.

Tropas cubanas atuaram na guerra civil de Angola, uma das mais longas (1975-2002) e cruéis da Guerra Fria, com cerca de meio milhão de mortos. Lutaram ao lado do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), apoiado por Moscou e que saiu vencedor. Entre os adversários estava a Unita (União Nacional pela Independência Total de Angola), amparada pelos EUA e pelo regime do apartheid da África do Sul.

O colapso soviético, avalista do regime de Fidel, lançou a ilha numa severa crise que obrigou o ditador a admitir coisas até então impensáveis, como a liberalização do uso de dólares e uma acanhada abertura da economia. Só o carisma de Fidel, aliado a uma severa repressão interna e com a ajuda do embargo americano, permitiu-lhe manter os cubanos sob controle, apesar de todos os rigores a que foram submetidos durante a década de 90, chamada eufemisticamente de ‘‘Período Especial’’.

A saída de cena de Fidel abre para Cuba uma chance óbvia de acelerar o processo de reformas na economia iniciadas de maneira tímida por Raúl, e lançar um projeto de transição rumo à democracia. Morto Fidel, a jornalista cubana Yoani Sánchez, dissidente, registrou no seu blog a existência de uma atmosfera de medo na ilha. “Dias complicados virão’’.

Há sempre o risco, nesses momentos, em ditaduras, de tentativas de golpe por grupos que usufruem do poder. Aqui entra o papel crucial da diplomacia americana e latino-americana, com o Brasil em posição de liderança (ainda bem que já sem simpatizantes do castrismo no Planalto e no Itamaraty). Washington, por exemplo, não pode deixar que os radicais de Miami — exilados cubanos visceralmente anticastristas — pautem suas ações e intenções.

A comunidade latino-americana responsável e a diplomacia multilateral devem atuar como moderadoras entre forças tão díspares quanto os herdeiros de Fidel, os reformistas e os dissidentes do regime, assim como os exilados cubanos.

A morte do ditador e a instabilidade em que se lança Cuba devem, ainda, levar as esquerdas a refletir sobre o saldo final de um regime que imolou as liberdades e outros direitos humanos em nome de uma pretensa justiça social. Está claro que não valeu, e não vale, a pena.

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Raúl Castro: o general presidente que viveu à sombra de Fidel

HAVANA — Por duas décadas encarregado da Segurança e da Defesa durante o governo de seu irmão, Fidel, Raúl Castro deu uma reviravolta inesperada ao substituí-lo em 2006, quando procurou reformar o sistema comunista para salvá-lo do colapso e anos depois conseguiu a histórica aproximação com os EUA.

Sem o carisma de Fidel, mas com habilidade de administrador, Raúl se tornou formalmente o presidente de Cuba em fevereiro de 2008 e primeiro secretário do Partido Comunista (único) em abril de 2011, mostrando à cúpula do poder um pragmatismo que contrastou com sua imagem de homem rígido e implacável.

Foi Raúl quem implementou, na década de 1960, os campos de trabalho para homossexuais e outros malvistos pelo governo, que liderou o fechamento de uma revista de intelectuais em 1971 e que acusou um grupo de acadêmicos de "traidores" em 1966.

Entretanto, agora dialoga com bispos católicos, diminuiu a repressão aos opositores, abre espaço para a iniciativa privada na economia, acabou com diversas proibições que pesavam sobre os cubanos e retomou as relações diplomáticas com os Estados Unidos, após meio século de conflitos.

O general presidente, de 85 anos, procurou reformar o esgotado modelo econômico soviético, mas preservando os pontos principais do sistema: uma maior propriedade estatal e cooperativa, um partido único, além de educação, saúde e cultura gratuitas.

As reformas econômicas irão criar "uma sociedade menos igualitária, porém mais justa", declarou em fevereiro de 2013.

Com voz firme e autoritária, que segundo pessoas próximas contrasta com sua personalidade alegre e afável na intimidade, empreendeu uma batalha contra a corrupção, que levou à prisão dezenas de funcionários e alguns empresários estrangeiros.

Costuma combinar o uniforme militar com a guaiabeira (camisa típica da região do Caribe) e o terno de alfaiataria, e em 22 de fevereiro de 2013 mostrou seu senso de humor ao dizer a jornalistas que iria renunciar.

Em 2015, Cuba e Estados Unidos restabeleceram suas relações, que haviam sido rompidas em 1961. E em março de 2016, Raúl Castro recebeu Obama em uma visita a Havana, onde participaram de uma coletiva de imprensa e assistiram uma partida de beisebol.

Homem de poucas palavras, de discursos lidos e inmigo do improviso, permaneceu impassível diante das críticas da dissidência pela lentidão e pouca profundidade das reformas, e das pressões de setores que exigiam maior velocidade nas mudanças.

"Sem pressa, mas sem pausa", é seu lema.

Filhos e netosRaúl acabou em 2013 com meio século de restrições dos cubanos para viajar ao exterior.

Em 2011 autorizou a compra e venda de casas e automóveis, proibido por décadas, e outorgou créditos a negócios privados como parte de uma de suas reformas, reduzindo o paternalismo estatal.

Como ministro das Forças Armadas desde o triunfo da revolução em 1959 até 2008, Raúl ocupou um posto-chave no período em que Havana apoiava guerrilhas em outros países e participava de campanhas militares na África (Etiópia 1977-1978; Angola 1975-1991).

Após assumir a Presidência, estabeleceu um governo composto por generais e coronéis, ao estilo de uma cadeia de comando militar, afastado de todo personalismo.

Em junho de 2007, enquanto organizava o governo e seu irmão Fidel estava gravemente doente, sua esposa Vilma Espín, companheira desde os tempos de guerrilha, morreu de câncer após anos de tratamento.

Vilma, que faleceu aos 77 anos, foi a verdadeira primeira-dama do regime, dada a personalidade discreta da esposa de Fidel, Dalia Soto del Valle.

Os cubanos, que desconheciam detalhes sobre a vida particular de Fidel, se surpreenderam ao ouvir o novo presidente se referir a conversas com seus netos.

Perplexos, também descobriram que o atlético segurança que seguia seus passos era um dos oito netos de Raúl; e que um de seus quatro filhos era a sexóloga Mariela Castro, que declarou guerra contra a homofobia em Cuba com o apoio de seu pai.

Raúl tem outra dois filhas, Débora e Nilsa, e seu filho Alejandro, coronel do Ministério do Interior, é seu braço direito.

Filho do agricultor galego Ángel Castro e da camponesa Lina Ruz, Raúl é o quarto de sete irmãos e até 2006 viveu atrás de Fidel.

Por iniciativa própria, o partido aprovou em 2012 restringir para 10 anos o tempo em um cargo de direção, limite que para ele se cumpre em 24 de fevereiro de 2018.

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Lula: não estão dando destaque ao apartamento do Geddel como deram ao meu tríplex (webremix.info)


Ganhos de renda podem ser revertidos, diz economista da FGV (webremix.info)


Internet e direitos humanos

Na sociedade global marcada pela produção, distribuição e uso da informação, a internet exerce um crescente impacto num mundo cada vez mais interconectado. Debater o alcance da alfabetização, da mídia, da informação e do diálogo intercultural na era digital foi a temática central do seminário Global MIL Week, realizado de 31 de outubro a 6 de novembro deste ano pela Unesco, em parceria com a USP. Participaram especialistas de diversos países, professores, estudantes, ativistas, empreendedores sociais e gestores públicos. O objetivo da alfabetização midiática e informacional é a capacitação de jovens para o uso crítico de novas tecnologias e produção de conteúdo, sob o prisma da sustentabilidade e da cidadania.

Na esfera global, 3,2 bilhões de pessoas têm acesso à internet — o que representa 43,4% da população global. O universo dos 57% da população off-line — cerca de quatro bilhões de pessoas — concentra-se sobretudo no continente africano. Enquanto 21% da população na Europa não têm acesso à internet (nos países desenvolvidos em geral, cerca de 80% da população estão on-line), na África esse percentual de desconectados alcança 75% da população. Na região da Ásia e do mundo árabe, a população off-line corresponde a 58,1% e 58,4%, respectivamente. Em todas as regiões, constata-se o acesso não igualitário de homens e mulheres à internet, estando as mulheres em situação de desvantagem — essa desigualdade é mais acentuada na região africana, culminando em até 50% na África Subsaariana.

No Brasil, 58% da população têm acesso à internet. Se, em 2014, 50% dos domicílios brasileiros possuíam computador e acesso à internet, em 2005 apenas 17% dos domicílios urbanos tinham computador e 13% dispunham de conexão à rede, segundo a Unesco.

Na atualidade, o Brasil é um dos países do mundo com maior utilização das redes sociais. É o quarto país em número de usuários do Facebook, com 70,5 milhões (e também o quarto em percentagem da população, com 34,5%); e o segundo com maior número de pessoas no Twitter. Em 2015, oito em cada dez crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos eram usuários da internet.

Nesse contexto, a internet surge como instrumento capaz de promover, mas também de violar direitos humanos.

De acordo com o programa Humaniza Redes, lançado pelo Pacto Nacional de Enfrentamento das Violações de Direitos Humanos na Internet, há denúncias relativas à discriminação contra as mulheres; à apologia e incitação a crimes contra a vida; ao racismo; à homofobia; à pornografia infantil; à intolerância religiosa; à xenofobia; ao discurso de ódio; entre outras violações on-line. Ao desafio de enfrentar o cybercrime, somam-se os desafios do direito à privacidade e à segurança na internet.

No Brasil, o Marco Civil da Internet foi aprovado por meio da Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da rede no Brasil. Adota como fundamentos o respeito à liberdade de expressão, os direitos humanos, a pluralidade, a diversidade e a finalidade social da rede. Entre os princípios, destacam-se tanto a garantia da liberdade de expressão como a proteção à privacidade e aos dados pessoais. Gradativamente, com oscilações, cortes nacionais e internacionais têm sido provocadas a delimitar o alcance de direitos e liberdades na era da internet. Ao mesmo tempo, marcos jurídicos têm sido aprovados com a ambição de estabelecer parâmetros, princípios, garantias, direitos e deveres no mundo digital.

Se os avanços da tecnologia da informação e das comunicações podem ameaçar e violar direitos, também têm a potencialidade de promover e fortalecer esses mesmos direitos. Direitos humanos off-line devem ser também protegidos on-line. Daí a relevância de identificar ações, programas e políticas inovadoras e estratégicas para utilizar o potencial digital para a promoção de direitos — foco do seminário internacional da Unesco, que fomentou o diálogo intercultural e o intercâmbio de experiências e práticas inspiradoras e exitosas no acesso à informação, no uso crítico de novas tecnologias e na promoção de direitos na era digital. Na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, os estados-membros reconheceram a importância da expansão das tecnologias da informação, das comunicações e da interconexão mundial, destacando a necessidade de enfrentar as profundas desigualdades digitais e desenvolver as sociedades do conhecimento, com base em uma educação inclusiva, equitativa, não discriminatória, com respeito às diversidades culturais. Na sociedade global da informação, emergencial é incorporar o enfoque de direitos humanos por meio de uma educação e cidadania digitais inspiradas nos valores da liberdade, igualdade, sustentabilidade, pluralismo e respeito às diversidades.

Flávia Piovesan é secretaria especial de Direitos Humanos e professora de Direito da PUC-SP e Lucien Muñoz é representante no Brasil da Unesco

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Bono é o primeiro 'Homem do Ano' da revista americana 'Glamour'

NOVA YORK — O vocalista do U2, Bono, ganhou mais uma homenagem: Ele é o primeiro "Homem do Ano" da revista americana "Glamour". Na terça-feira à noite, a publicação anunciou que o cantor e ativista humanitário será o primeiro homem, em todos os 36 anos da revista, a receber a honraria, concedida junto com a lista de Mulheres do Ano. Bono

Em seu site, a "Glamour" disse que sempre evitou incluir homens na lista porque "a tribo que queremos exaltar é a das mulheres". Entretanto, "quando um rock star que poderia fazer qualquer coisa da vida decide focar nos direitos das mulheres e meninas pelo mundo — bom, é um feito louvável. Temos orgulho em anunciar que esse rock star, Bono, é o primeiro Homem do Ano", completou.

Em 2015, Bono criou a campanha "A pobreza é machista", voltada à assistência das mulheres mais pobres do mundo por meio de um acesso melhor a educação, serviços de saúde e oportunidades de negócios. A iniciativa é da organização ONE, que ele ajudou a fundar em 2004 para combater a pobreza e doenças na África.

Bono agradeceu à revista pelo prêmio por meio de uma nota, em que afirma que "a luta pela igualdade de gênero não pode ser vencida a menos que ela seja encampada por homens, ao lado das mulheres. Grande parte da responsabilidade é nossa, então temos que nos envolver com as soluções. Podemos fazer muito mais do que achamos possível. Os líderes devem prestar contas a todos nós. Se eles não dão o devido amparo a mulheres e meninas, usem seus votos para que eles saiam do governo".

As Mulheres do Ano da "Glamour" são a cantora Gwen Stefani, a medalhista olímpica Simone Biles, as fundadoras do movimento Black Lives Matter, a presidente do FMI Christine Lagarde, a pop star Zendaya, a estilista italiana Miuccia Prada, a ativista de direitos humanos curda Nadia Murad e a modelo plus-size Ashley Graham.

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Perfil Marcelo Crivella: Metamorfose para tentar se descolar da igreja

RIO — Arroz branco. Do tipo que chega à mesa com o fervor da panela. Companheira de Marcelo Crivella há 40 anos, sendo 36 deles de casamento, Sylvia Jane assegura que esse é o prato que não pode faltar à mesa da família, num apartamento do condomínio de luxo Península, na Barra da Tijuca. Acrescenta que o candidato do PRB à Prefeitura do Rio “já foi de massa”. Adora frutas e aprecia músculo com agrião.

Jornalistas lembram do gosto do senador por almoços no Laguiole, no MAM, opção frequente de executivos. “Adega premiada (...), chefe revelação”, apregoa o site do restaurante. Escolhas ecléticas nas preferências de um senador e bispo licenciado descrito por amigos como um agregador, capaz de juntar gente com perfis de ecletismo maior ainda.

O que não varia ou muda, a despeito do esforço para se distanciar em campanha, é a ligação com a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Quando em 1997 entoava “O Perfume Universal que nunca vai acabar”, um dos versos da música que dá nome ao seu primeiro CD, o que Crivella não poderia imaginar é que, passadas quase duas décadas, a canção soaria tão atual.

Perfis

Por mais que reafirmasse em campanha nunca ter sofrido “nenhum tipo de influência de grupos ou líderes religiosos” (texto de seu site oficial), a Universal é onipresente em sua trajetória.

Marcelo Crivella nasceu filho de católicos, em Botafogo, em 9 de outubro de 1957. Mas se tornou evangélico aos 6 anos. Filho único, encontrou na Igreja Metodista apoio para a crise no casamento dos pais, Eris Bezerra Crivella e Mucio Crivella.

Entrou para o Exército na juventude, foi motorista de táxi para financiar os estudos em engenharia. Casou-se com Sylvia Jane, que conheceu na Igreja Pentecostal da Nova Vida. Com ela, desde então, compartilha a convicção religiosa e a vida. Formou-se engenheiro. Sempre firme em sua fé. O fervor religioso já estava lá quando o tio Edir Macedo fundou a Universal em 1977. Nesta, Crivella ingressou, progrediu, se tornou bispo e depois veio a aposta de um projeto político.

Sylvia Jane, com quem Crivella teve três filhos e dois netos, conta que, quando o marido ingressou na política, ela não gostou da ideia de imediato. Depois, diz ter percebido que a política poderia “amplificar”, em suas palavras, “o bem que ele queria fazer”.

Num vídeo no YouTube gravado num encontro com membros da Assembleia de Deus do Rio de Janeiro, provavelmente em abril de 2011, Crivella revela que virou senador em 2002 não por desígnio divino ou vontade própria. E sim por determinação da Universal. Em outro vídeo, de data indefinida, ele defende a importância de um projeto político para os evangélicos e afirma que ainda elegerão um presidente para “trabalhar por nós e nossas igrejas”.

“Devido à repercussão da Fazenda Canaã, fui desta vez enviado para a política. Confesso que naquele instante fiquei triste. Aceitei porque na Igreja Universal você não tem opção. Na Igreja Universal (...) você vai, tem que ir.(...) Segundo ele, percebeu depois de eleito senador a importância da missão que recebera e viu que “estava equivocado”.

A Fazenda Canaã, um projeto social em Irecê, na Bahia, se seguiu aos cerca de dez anos que Crivella passou na África, onde fundou sucursais da Universal. Lá também escreveu “Evangelizando a África (lançado em inglês em 1999, com o título Mutis, Sangomas and Nyangas: Tradition or Witchcraft?”). Hoje esgotado, o livro foi lançado pela Universal no Brasil em 2002.

Álbum de família: Marcelo Crivella

Nele, Crivella afirma que a Igreja Católica e outras denominações cristãs “pregam doutrinas demoníacas”, diz que a Nossa Senhora católica é venerada como “deusa protetora” e que os cultos africanos abrigam “espíritos imundos”.

No mesmo livro, revelado pelo GLOBO, o então missionário considera a homossexualidade “terrível mal” e “conduta maligna”. Após a publicação da reportagem, Crivella pediu perdão pelas colocações “equivocadas” e “extremistas”, “frutos do zelo imaturo da fé” de um jovem missionário. Ele tinha 42 anos. No mesmo ano de lançamento de seu livro no Brasil, foi eleito senador pela primeira vez. Em 2010, foi reeleito para mandato de 2011 a 2019.

Em 2012, com 55 anos, o senador já não tão jovem assim, em outro vídeo (retirado do YouTube em 21 de outubro), voltou a falar da homossexualidade. Desta vez, os gays não teriam mais “conduta maligna”. No vídeo, diz que os homossexuais merecem compreensão porque podem ser resultado de uma tentativa de aborto malsucedida.

Em 2014, na disputa que acabou por perder para Pezão ao governo do Estado do Rio, Crivella mudou o discurso. Dizia ter uma “parente gay” e que respeitava a decisão dela. Na atual campanha (Crivella já foi derrotado outras duas vezes na postulação a prefeito, em 2004 e 2008; e outra em 2006 para governador), foi adiante. Se reuniu com integrantes de movimentos LGBT e se disse favorável à união civil de homossexuais.

Amigos da vida pública, que preferem não se identificar, dizem que Crivella mudou. Um deles afirma não o ver mais como um evangélico extremista. E sim, uma pessoa bem humorada. “Um fanático religioso não poderia ser uma pessoa tão bem humorada. Fanáticos são pessoas em eterna insatisfação”, diz ele, que prefere não se identificar.

Fanático ou não, a fé dá lugar à razão quando o assunto é criacionismo. Ou seja, a rejeição da Teoria da Evolução — um dos pilares da ciência e base da moderna biologia —, fundada em convicções religiosas.

Em 2 de fevereiro de 2009, na tribuna do Senado, ele fez um pronunciamento em que questionava como poderia aceitar a Teoria da Evolução se sequer um fóssil que fosse “metade anfíbio e metade ave ou peixe” tivesse sido descoberto.

Mas Crivella é um político profissional que sabe negociar e tem buscado aliados fora do eixo da Universal. Exemplo é o convite ao cientista político Cesar Benjamin, intelectual de esquerda e ateu, para ser secretário de Educação, caso eleito. Crivella e Benjamin se conheceram em 2007, quando o senador pediu ao cientista que organizasse um curso sobre política.

Benjamin montou um painel sobre História do Brasil. Desde então, colaboraram outras vezes, como no texto do projeto que virou lei e proíbe a polícia de atirar em quem esteja em fuga, a não ser nos casos em que o fugitivo coloca em risco a vida de outras pessoas. (Lei 13.060/14, que disciplina o uso de armas pela polícia).

Quem acompanha o senador menciona a organização na vida diária e os cuidados com a boa forma. A mulher lembra que ele sempre foi atleta e gosta de praticar atividade física. Nem que seja, quando não há tempo, fazer caminhadas pelo condomínio da Barra onde moram. Lá, o senador é popular, conhecido por todos, e as caminhadas, não raro, são interrompidas por conversas com vizinhos e funcionários das lojas do pequeno comércio local.

O cuidado físico se associa à vaidade. Há poucos dias, a esposa do senador revelou num programa de TV que ele fez aplicação de botox para se livrar de inconvenientes pés de galinha.

O senador também é conhecido pelos comentários espirituosos, a capacidade retórica e a facilidade de se aproximar de qualquer pessoa — características da trajetória de pastor e depois, de bispo.

CANTOR E COMPOSITOR GOSPEL

A vida religiosa legou ainda a carreira paralela de cantor e compositor gospel. E dos mais bem-sucedidos do país, segundo ele próprio, que afirma custear seus projetos sociais com a venda dos CDs. O mais recente é “Deus vê”, de 2016. Senador, bispo licenciado e cantor, ele já lançou 14 discos. Alguns polêmicos, como a homenagem ao tio bispo Macedo em 1998, no CD “Como posso me calar?”. Macedo fora preso acusado de charlatanismo. Passou 11 dias atrás das grades, mas o caso acabou arquivado.

Do mesmo CD é a canção “Um chute na heresia”. Nela ironiza o episódio em que o então bispo da Universal Sergio Von Helde, num programa da TV Record, em 1995, chutou uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida e disse que era um boneco feio, horrível e desgraçado. “Se ela é Deus, ela mesmo me castiga”, diz a letra da canção de Crivella. O senador não comentou o episódio com a imagem. Mas pediu perdão a católicos e a outros grupos religiosos. Também repetiu ter deixado a intransigência religiosa e não se orientar pelos interesses da Universal.

Porém, a religião continua a pautar sua vida no entender de pesquisadores. O bordão de campanha “Chegou a hora de cuidar das pessoas” traduz valores que se adequam à religião e remetem à caridade e à bondade tão caras à pregação das igrejas, afirma o cientista político e professor do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF) Pedro Heitor Barros Geraldo:

— A estratégia atual do Crivella naturaliza o fato de que as pessoas precisam de um cuidado tutelar a partir de uma retórica que cabe bem na religião, sugere o bordão da campanha.

O pesquisador é autor do estudo “O senador e o bispo”, no qual analisa a estratégia política de Crivella na eleição de 2004. Hoje, ele diz que as maiores mudanças são na sociedade e não no próprio Crivella:

— O que se transformou foi o contexto político. Na eleição de 2004, a mistura entre religião e política seguiu o enredo da “guerra santa”. Isto é, o uso da religião na política era negativo. No momento, o uso da religião não é percebido negativamente pela sociedade.

De acordo com ele, a religião é vista como uma forma de veicular mensagens políticas e dar visibilidade à reivindicação de reconhecimento por direitos. O espaço de tolerância a essa forma de ação de diferentes grupos religiosos é um pouco maior.

— A religião aparece como um elemento importante nas formas de socialização política dos eleitores. A mistura entre política e religião tem outros contornos e mais aceitação — observa o professor.

E acrescenta que mudou o discurso de Crivella, que ficou mais sofisticado, mas não os interesses. Segundo Geraldo, valores da religião foram incorporados a um discurso secular.

— Crivella é um político profissional competente, bem-sucedido. Tornou uma retórica religiosa numa narrativa secular, o que é um artefato da política profissional. Ele carrega uma ambivalência entre secularismo e religião. Na verdade, o senador nunca se distanciou do bispo.

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uintercontinental-blogspot-comUNI

A UNI é a nova Universidade Privada de Cabo Verde. Em Novembro de 2006 a UNI vai iniciar a sua actividade leccionando em Cabo 2 Cursos de Formação Avançada, um na área da Genética e outro na área da Biologia Celular e molecular.


schoolnetafrica-netSchoolNet Africa

O AEKW é um portal de educação pan-africano que serve os ministérios de educação e as comunidades escolas em conteúdo africano. Este portal de web é um depositório centralizado de recursos educacionais que são pertinentes à diversidade de comunidades de educação africanas à nível local.



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